Como estou a assumir os brancos: cansei-me de pintar o cabelo!

Ter de lidar mensalmente com viçosas raízes brancas é, para muitas mulheres, uma enorme chatice. Para mim foi, até decidir assumir a cor natural e perceber que não é nada fácil… mas vale mesmo a pena.

Dez, 15 anos de colorações feitas no cabeleireiro ou em casa, com tintas compradas no supermercado: a memória já nem regista a primeira vez que pintei as raízes brancas que destoavam dos cabelos castanhos, tão escuros que pareciam pretos.

No início foi-se tornando óbvio que devia tomar uma atitude para “retocar” a natureza, até devido à pressão de alguns amigos. Comentários como “pareces uma velha” ou “olha a freira”, porque os brancos se acumulavam sobretudo na parte superior do rosto, começaram a ser frequentes, ainda que as raízes tivessem poucos milímetros.

Falta de tempo e incapacidade para passar tranquilamente umas horas no cabeleireiro acabaram por ditar que a maioria das colorações fosse feita em casa – e dessa parte há memória, aliás um memorial, feito de pintas pretas na porta branca da casa de banho, resistentes aos materiais de limpeza comuns e até a outros mais potentes. Curiosamente, alguns cabelos permaneciam alvos a cada coloração doméstica, como que num ato de rebeldia.

Enfim, lidar com os brancos era uma grande maçada mas encarada como obrigação, sem questionar, afinal, há coisas piores… Ou não: quando passei a ter de usar óculos para ver ao perto pintar o cabelo tornou-se um ritual mais penoso. Fazê-lo em casa passou a ser um exercício de pontaria, geralmente com maus resultados, e a espera no cabeleireiro, com a cabeça cheia de tinta, uma seca maior ainda já que não conseguia ler revistas ou espreitar as redes sociais no telemóvel.

Perante este cenário negro – todo ele, exceto as malditas raízes dos cabelos… – acabei a fazer contas à vida. Mesmo que adiada, em geral para vésperas de reuniões importantes ou viagens, a coloração era uma preocupação a cada três semanas e traduzia-se anualmente em, pelo menos, 24 horas de vida, equivalentes a três dias de trabalho. Além disso, custava-me, num salão de bairro, cerca de €480 por ano, ou uns €120 em tintas de supermercado, sem contabilizar o custo dos produtos para limpar a porta e eliminar as manchas negras que iam decorando toalhas e tapetes. E isto para não falar na imensa chatice, que essa não tem preço.

Basta! E agora?

Se o arrependimento matasse, por um dia ter começado a pintar o cabelo, ficava o problema rapidamente resolvido. Mas agora, com brancos viçosos a competir com os pretos mal tingidos, o que fazer? Perguntar às amigas que já passaram por isto, claro, e descobrir como é longo o caminho a percorrer.

“Pinto no cabeleireiro com um produto, não sei o nome, que vai saindo com as lavagens e, no meu caso, aguenta cerca de mês e meio… só”, contou-me Cláudia. “Para quem tem cabelo escuro como nós a transição é sempre chata. Como tens usado tinta permanente, vai sempre aparecer uma risca [definida pelas raízes em crescimento] ao início. Vale a pena ir a um sítio bom pedir ajuda.”

Já Ana foi fazendo umas pequenas madeixas pretas para disfarçar as raízes brancas e hoje tem o cabelo grisalho e sem tinta. O processo foi longo, ao todo cerca de ano e meio, mas compensou: “Andei dez anos a pintar até decidir que estava farta daquilo. Só te digo: a libertação vale bem mais do que os anos que os brancos poderão fazer-te parecer mais velha. Pintar o cabelo a cada três semanas é uma escravidão! Mas aconselha-te com uma boa cabeleireira, da tua confiança”.

