Portuguesas perderam entre 130 a 618 euros por mês em 2020

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[Fotografia: iStock]

As contas são impressionantes. A desigualdade salarial em Portugal pode ter retirado, só em 2020 e ano de pandemia, mais de cinco mil milhões e meio de euros em rendimentos salariais às mulheres. Os cálculos foram feitos pelo economista Eugénio Rosa a propósito do Dia Internacional da Mulher, que se assinala esta segunda-feira, 8 de março.

Contas feitas tendo por “base o número de mulheres com emprego em 2020, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), confrontado com diferença de ganhos entre homens e mulheres, com estimativa feita nos dados divulgados pelo Ministério do Trabalho”, explica, por escrito ao Delas.pt.

“Se em Portugal existisse igualdade salarial e se as mulheres ganhassem o mesmo que os homens com idêntico nível de escolaridade e de qualificação, elas teriam recebido em 2020 mais 5517 milhões euros de salários do que receberam”, refere o especialista, referindo-se ao valor praticado no setor privado.

Perdas individuais mensais entre 130 e 618 euros

Segundo a mesma análise, as diferenças de remunerações base vão desde os 130 até aos 505 euros mensais que elas perdem face aos homens e fruto da desigualdade salarial praticada no país. “Se a trabalhadora tiver o ensino básico ou menos recebe, em média, menos 17%, menos 130 euros, de que o homem como mesmo nível de escolaridade”, lê-se no estudo. E prossegue: “Se tiver o ensino superior, a sua remuneração base é, em média, inferior ao do homem em 27,6%, menos 505,5 euros”.

No que diz respeito aos ganhos médios (salário base+subsídios), o valor em perda é ainda mais discrepante. “Se a trabalhadora tiver apenas o ensino básico ou menos, é inferior ao do homem em 21,8% , menos 206,8 euros. Mas se tiver o ensino superior o seu ganho é já, em média, inferior ao do Homem em 28,4%, 616,8 euros.

“Vem aí um impacto negativo”

Com layoff, encerramento de negócios, permanência em casa e despedimentos, os rendimentos das mulheres vão mesmo emagrecer. “Olhando para 80% dos pedidos para ficar em casa a apoiar os filhos feitos por mulheres, no primeiro confinamento, isso permite-nos desde logo aferir um impacto negativo ao nível dos rendimentos”, antecipa Carla Tavares. A presidente da CITE lembra que tal significava uma perda de 1/3 do rendimento mensal. Recorde-se que as mulheres pedirem inclusivamente apoio por mais tempo, mais dias até, do que os homens fizeram.

Catarina Cardoso, especialista em recrutamento de Recursos Humanos para empresas lembra que “não só estagnou a contratação de pessoas como também a progressão na carreira, com as mulheres a sofrerem mais porque estão ligadas aos setores mais afetados pela crise como a hotelaria, escolas, cabeleireiros, estética”, releva.

“As condições salariais são precárias, seja porque estão em regime individual ou porque recebem menos do que os homens”, acrescenta.

A tudo isto junta-se a questão cultural enraizada: “É muitas vezes mais fácil para os empresários recrutarem homens porque estão sempre mais disponíveis, sempre foi assim. Quando um filho está doente ou é preciso ir à escola, foram sempre elas que tiveram esse papel”, vinca, e refere: “Apesar de os homens terem cada vez mais um papel representativo e colaborativo, mesmo nas tarefas domésticas, certo é que continua a pesar mais e sempre para as mulheres.”