Mulheres: “Não podemos ser hipócritas, temos de ir além da letra” na Europa

Portrait with copy space empty place of thoughtful minded woman with modern hairdo holding hand on chin looking up trying to find solution isolated on grey background
Portrait with copy space empty place of thoughtful minded woman with modern hairdo holding hand on chin looking up trying to find solution isolated on grey background

Áustria quer mulheres mais presentes na política e tirá-las das “organizações de festas e “a confeção de bolinhos”, Roménia pede “manuais escolares menos sexistas e mais educação sexual”, Grécia reivindica “medidas mais globais de Igualdade de Género para as mulheres”. A Dinamarca quer “mais licenças de paternidade e quotas na política”, a Lituânia fala da “reação negativa sobre todas as mulheres que reagiram ao #MeToo”, Irlanda sublinha a disparidade salarial.

Estas foram algumas das muitas e diversas reivindicações feitas em sede de Parlamento Europeu e por mulheres deputadas de governos e de oposição vindas de cada país para participar na sessão interparlamentar em torno da Igualdade de Género, que decorreu esta quinta-feira, 7 de março, em Bruxelas.

Quotas de acesso à política e economia, a pobreza e a austeridade, a conciliação familiar e laboral, igualdade no acesso à educação, o papel dos homens, o crescimento do populismo e licenças parentais. Foi disto que se falou e que se ouviu no Parlamento Europeu em véspera do Dia Internacional da Mulher, que se celebra esta sexta-feira, 8 de março. Mas a questão é exatamente esta: fala-se. Por isso, é tempo de passar à ação. E todos confiam agora que seja na próxima eleição que possíveis mais mulheres candidatas possam fazer verdadeiramente a diferença na vida, no trabalho das europeias.

Europa: Da ‘macho culture’ e do assédio às exigências das mulheres na política

Lembrando a recentemente aprovada resolução que vinca os retrocessos nos direitos das mulheres, João Pimenta Lopes, eurodeputado e vice-presidente da Comissão para os Direitos das Mulheres e Igualdade de Género, pede que “se consagre o que já existe”, não podendo, como “acontece em França, haver 11 propostas para garantir a igualdade salarial sem que nada aconteça”, enuncia.

“Não podemos ser hipócritas, temos de ir além da letra”, pede a comissária da Justiça, dos Consumidores e da Igualdade de Género Vera Jourová, evocando os progressos que foram feitos, mas lembrando o que está ainda por fazer.

“A falta da participação da mulher não é uma doença hereditária, é uma doença contagiosa”

“Pedimos às mulheres que intervenham na política e que se incluam na decisão económica. Todos os dias há relatos de intimidação com base no género, assédio, coação contra deputadas e candidatas. Isto constitui um fator de preocupação crescente e pode ser desencorajador para as que pensam vir para a política”, sublinha a responsável.

A falta da participação de mulher não é uma doença hereditária, é uma doença contagiosa, deve acontecer a nível nacional e devem existir medidas proativas que se devem refletir no próximo Parlamento Europeu”, pede Karima Zahi, responsável de campanha pela Equal.Brussels. Por isso pede mais e melhores acessos para o sexo feminino e pede-lhes, a elas, mais autoconfiança.

Para a portuguesa Inês Zuber, eurodeputa e da MDM (Movimento Democrático de Mulheres) a questão está na linha da partida, nas condições dadas no trabalho, em casa e possibilitadas pelo rendimento. “A dificuldade na participação na regressão das condições laborais e materiais pesam mais entre as mulheres e sobre aquelas que tem menores rendimentos”, vinca.

E a socióloga lembra que uma Europa que não acode às necessidades mais prementes das mulheres, dificilmente lhes dá as condições para que elas queiram ou possam chegar lá. “Não podemos discutir a participação das mulheres sem olhar para sua condição social. Se o fizermos corremos o risco de inviabilizar o acesso a estas estruturas”, referiu.

Papéis, referências e exemplos femininos

Federica Mogherini, que fechou a sessão interparlamentar, falou de Madeleine Albright, antiga secretária dos Estados Unidos da América, e da nova ministra do Interior do Líbano, Raya Al Hassan, para chegar a conclusão semelhante. Ou seja, para dizer que as mulheres têm mesmo de chegar lá, mas acredita que o modelo aspiracional basta.

“mais do que as selfies, as raparigas pedem conselhos de como chegar até aqui”, diz Federica Mogherini

“É preciso que as raparigas e mulheres se identifiquem com as instituições, mas se elas apenas veem homens engravatados de 67 anos, podem sentir-se um pouco desiludidas, sentir que estas estruturas não são para elas”, diz a Alta Representante da União Europeia para a Política Externa, que aplaude a nova diretiva que vai a votos na Comissão Europeia em abril e que quer dar licença obrigatória a pais por, pelo menos, dez dias.

“A luta pela igualdade não se pode esgotar na celebração do 8 de março. Tem de ser uma luta de todos”, diz João Pimenta Lopes

Por isso, “mais do que as selfies, as raparigas pedem conselhos de como chegar até aqui”, segundo Mogherini, em que é que pode mudar a União Europeia para alistar mais mulheres para a luta política? “Temos de passar uma mensagem cultural. Quebrar o teto de vidro, mas também em temos de mentalidades”, sobretudo numa altura em que os populismos estão a regressar ao “velho continente”.

A luta pela igualdade não se pode esgotar na celebração do 8 de março. Tem de ser uma luta de todos, de homens e mulheres, e tem de ser travada todos os dias”, conclui e pede Pimenta Lopes.

Imagem de destaque: Shutterstock

“O Parlamento Europeu tem ligeiramente menos regras contra o assédio”