Isabel também desistiu de pintar e aconselha a mudança: “Digo-te, por experiência própria, que é libertador não ter de pintar o cabelo a cada centímetro que cresce! E os cabelos esbranquiçados não são bonitos porquê? Eu gosto!”

Aconchegada por estas e outras opiniões, inclusive de alguns homens que defendiam um corte radical por ser mais prático (sendo que, em alguns casos, foi impossível perceber se o comentário era humorístico…), decidi seguir os conselhos das amigas, ou seja, procurar uma boa profissional.

Maria Lourenço fotografou a parte de trás do meu cabelo para que eu pudesse ver a quantidade de cabelos brancos que tenho nesta zona da cabeça

 

Maria Lourenço, com dois salões em Lisboa e embaixadora da L’Oréal, confirmou-me as piores suspeitas. Cada caso é um caso, explicou-me, e o meu era bastante complicado devido à sobrecarga de coloração. Como pintava muitas vezes em casa, cobria as raízes mais visíveis mas também áreas que não necessitariam de tinta. No entanto, a minha incompetência como autocolorista revelou-se uma virtude: na parte de trás da cabeça o cabelo está natural pois não conseguia pintá-lo (e, na verdade, fui desistindo, farta das já mencionadas pintas pretas na porta do WC). Do diagnóstico resulta que tenho uns 60% de cabelos brancos.

Resta saber o que fazer agora. Dependendo de cada situação concreta, diz Maria Lourenço, normalmente há duas soluções: ir pintando com tintas que vão saindo com as lavagens; ou fazer madeixas escuras de forma a disfarçar o crescimento das raízes brancas. Ambas as alternativas implicam várias idas a um salão – cerca de quatro ao longo do ano se escolher a última opção.

Para quem resiste o máximo que pode às idas a cabeleireiros, esta foi uma má notícia. Apesar das informações fornecidas pelas amigas, agora confirmadas por uma profissional muito experiente, tinha a secreta esperança de que houvesse uma opção mais rápida e eficaz. Não há. A não ser que…

Mantra para a próxima vez: acredita em que sabe

Se cada caso é um caso, porque não descolorar e ver o que acontece? A especialista não aconselha pois o mais provável é que o cabelo fique entre o castanho e o alourado, longe de chegar ao branco, até porque o uso sucessivo de tintas de supermercado complicam muito o processo. Mesmo assim, acho que vale a pena tentar e ver para crer.

Avançamos com a descoloração dos cabelos escuros que persistem misturados com os brancos em torno da cara, um processo que deve, de facto, ser feito por profissionais com experiência, sob pena de os cabelos poderem ficar danificados. Entre a aplicação do produto e o envolvimento dos fios em pedaços de papel prata, aproveito o tempo para aprender mais sobre esta complicação chamada “assumir os brancos”.

Maria Lourenço explicou-me que um novo corte de cabelo pode mudar totalmente a forma como os fios de cabelos brancos são visíveis

Em qualquer situação, o corte ajuda muito pois elimina a sobrecarga de coloração que existe nas pontas. Aliás, a forma mais simples de assumir os brancos passaria sobretudo pela tesoura: basta que se deixem crescer as raízes durante algum tempo e depois cortar o cabelo curto.

O problema é que andar com raízes continua a ser visto como desleixo. Se até o Herman José se deu ao trabalho de criticar as da Madonna… No caso dos brancos, ninguém as interpreta como um momento de transição com vista à libertação das tintas – ou estão-se nas tintas, melhor dizendo, e falta de cuidado é a mensagem que passa quase sempre.

Para aumentar o tempo entre colorações, ou tentar melhorar o look para um evento inadiável e imperdível, faz sentido recorrer ao rímel, à espuma ou ao spray de cor, todos à venda em lojas de produtos capilares. Funcionam mas, pessoalmente, não gostei de nenhum: a aplicação tem de ser bastante cuidadosa – mais uma tarefa difícil sem os óculos de ver ao perto e com repercussões nos azulejos –, a sensação ao toque é estranha e perde-se o à-vontade ao afastar uma mecha de cabelo, com medo que a tinta tinja os dedos ou a testa. E, no verão, será que escorre se se começar a transpirar?

