Mulheres no centro das comemorações do 25 de Abril

As comemorações do 25 de Abril, promovidas pela empresa municipal de cultura de Lisboa, a EGEAC, têm, este ano, um foco feminino. As mulheres estão no centro de uma vasta programação, que vai ocupar vários espaços da capital do país, ao longo do mês de abril.

Contrariar o esquecimento a que muitas vezes as mulheres são votadas no contexto dos grandes acontecimentos históricos, “mesmo na história do 25 de Abril“, e dar voz e rosto às suas memórias é o objetivo deste conjunto de iniciativas públicas, como explica em entrevista ao Delas.pt, a presidente do Conselho de Administração da EGEAC, Joana Gomes Cardoso.

“Associamos [esta data] mais a figuras masculinas do que femininas e, no entanto, sabemos que houve muitas mulheres que tiveram um papel importantíssimo na resistência e na própria revolução e quisemos – visto que esta é uma programação que de alguma forma complementa as comemorações oficiais do 25 de Abril – dar um enfoque particular às mulheres criadoras e à temática das mulheres.

Nesta programação, há iniciativas diretamente relacionadas com a Revolução dos Cravos, mas também outras que trazem uma abordagem feminina dos direitos mais abrangente no tempo e na geografia.

É o caso da exposição que dá início ao conjunto de atividades, ‘Raparigas de Gaza: Crescer em Gaza’, da fotojornalista premiada Monique Jaques. A mostra, que estará patente, de 6 a 30 de abril, na Alameda dos Oceanos, no Parque das Nações, reúne mais de 20 fotografias que retratam a vida das jovens mulheres que crescem na Faixa de Gaza, na Palestina.

Partindo da “ideia dos valores de Abril”,a EGEAC preparou “uma programação atual sobre questões de cidadania, de política, num sentido lato”. “É uma programação sobre direitos humanos, e dentro dos direitos humanos parece-nos que os direitos das mulheres são uma parte importante, atual e relevante”. Das mulheres como protagonistas, às mulheres criadoras, as comemorações culturais da cidade abrangem outras questões, como o racismo, a integração de comunidades imigrantes e marginalizadas ou as temáticas LGBT, com iniciativas dedicadas no extenso rol de atividades previstas.

“Se, por um lado, a programação olha para o passado e para a memória, é uma programação que também quer pensar o presente e o futuro”, sublinha Joana Cardoso.

Para falar da memória dos dias de resistência, pré-25 de Abril, e dos dias da Revolução, no feminino, há dois eventos que se destacam, dentro da programação. A peça ‘Elas também estiveram lá – quotidianos de resistência e de revolução de mulheres’, uma criação do Teatro do Vestido, com direção de Joana Craveiro, no Cinema São Jorge, de 13 a 21 de abril, e ‘Coragem Hoje, Abraços Amanhã’, uma dramatização de Joana Brandão, baseada em entrevistas a mulheres presas pela PIDE, no dia 25 de abril, no Museu do Aljube.

“A Joana Craveiro trabalha muito as questões de memória e trabalhamos regularmente com ela a partir dos teatros municipais e partiu da ideia da Sala da Rank, que existe ao lado do Cinema São Jorge, que nós recuperámos e abrimos pela primeira vez ao público o ano passado. É uma sala que julgamos ter sido usada para efeitos de censura”.

O convite a Joana Craveiro juntou essas memórias com o desafio de as tratar a partir do olhar das mulheres e o resultado foi uma reconstituição, a partir de documentários e fotografias da época, dessas “vozes perdidas, anónimas” mas “participantes em tudo”, dando conta de uma multiplicidade de retratos da mulher portuguesa, que são também um espelho do presente, ou de como chegámos até aqui”, refere a programação.

Coragem Hoje, Abraços Amanhã’, de Joana Brandão parte de entrevistas a mulheres presas pela PIDE, durante o Estado Novo. Testemunhos que não aparecem tantas vezes como outros, mais conhecidos, noutros meios de divulgação.

“O objetivo da programação é sempre um pouco esse: seja através de espaços que abrimos na cidade, seja através da programação em si, de dar a conhecer algo diferenciador”, conclui Joana Cardoso.

Na fotogaleria, em cima, pode ver algumas iniciativas, no feminino, que vão decorrer em Lisboa, ao longo deste mês de abril.

Imagem de destaque: Ilustração de Evelina Oliveira