Morreu o líder histórico de Cuba

File photo of Cuba's President Fidel Castro during a visit to Paris
Cuba's President Fidel Castro gestures during a tour of Paris in this March 15, 1995 file photo. Ailing Cuban leader Castro said on February 19, 2008 that he will not return to lead the country, retiring as head of state 49 years after he seized power in an armed revolution. REUTERS/Charles Platiau/Files TPX IMAGES OF THE DAY - RTSTCH7

Fidel Castro, o líder da Revolução Cubana que morreu na sexta-feira, aos 90 anos, foi um dos homens mais carismáticos e controversos da História política do século XX e era a última grande figura do comunismo ocidental.

“O último revolucionário” e o homem que “desafiou” dez Presidentes dos Estados Unidos, como escrevem o El Pais e o The New York Times, liderou Cuba durante 47 anos, até passar o poder ao irmão mais novo, Raul Castro, em 2006, mas o “pai da revolução cubana” continuou a exercer influência e a marcar a identidade coletiva do país.

Fidel Castro nasceu a 13 de agosto de 1926, em Birán, uma pequena localidade do município cubano de Mayari, no seio de uma família de origens galegas. Apenas aos 17 anos foi reconhecido pelo pai e registado com o nome definitivo: Fidel Alejandro Castro Ruz.

Frequentou escolas de jesuítas e, depois, a Universidade de Direito de Havana, onde começou a participar em ações de agitação.

Teve dois filhos, um com a mulher com quem casou em 1948 e Alina, fruto de um caso extraconjugal, que só aos 10 anos soube ser filha de Fidel e se exilou nos EUA.

Após um longo e conturbado período como opositor do regime de Fulgêncio Batista (um aliado dos Estados Unidos), o guerrilheiro Fidel Castro e o seu companheiro de luta Che Guevara chegaram a 01 de janeiro de 1959 a Havana e a Revolução Cubana fazia a sua entrada na História.

Em 1961, declarou Cuba um Estado socialista e os EUA cortaram relações diplomáticas com Havana, que se prolongaram até 2015. Em março deste ano, Barack Obama tornou-se no primeiro Presidente norte-americano em funções a visitar a Cuba em 88 anos.

No entanto, dura até hoje o embargo económico dos EUA a Cuba, iniciado também em 1961.

Fidel resistiu à oposição de dez presidentes norte-americanos (Eisenhower, Kennedy, Johnson, Nixon, Ford, Carter, Reagan, Bush pai, Clinton e Bush filho), numa relação com os EUA que transportou a Guerra Fria para o continente americano.

Desde o triunfo da revolução, Cuba manteve relações estreitas com o bloco socialista europeu. Até à queda da União Soviética, em 1991, recebeu ajuda económica e militar do país, mas o fim do bloco comunista fez Cuba mergulhar numa crise económica.

Fidel chegou ao poder apoiado pela maioria dos cubanos, prometendo reinstaurar a Constituição de 1940, criar uma administração honesta, restabelecer liberdades civis e políticas e realizar reformas moderadas.

Mas recebeu acusações da comunidade internacional de autoritarismo, radicalismo e violação aos direitos humanos, além de perseguição a religiosos e homossexuais.

Milhares de cubanos deixaram o país, de maneira legal ou ilegal, por não estarem de acordo com o governo ou por causa da situação económica.

A 31 de julho de 2006, Fidel Castro afastou-se devido a problemas de saúde e delegou o poder em Raul Castro, que começou um processo de abertura e de reformas no país, reconhecido em 2009 pela União Europeia, que levantou nesse ano as sanções a Havana.

“Desejo só combater como um soldado das ideias. Continuarei a escrever (…). Será mais uma arma do arsenal com que se poderá contar”, escreveu Fidel no dia em que renunciou.

Durante a última década, fez poucas aparições públicas, foi dado como morto várias vezes na Internet e nas redes sociais e manteve um contacto regular com o mundo através dos seus artigos.

Também era um anfitrião para Presidentes e outras personalidades que visitavam a ilha caribenha, como aconteceu no mês passado com o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, que foi recebido por Fidel quando visitou Cuba.

Os mais assíduos foram os aliados bolivarianos, os Presidentes da Bolívia e da Venezuela, Evo Morales e Nicolas Maduro (e o seu antecessor Hugo Chávez) respetivamente, mas também recebeu o papa Francisco em setembro de 2015, o chefe de Estado francês François Hollande quatro meses antes e o patriarca ortodoxo russo Kiril em fevereiro deste ano.

Num país em crise económica e desafiado pelas consequências da normalização das relações com os Estados Unidos, a figura e as palavras de Fidel Castro continuavam a ter eco na política e na sociedade cubanas, sendo ainda uma inspiração para os que querem manter uma ortodoxia revolucionária face à crescente pressão para uma maior abertura política e económica.

“Reiteramos o compromisso de permanecermos fiéis às ideias pelas quais [Fidel Castro] lutou ao longo da sua vida”, afirmou este ano o “número dois” do Partido Comunista Cubano (PCC).

Foi a 13 de agosto, quando fez 90 anos, que apareceu pela última vez publicamente.

Meses antes, em abril, no VII Congresso do Partido Comunista de Cuba, fez um discurso que soou a despedida.

“Talvez esta seja a última vez que falo nesta sala. Em breve cumprirei 90 anos, não em resultado de nenhum esforço mas por capricho do destino. Sou como todos os demais: também chegará a minha hora”, disse.

“A todos chegará a sua vez, mas as ideias dos comunistas cubanos permanecerão como prova de que neste planeta, se trabalharmos com fervor e dignidade, podemos produzir os bens materiais e culturais que os seres humanos precisam e devemos lutar incansavelmente para obtê-lo”, defendeu.