Mulheres inspiram mulheres: a importância da sororidade nos cargos de liderança

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Fotografia: Instagram Dee Poku

Não é moda nem hipérbole, feminismo e sororidade são, cada vez mais, conceitos necessários a serem debatidos. Não se faz recente a luta pela igualdade, mas faz-se, mais do que nunca, necessária.

Um estudo, lançado em 2019, e desenvolvido por investigadores da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, explicou que as mulheres precisam de uma rede de apoio feminina porque é de “mulher para mulher” que sentem mais empatia, principalmente no mercado de trabalho.

“As mulheres que procuram posições de liderança, muitas vezes, enfrentam obstáculos culturais e políticos. Por isso, beneficiam de um círculo interno de contactos femininos próximos com quem podem desabafar”, lê-se no documento.

Não confere surpresa alguma assumir os cargos de liderança como sendo, maioritariamente, preenchidos pelo género masculino. No panorama geral do tecido empresarial, entre todos os 477 mil cargos de gestão das empresas portuguesas, apenas 29,8% são ocupados por mulheres, apontou a 10.ª edição do estudo da Informa D&B Gestão e Liderança Feminina em Portugal (2020).

A importância de inspirar outras mulheres

Quando as mulheres conhecem outras mulheres que conquistaram posições de liderança, isso não só as inspira, como as motiva. Uma experiência publicada no Journal of Experimental Social Psychology confirma esta ideia: mulheres que viram imagens de personalidades femininas poderosas e bem-sucedidas, como Hillary Clinton, antes de discursar para uma plateia, superaram aquelas que não o fizeram.

Contudo, e tendo o mundo mais de 7,8 mil milhões de pessoas, apenas 500 milhões têm, atualmente, uma personalidade do género feminino como presidente ou chefe de governo (Diário de Notícias, 2021). Isto significa que ainda há um longo percurso no que aos lugares de liderança diz respeito.

Segundo a ONU Mulher, “ao ritmo atual, a igualdade de género nas mais altas posições de poder não será alcançada nos próximos 130 anos”.

O estudo feito pela Universidade da Califórnia corrobora esta ideia: “As mulheres enfrentam um desafio maior no networking para encontrarem oportunidades profissionais – elas, mais do que os homens, precisam de manter redes amplas e círculos internos para conseguirem as melhores oportunidades. A boa notícia é que, ao adotar esta abordagem inteligente, as mulheres podem continuar a encontrar opções de progressão na carreira, ao mesmo tempo que se ajudam umas às outras”.

Jennifer DaSilva, presidente da agência Berlin Cameron, ao ler sobre uma pesquisa que apontava para a importância de uma rede de contactos exclusivamente feminina, decidiu criar uma – a Connect4Women. O projeto que nasceu em 2019 tinha como objetivo inicial juntar, diariamente, quatro mulheres à rede, na esperança de criar conexões.

No ano de lançamento, a plataforma já contava com mais de 500 mulheres, o que resultou em novas parcerias, negócios, amizades e empregos, segundo cita o canal televisivo CNBC. Este cenário de sororidade foi ainda mais fortalecido durante a pandemia, quando a necessidade de conexão se fez mais importante do que nunca.

Um outro exemplo é a rede WIE, uma plataforma para as mulheres interagirem, conectarem-se e fazerem a diferença. Esta foi uma das primeiras organizações dominadas por mulheres, em parte criada para responder à falta de diversidade nos fóruns de negócios.

Dee Poku, fundadora da WIE, explicou que as mulheres precisam de uma fonte de empatia e a capacidade de projetar essa empatia nas outras mulheres. “Se tu fazes uma pessoa sentir-se vista, fazes maravilhas. Não importa quem são elas. Elas podem ser a pessoa mais bem-sucedida do mundo ou uma estagiária júnior. Se tu fizeres com que essas pessoas se sintam vistas, tu fazes tudo”, afirmou.

Tal como na WIE, a maioria destas redes partem do princípio de que a força da comunidade não está relacionada a cargos, contas bancárias, ou às empresas que determinadas mulheres representam. Tudo é resumido à capacidade de brilhar e dar aos outros um palco para serem vistos. Mais do que oportunidades de negócios, estas plataformas dão voz às mulheres e permitem que a inspiração seja o motor principal das suas carreiras.