Mulheres ganham menos do que os homens na BBC e a culpa é delas

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O vice-presidente da comissão governamental britânica que quer promover a igualdade das mulheres e dos homens no trabalho, Phillip Hampton, está no centro da polémica. Depois de o relatório da empresa pública de audiovisual do Reino Unido ter demonstrado o enorme disparidade salarial entre homens e mulheres, com os primeiros a auferirem rendimentos substancialmente superiores às segundas, aquele executivo – que lidera a farmacêutica GlaxoSmithKlein – veio dizer que se o sexo feminino se sente mal com a situação, a verdade é que a culpa é das mulheres.


A disparidade salarial não existe apenas na BBC. A portuguesa RTP também a tem


“Nunca recebi nenhuma mulher que me tivesse pedido um aumento”, declarou Hampton, citado pelo jornal britânico The Evening Standard. Os deputados já vieram acusar o chairman da empresa farmacêutica e antigo diretor do Royal Bank of Scotland de “insensibilidade”.

Na base das críticas está a frase na qual ele refere: “tenho inúmeras mulheres com as quais trabalho diretamente e que vêm ter comigo para falar sobre as suas carreiras e pedem-me conselhos (…) Muitos homens entram no meu gabinete para dizerem que são mal pagos, mas nunca nenhuma mulher fez isso”, afirma.

A verdade é que, em março deste ano, Cristina Vaz Tomé, a administradora da RTP, empresa pública de audiovisual, alertava precisamente para a mesma realidade quando falava das diferenças entre homens e mulheres na empresa que dirige.

“É importante a mulher acreditar nela própria e deixar de achar que não tem hipótese. Aqui [na RTP], tenho mais homens a baterem-me à porta a pedirem-me para rever a carreira do que mulheres. […] . Elas têm autoestima, mas às vezes acomodam-se, são mais compreensivas com a situação. Se a empresa estiver a passar por um momento menos oportuno, a mulher não vem reclamar uma promoção. O homem não faz isso. Esta é a minha experiência à geral e não daqui”, afirmou a responsável ao Delas.pt.


Releia a entrevista a Cristina Vaz Tomé aqui


Hampton acusou mesmo as apresentadoras da BBC – que já ameaçaram seguir com o processo da desigualdade salarial para tribunal – de nunca terem lutado ou tomado a dianteira.

“Agora, elas estão todas a olhar umas para as outras e a dizer: ‘como é que isto foi possível?’ Suspeito que isto aconteceu porque nunca fizeram grande coisa sobre o assunto”, acusou.

Um porta-voz do governo britânico já veio contemporizar a discussão. “Existem muitos fatores que contribuem para a disparidade salarial por género, mas sabemos que a transparência é importante para lidar com o assunto. Foi por isto que alteramos a lei, no sentido de obrigar todos os grandes empregadores a publicar os seus números relativos aos rendimentos pagos por género”.

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