Sobre o spray, a amiga Ana já tinha comentado outros inconvenientes: “Se tiveres pouco cabelo, o couro cabeludo também fica escurecido, o resultado é muito artificial. E, quando as raízes são grandes, gastas uma embalagem de spray a cada utilização!”

Já para lidar com os primeiros brancos, a especialista Maria Lourenço defende que a melhor solução será recorrer à coloração que sai com as lavagens, uma opção tão inconsequente que pode ser usada por grávidas ou mesmo pessoas que tenham feito tratamentos na sequência de um cancro, cujos cabelos crescem geralmente muito encaracolados e com brancos.

Nas demais situações, pintar madeixas do tom de base para disfarçar o crescimento das raízes é a melhor alternativa, assim como para evitar que o cabelo fique totalmente branco, num visual tipo Pai Natal, que envelhece muito mais. É uma opção a que os homens também recorrem com frequência e percebe-se porquê: segundo os cânones estéticos atuais ser grisalho tem muito mais estilo do que ter o cabelo todo branco.

Cerca de 20 minutos passados, é tempo de abrir as pratas e ver como está o cabelo a reagir. Confirmam-se as suspeitas, os fios resistem à ação do produto, por isso repete-se o processo de descoloração e aguarda-se mais um pouco.

Repeti o tratamento várias vezes na esperança de descolorar o comprimento total dos fios de cabelo brancos, mas foi em vão

Cada vez se faz menos coloração total a preto, vai revelando Maria Lourenço, pois requer muita manutenção. É comum optar-se por, mantendo a cor de base, criar reflexos nos cabelos em torno do rosto para dar um ar mais leve. Na verdade, diz, um bom colorista pode valorizar bastante o visual, alongando rostos, por exemplo, ou criando a ilusão de que se tem maior densidade capilar (tons mais escuros dão a ideia de que se tem mais cabelo do que os claros). O corte também ajuda muito na imagem global: mulheres baixas que usem cabelos muito compridos parecerão ainda mais baixinhas.

Voltando ao meu objetivo final, assumir os brancos, impõe-se mais uma pergunta: há cuidados especiais a ter? Há, pois a maioria vai amarelando ao longo do tempo, consequência de agressões como a poluição. Por isso, quando já se tem a cabeleira 80% branca, é conveniente usar champôs específicos como o Shine Blonde da L’Oréal. Também é natural que sejam aconselháveis tratamentos para os disciplinar dado que os cabelos brancos tendem a ser mais crespos.

A liberdade vai passar por aqui

Mais tempo, mais retoques, no final a matização, uma espécie de “acabamento” feito com um produto específico, semelhante a um champô, para eliminar resquícios de cor indesejada e dar brilho, entre outros pormenores técnicos que não retive. Conclusão: no meu caso, este processo, que até foi repetido uns dias mais tarde, não me aproxima definitivamente dos brancos mas deu-me um outro colorido.

Madeixas entre o castanho claro e o alourado esbateram a tal risca definida pelas raízes. Não era o objetivo, mas ajudaram-me a perceber melhor porque é que a maioria das mulheres fica loura após os 40 ou 50 anos: passa a ser muito mais fácil conviver com os brancos, de facto.

 

Desta minha experiência algo alternativa a maior surpresa foram os comentários de amigos, quase todos garantindo que fiquei com um aspeto bastante mais leve graças ao inesperado colorido (já deviam estar pelos cabelos com o meu visual a preto e branco do costume!). Também achei e, sendo assim, a cor derivada da descoloração vai manter-se até ao primeiro calor primaveril, mais propício a um corte de cabelo antichatice, provavelmente ao estilo pixie cut que, ao que parece, até está na moda.

Teresa Frederico