“Mulheres resgataram apenas metade dos empregos do que os homens após verão covid-19”

Depression in women

Empregos perdidos e horários de trabalho reduzidos, violência doméstica crescente provam que o impacto da pandemia foi mais forte nas mulheres e fez “descarrilar as conquistas de igualdade”, alerta o Instituto Europeu para a Igualdade de Género.

O relatório Igualdade de género e as consequências socioeconómicas da crise de covid-19 está a ser preparado a pedido da presidência portuguesa do Conselho da União Europeia, para ser publicado em junho, mas o Instituto Europeu para a Igualdade de Género (EIGE, na sigla em inglês), com sede em Vílnius, capital da Lituânia, tem vindo a revelar alguns resultados.

Em vésperas do Dia Internacional da Mulher, que se assinala a 8 de março, a agência da Comissão Europeia divulgou um comunicado no qual constata que a pressão sobre as mulheres no domínio da conciliação entre a vida pessoal, familiar e profissional aumentou no atual contexto de combate à covid-19.

“A pandemia revelou o potencial de uma força de trabalho digital, mas o teletrabalho também aumentou os conflitos sobre o equilíbrio vida-trabalho, especialmente para as mulheres com filhos pequenos, até cinco anos”, avalia, em comunicado enviado aos jornalistas.

Realçando que os homens “estão a assumir mais responsabilidades pelo cuidado”, o EIGE assinala, porém, que “a fatia de trabalho não remunerado” – tarefas domésticas e assistência aos filhos ou outras pessoas a cargo — “aumentou para as mulheres”. Um relatório da CGTP indicava que, em Portugal, as mulheres estavam a fazer mais uma hora e 13 minutos de trabalho nos dias úteis de trabalho.

Além disso, “a escola ‘online’ representa uma nova forma de assistência não remunerada para os pais, especialmente para as mulheres, mais envolvidas no ensino a distância das crianças”.

A partilha do cuidado familiar foi “mais igualitária” nos lares em que os homens estão presentes, quer em trabalho, quer porque perderam os empregos, nota-se.

Os resultados do EIGE indicam ainda que as mães são mais interrompidas pelas crianças do que os pais, quando ambos estão em teletrabalho. “As distrações constantes e as responsabilidades acrescidas de assistência diminuem a produtividade das mulheres e podem vir a reduzir a progressão na carreira e o salário”, alerta o instituto.

Realçando que há mais mulheres do que homens em teletrabalho (45% vs. 30%), o EIGE assinala também as “pesadas reduções de emprego em profissões dominadas por mulheres”, como é o caso dos setores têxtil, retalho, alojamento, lares e trabalho doméstico.

As mulheres representam a maior fatia da força de trabalho nestes setores e foi nestes que se perderam “40% dos empregos” femininos.

Na primeira vaga de covid-19, verificou-se uma redução de 2,2 milhões de empregos para as mulheres em toda a União Europeia – com Portugal a ser o quinto país com mais perda de trabalho feminino (dados do segundo trimestre de 2020).

Eles perderam mais, mas também são já mais no mercado de trabalho. Os homens perderam 2,6 milhões de empregos, mas a recuperação do trabalho no verão beneficiou-os mais – “as mulheres resgataram apenas metade dos empregos que os homens retomaram”. A frase foi de Carlien Scheele, presidente do EIGE.

Também a redução de horários está a afetar mais as mulheres, com Portugal a ocupar a segunda posição, só atrás de Espanha.

Acresce que, com base em dados do primeiro trimestre de 2020, entre a população europeia que está a passar à inatividade – que, depois de ficar desempregada, não está a procurar emprego -, há mais mulheres em quase todos os Estados-membros (média de 40% vs. 33% nos homens). Também aqui Portugal ocupa a segunda posição, só atrás de Itália, no caso das mulheres, mas desce para sétimo no caso dos homens.

Isso significa que “o impacto económico da pandemia está a ter efeitos mais duradouros nas mulheres”, alerta o EIGE, sublinhando que as jovens (15-24 anos) são as mais vulneráveis.

Neste cenário, “a Europa vai andar para trás”, a não ser que as políticas de igualdade entre mulheres e homens sejam “prioridade e centro dos planos de recuperação”, avisa a agência.

Os Estados-membros terão de integrar a igualdade de género nos seus planos de recuperação económica para acederem ao fundo de recuperação europeu, o que representa “uma pequena vitória” para a diretora do EIGE, citada no comunicado.

Carlien Scheele disponibiliza aos Estados-membros as estatísticas de género do EIGE, “fundamentais para se perceber os diferentes impactos da pandemia em mulheres e homens e identificar onde o dinheiro é mais necessário”.

CB com Lusa