Mulheres atletas têm risco três vezes maior de sofrer de incontinência

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Um estudo desenvolvido na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP) indica que as mulheres atletas de alta competição têm o triplo de probabilidade de ter incontinência urinária, quando comparadas com que aquelas que não praticam desporto.

Este é um dos resultados do projeto “Effects of physical exercise on the pelvic floor and its relevance for the urinary incontinence” (“Efeitos do exercício físico no pavimento pélvico e sua relevância para a incontinência urinária”), que tem como objetivo estudar a incontinência urinária e os distúrbios alimentares em atletas de elite.

Tendo como principal investigadora a fisioterapeuta da Cooperativa de Ensino Superior Politécnico e Universitário (CESPU), Alice Carvalhais, o projeto conta com profissionais das faculdades de Desporto e de Engenharia da Universidade do Porto (FADEUP e FEUP), do Instituto de Engenharia Mecânica e Gestão Industrial (INEGI) e da Escola Norueguesa de Ciências do Desporto, de Oslo.

Para a realização do primeiro estudo, foram avaliadas atletas de 26 modalidades, individuais e coletivas, com representatividade em Portugal, tendo sido nos desportos com alto impacto que se verificou uma taxa mais elevada de prevalência de incontinência urinária, disse à Lusa Alice Carvalhais.

Segundo a fisioterapeuta, os dados para essa etapa foram recolhidos através de questionários feitos a 372 atletas de alta competição, tendo sido solicitada autorização aos responsáveis pelas diferentes seleções nacionais para contacto com as mesmas nos períodos de estágios e em algumas situações de provas e de campeonatos.

Para controlo, foram avaliadas, também nessa fase, 372 mulheres que não praticavam desporto (ou que praticavam, no máximo, duas vezes por semana), recrutadas em escolas secundárias, faculdades e espaços públicos, acrescentou.

O segundo estudo do projeto passa por perceber se existe inter-relação entre diferentes estruturas anatómicas que delimitam a cavidade abdomino-pélvica em mulheres continentes e naquelas que possuem algum grau de incontinência urinária, de forma a verificar o impacto que o nível de atividade física pode ter nesses parâmetros.

Nesta parte, a recolha dos dados está a ser realizada no Laboratório de Biomecânica do Porto (LABIOMEP), tendo sido avaliadas, até à data, 46 mulheres, número que se prevê aumentar brevemente.

O terceiro momento do projeto, segundo a investigadora, consiste no desenvolvimento de um dispositivo para monitorizar e treinar a força dos músculos do pavimento pélvico.

Alice Carvalhais é fisioterapeuta há 30 anos e passou os primeiros 20 a intervir, maioritariamente, na área das disfunções neuro-músculo-esqueléticas.

“Entretanto, comecei a interessar-me pela saúde na mulher, mais especificamente pelas disfunções do pavimento pélvico”, área na qual efetuou uma formação específica.

Para a fisioterapeuta, o que se retira desta análise não é que as mulheres devam abandonar a alta competição ou os desportos em que a prevalência desta condição é elevada, mas sim que algo deve ser feito no sentido de desenvolver estratégias para prevenir o aparecimento desta disfunção nas mulheres que não o apresentam e intervir naquelas em que já ocorre, mesmo sem a prática desportiva.

Prevê-se que todas as fases do projeto estejam concluídas até dezembro de 2017.

 

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