“Nós não vamos destruir o mundo, mas vamos ficar com os vossos empregos”. A frase dita pela robô Sophia, marcou o segundo dia da Web Summit, a decorrer desde segunda-feira, na Altice Arena, em Lisboa.
A afirmação, proferida por um robô de aparência quase cyborg (e em versão feminina), que respondeu a perguntas como se fosse uma pessoa e que tem um estatuto de cidadania na Arábia Saudita, revelou-se uma demonstração de que a Inteligência Artificial já não é um cenário de futuro mas uma realidade que começa a impor-se.
A questão que agora se coloca é até que ponto os humanos estão preparados para lidar com ela. Face à edição passada da Web Summit, a maioria dos investidores (53%) continua a considerar que “os governos não estão preparados para o impacto da Inteligência Artificial e para a perda de milhões de empregos daí resultante.”
E essa perda pode ser maior para as mulheres do que para os homens. De acordo com estudos do Fórum Económico Mundial, se se mantiverem os atuais rácios de género até 2020, em muitas das economias avançadas, por cada 20 empregos perdidos para a robótica, na área das ciências, engenharia, tecnologia e matemática, haverá cinco novos trabalhos criados para os homens, mas apenas um para as mulheres.
A manter-se este caminho, e a ainda pequena representatividade feminina naquelas áreas, as mulheres e as jovens arriscam-se a ficar de fora dos empregos do futuro, à medida que cada vez mais tarefas se forem tornando automáticas.
A solução poderá passar, dizem alguns especialistas, por atrair mais mulheres para áreas como as ciências da computação, que possam ser complementares à robotização crescente.
Tendência tecnológica prejudica mulheres, mas no fim manda o setor de atividade
Apesar da tendência tecnológica correr contra as atuais áreas de formação onde se concentram as mulheres, também há estudos que referem que em determinados países serão os homens a perder os seus postos de trabalho para os robôs.
Países fortemente industrializados, como o Reino Unido, os Estados Unidos da América, a Alemanha e o Japão são os exemplos apontados num estudo da PricewaterhouseCoopers (PwC),deste ano, citado pela BBC. Nessas regiões, explica a investigação, a percentagem de homens que trabalha em atividades em risco de forte automatização é substancialmente elevada.
Por outro lado, dados preliminares de uma pesquisa do Institute for Spatial Economic Analysis (ISEA), da Califórnia, indicam que as mulheres correm o dobro do risco de trabalhar em atividades onde a probabilidade de serem substituídas pela automatização é especialmente elevada.
Os setores administrativos e de serviços, que empregam mais mulheres que homens, estão entre aqueles onde muitas das tarefas passarão a ser desempenhadas por máquinas.
Porém, o futuro não tem de ser catastrófico. Tal como no passado, a tecnologia acabará com alguns trabalhos mas criará outros e há funções em que os robôs dificilmente poderão substituir os humanos.
Naquilo em que todos os especialistas parecem estar de acordo – e não apenas os investidores da Web Summit – é o facto de os poderes públicos e governamentais não estarem preparados para esta transição. Por isso, deixam o alerta de que é preciso os governos começarem a tomar posições relativamente a estas matérias.
Imagem de destaque: Fotografia: Gerardo Santos/Global Imagens