Morte de Epstein não encerra caso de abusos a raparigas e investigação chega a França

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O escândalo de abuso sexual e tráfico de dezenas de menores que envolveu o norte-americano Jeffrey Epstein está longe de terminar com a sua morte. O milionário, de 66 anos, que se encontrava em prisão preventiva, foi encontrado morto na sua cela, no estabelecimento prisional de Manhattan, Nova Iorque, este sábado, 10 de agosto, num presumível ato de suicídio, que muitos questionam, incluído o presidente americano, Donald Trump.

Várias personalidades, entre as quais políticos de diferentes quadrantes, consideraram, em mensagens públicas, que com a morte do magnata fica posto em causa o esclarecimento e a possível denúncia de outros envolvidos – entre os quais possíveis figuras conhecidas e da elite americana e não só – na rede ilegal que manteve durante anos.

Também as raparigas, agora mulheres adultas, abusadas por Epstein afirmaram, aos media americanos, sentirem-se zangadas e defraudadas com a morte do milionário, que o liberta da responsabilização pelos seus atos.

Mas não terá sido apenas nos Estados Unidos da América que Epstein fez vítimas. O governo francês pediu, esta segunda-feira, 12 de agosto, uma investigação em França a possíveis crimes cometidos pelo milionário norte-americano.

 

Jeffrey Epstei num cartaz do Ministério Público, quando do início do processo judicial. [Reuters]

A investigação norte-americana revelou ligações a França. Parece-nos assim
fundamental para as vítimas que seja aberta uma investigação em França a fim de que
tudo seja esclarecido”, afirmaram, em comunicado, os secretários de Estado para
Igualdade, Marlène Schiappa, e da Solidariedade e Saúde, Adrien Taquet.

Epstein, acusado em Nova Iorque de abuso sexual e menores e tráfico sexual de menores,
foi detido a 06 de julho passado, quando o seu avião privado aterrou em New Jersey, proveniente de França.

O milionário tinha um apartamento em Paris e tinha acabado de passar várias semanas no país, segundo a organização não-governamental “Innocence en Danger” (“Inocência em Perigo”), que já em meados de julho tinha pedido uma investigação em França.

“Tendo em conta o seu perfil, é legítimo perguntar se há vítimas menores” em França,
considerou a organização, destacando que, na investigação nos EUA, há
referência “a várias pessoas de nacionalidade francesa”.

Schiappa e Taquet sublinham no comunicado que a morte do milionário, “que deixa
numerosas perguntas sem resposta”, “não deve privar as vítimas da justiça a que têm
direito”, “condição essencial da sua recuperação e de uma proteção mais eficaz de
outras raparigas no futuro”.

Os dois governantes afirmam a sua determinação na proteção de todas as jovens de
“violência sexual e principalmente de redes de exploração criminosa” e anunciam que vão ser adotadas novas medidas no último trimestre do ano.

FBI investiga “aparente suicídio” do magnata

Entretanto, o FBI, polícia do Departamento de Justiça dos Estados Unidos da América (EUA), está a investigar o “aparente suicídio” do magnata, que se encontrava em prisão preventiva a aguardar julgamento por alegados abusos sexuais de menores de idade.

A acusação contra Jeffrey Epstein considera que o suicídio do magnata poderá impossibilitar o confronto em tribunal sobre os alegados abusos sexuais a menores. De acordo com a Associated Press (AP), um antigo diretor de prisão, Cameron Lindsay, que dirigiu três prisões federais, considera que o suicídio de Epstein na cadeia representa uma “chocante falha” do sistema, acrescentando que o suspeito deveria estar sempre debaixo de uma constante vigilância.

No passado dia 31 de julho, o milionário compareceu perante o juiz pela primeira vez desde que tinha sido encontrado semi-inconsciente na cela da prisão de Nova Iorque, com ferimentos no pescoço.

Nessa altura um familiar, que falou sob o anonimato, referiu que não era claro se os
ferimentos no pescoço tinham sido autoinfligidos ou se tinham resultado de agressões e ataques de terceiros.

O canal CNBC, refere a Agência Lusa, informou na altura que antes do incidente ocorrido da sua cela, com a suspeita de tentativa de suicídio, Epstein tinha recebido documentos legais nos quais uma adolescente de 15 anos denunciava ter sido violada pelo magnata na sua mansão. Dias antes, o juiz tinha negado o pedido de Epstein para ser colocado em prisão domiciliária até ao início do julgamento.

Uma rede de abusos e de tráfico

Segundo noticiaram vários órgãos de comunicação de Nova Iorque, o julgamento de Jeffrey Epstein deveria iniciar-se entre junho e setembro de 2020. De acordo com a procuradoria do distrito sul de Manhattan, Epstein era acusado de ter tinha criado uma rede para abusar de dezenas de meninas, que funcionava na sua mansão de Nova Iorque e numa outra situada na Florida – estando agora a ser investigada também a possibilidade de se estender a França.

O magnata já tinha enfrentado acusações similares na Florida, mas em 2008 conseguiu um
acordo extraoficial com a procuradoria para encerrar a investigação, tendo cumprido 13
meses de prisão e alcançado um acordo financeiro com as vítimas.

O acordo foi supervisionado pelo então procurador de Miami, Alexander Acosta, que foi
posteriormente nomeado secretário do Trabalho pelo Presidente dos EUA Donald Trump, e
que foi forçado a renunciar do cargo devido às críticas emitidas na sequência da nova
detenção de Epstein.

Na sequência desta detenção, começaram a surgir informações de que responsáveis próximos a Victoria’s Secret tinham conhecimento de que Jeffrey Epstein se fazia passar por responsável de casting de modelos para a célebre marca de lingerie, junto de adolescentes e mulheres, e de que este as atacou sexualmente.

As notícias levaram a que mais de 100 modelos subscrevessem uma petição a pressionar a empresa para se juntar ao programa que combate o assédio e abuso sexual na indústria da moda.

com Lusa

Petição: 100 manequins exigem que Victoria’s Secret combata a agressão sexual