Morreu Vivienne Westwood. Designer tinha 81 anos

Vivienne Westwood dead at 81
[Fotografia: EPA/FACUNDO ARRIZABALAGA]

Ícone do punk e da absoluta provocação feminina, a androginia, o império do street style coroado na passerelle e para agitar mentalidades e ideias feitas, o ativismo e a luta política, a designer inglesa Vivienne Westwood morreu esta quinta-feira, 29 de dezembro, aos 81 anos. Através dela fica uma inegável herança na moda britânica e mundial, um modelo de negócio novo na indústria e a arte do vestuário como forma de ativismo e protesto direto.

A informação foi veiculada pelos representantes da icónica estilista e que revelaram que Westwood morreu “pacificamente e cercada pela família” em Clapham, no sul de Londres.

“O mundo precisa de pessoas como Vivienne para fazer uma mudança para melhor”, afirmaram em comunicado.

Vivienne Isabel Swire nasceu a 8 de abril de 1941, em Derbyshire, em Tintwhistle, e era a mais velha de três irmãos.

Apesar de ser a criadora de uma famosa t-shirt dos Sex Pistols com uma imagem da rainha Isabel II com um alfinete os lábios ou com a frase God save the Queen a tapar-lhe os olhos e a boca, foi condecorada pela monarca.

VIVIENNE WESTWOOD/MALCOM MCLAREN/JAMIE REID [Fotografia: Daniel LEAL / AFP]
VIVIENNE WESTWOOD/MALCOM MCLAREN/JAMIE REID [Fotografia: Daniel LEAL / AFP]
Primeiro em 1992, com a Ordem do Império Britânico, pelo trabalho desenvolvido na indústria da moda e nas artes, e, em 2006, com o título de Dama.

Punk, Sex Pistols e Vivienne: a trilogia para o êxito

A história de Vivienne Westwood na moda arranca com fulgor logo em 1971, momento em que criou as primeiras peças, desenhadas por Malcolm McLaren, o seu companheiro da altura. O sucesso surgiu como consequência da banda punk Sex Pistols, da qual McLaren era manager, utilizarem criações desenhadas pelo casal. Nessa altura, Westwood e McLaren abriram uma loja e desenvolveram peças inspiradas neste estilo, incluindo uma série de t-shirts com mensagens provocatórias.

Dez anos depois, em 1981, o casal fez o seu primeiro desfile no qual apresentou uma coleção inspirada em Piratas. Até 1984, as coleções variaram entre a inspiração histórica e o punk. A partir desta data, Vivienne passou a criar sozinha, e a suas inspirações assumiram diferentes estilos, incluindo o estilo colegial das classes mais altas.

A utilização da moda como forma de protesto esteve sempre presente, tendo-se intensificado nos últimos anos. São exemplos disso as coleções de primavera/verão 2013 e 2014, em protesto contra as alterações climáticas, assim como a t-shirt com que surgiu no final no desfile de outono/inverno 2013/2014, em que pode ler-se a frase “sou o Julien Assange”. Ainda para a temporada mais quente, mas desta vez para 2016, Vivienne colocou os modelos a desfilar com cartazes contra a austeridade.

Os exemplos multiplicam-se – na verdade, em quase todos os desfiles da criadora britânica há uma mensagem de protesto. A diferença é apenas a forma como ela escolhe fazê-lo: ora com cartazes, ora com caracterizações, ora com uma peça com uma mensagem direta e forte.

Ativismo, ambiente e anti-sistema financeiro.
Os protestos de Westwood

A moda, enquanto forma de arte, vai muito além da criação de roupa. É uma forma de identidade, um cartão-de-visita individual que todos veem. Mas pode ser também uma forma de transmitir ideias ou pensamentos. No caso de designers como Vivienne, é uma maneira de chamarem a atenção para causas nas quais acreditam. E se, por um lado, esta conceção não é uma novidade, por outro o desejo de se fazer ouvir (ou ver, no caso) intensifica-se a cada coleção.

Em 2019 e após duas temporadas de ausência, Westwood transformou o seu desfile na Semana da Moda de Londres numa manifestação contra o sistema financeiro, as alterações climáticas e contra o consumismo. Vivienne sempre defendeu que se deveria comprar menos roupa mas apostar em peças com maior qualidade. Foi esta mesma ideia que transmitiu no início do desfile através do diálogo dos modelos, com afirmações como “gosto tanto desta camisola que a vou usar para ir trabalhar todos os dias” ou “comprei este casaco o ano passado, é um clássico”.

E já que falamos em modelos, além de Rose McGowan e John Sauven, a criadora britânica incluiu outras personalidades, como a sua antiga musa e modelo Sara Stockbridge, e membros do seu movimento, Intellectuals Unite.

‘Presa’ por Julian Assange

Em julho de 2020, a designer trancou-se numa jaula gigante e, com recurso a um megafone, lutou contra a extradição de Julian Assange por várias acusações, entre elas de espionagem, para os Estados Unidos da America.

Depois de ter passado quase sete anos escondido na embaixada do Equador, Assange, fundador do Wikileaks, estava detido na prisão de Belmarsh.

[Fotografia:Niklas HALLE’N / AFP]

Vestida de amarelo brilhante, a condecorada Dama Vivienne Westwood entrou numa gaiola branca de tamanho humano e gritou: “Sou o canário na mina de carvão (…) Se eu morrer na mina de carvão por causa do gás venenoso, esse é o sinal.”