Morreu o criador de ‘Dartacão’. Cláudio Biern Boyd tinha 82 anos

Dartacão DR
[Fotografia: DR]

Cláudio Biern Boyd, que nasceu em Palma de Maiorca em 1940, foi guionista, animador, realizador e empresário. Na década de 1970, fundou o estúdio de animação BRB Internacional, que inicialmente era uma empresa de licenciamento e distribuição de séries de animação.

Cláudio Biern Boyd esteve durante décadas à frente do BRB, através do qual criou várias personagens que marcaram sobretudo a década de 1980 e que lhe valeram o epíteto de ‘Walt Disney espanhol’.

A série “Dartacão”, que foi exibida pela primeira vez na RTP em 1983, um ano depois de se ter estreado em Espanha, tem na base o romance de Alexandre Dumas, “Os três mosqueteiros”, publicado originalmente em 1844, e um dos livros que Claudio Biern Boyd ‘devorou’ em criança.

“Há muitos anos, quando nasci, não havia televisão, o que fez com que me tornasse um devorador de livros. E os livros que havia naquela época eram de [Alexandre] Dumas, [Julio] Verne, [Emilio] Salgari, Charles Dickens… E o Dartagnan cativou-me. Eu conseguia vê-lo, era muito imaginativo”, partilhou, em entrevista à agência Lusa, em julho do ano passado.

No final de década de 1970, quando estava a iniciar-se no “negócio das séries de animação”, Claudio Biern Boyd lembrou-se de pegar numa história conhecida — “porque é muito diferente chegar à RAI, à RTP ou à BBC com a história de Dartagnan ou com a história de Joana e Claudio, que não lhes interessa nada”.

Estabeleceu, como em todas as suas séries, que “haveria muita ação, mas não violência” – “nunca há violência” –, e que o protagonista seria um cão, escolha que teve dois motivos.

“Se uma criança vê um desenho animado que tem a figura de um homem a lutar com outro com espadas, pode acontecer que na escola pegue num pau e outra criança também e comecem a lutar, mas se virem animais antropomórficos, que agem como não agiriam, tal não acontece”, justificou.

Houve outro “motivo muito importante, que foi económico e de tempo”: “Fazer o desenho de um cão é muito mais rápido e mais barato do que fazer o de um ser humano”.

Na altura, recordou, pegou em 25 pesetas (moeda espanhola antes do euro) e comprou uma enciclopédia de cães. “Então à medida que fui criando as personagens ia vendo que raça usar”, contou.

A enciclopédia serviu para desenhar praticamente todas as personagens, menos duas: Milady (que é uma gata) e Richelieu (que é um graxaim-do-campo, também conhecido como raposa dos pampas), “que são os maus”.

“Porque não gosto de gatos e porque os graxaim-do-campo são aterradores”, partilhou.

Quando questionado a que se deve o sucesso que a série teve na década de 1980, Claudio Biern Boyd confessou não ter “uma resposta concreta”.

“Surpreendeu-me também a mim. Vendemos a série a mais de cem países em todo o mundo e passou em mais de 300 cadeias de televisão. Ainda dá em vários países e continua a ter êxito e aceitação entre as crianças. Penso que 60% a 70% do êxito deve-se ao guião. O senhor Dumas escreveu uma grande novela, porque tem de tudo: tem ação, tem bons, tem maus, tem amor, suspense, enganos”, referiu.

Além disso, acrescentou, “o cão é uma figura simpática para as crianças, todas as crianças gostam de cães e isso também foi uma vantagem”.

Em Portugal, além de “Dartacão”, foram também exibidas na RTP as séries “David, o gnomo”, “Rui, o pequeno Cid” e “A volta ao mundo de Willy Fog”. Entretanto, no ano passado, chegou aos cinemas “Dartacão e os três moscãoteiros: o filme”.