Mulheres são ridicularizadas nas universidades portuguesas

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Um estudo de uma socióloga portuguesa revelou que há sexismo nas universidades nacionais, uma realidade que tem convivido a par com o “discurso oficial” por uma maior inclusão e igualdade, através de formas mais ou menos explícitas de discriminação.

O estudo, apresentado esta quinta-feira, 6 de junho, em Lisboa, foi realizado com base em 40 entrevistas a cientistas e estudantes, além de a investigadora, Maria do Mar Pereira, ter recorrido à “observação em mais de 50 eventos científicos nas ciências sociais e humanidades”, entre 2008 e 2009, e depois entre 2015 e 2016.

Links_familia“O estudo, pioneiro em Portugal e no estrangeiro, mostra que nos últimos 10 anos o discurso oficial nas universidades portuguesas se tem tornado mais igualitário e inclusivo. (…) No entanto, este discurso oficial igualitário coexiste com uma cultura não-oficial marcadamente sexista”, lê-se no comunicado de imprensa.

De acordo com a investigação, em circunstâncias como conversas de corredor, reuniões fechadas, em associações de estudantes e em muitas salas de aulas, a socióloga conseguiu “observar diariamente formas mais ou menos explícitas de discriminação, ridicularização e menorização das mulheres e das pessoas lésbicas, gays, bissexuais e trans, e da investigação científica que elas desenvolvem”.

“Estas manifestações de sexismo são extremamente preocupantes porque têm efeitos muito nocivos a vários níveis: limitam o conhecimento científico que é produzido, reduzem a qualidade da formação universitária, condicionam o sucesso e oportunidades académicos de muitas mulheres e pessoas LGBT, e afetam a sua saúde e autoestima”, demonstra a investigadora.


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Através desta “análise pioneira” de verificação de dados, feita não só com base em provas físicas, mas também nas “culturas de corredor”, foi possível constatar a “existência de um intenso sexismo diário, mas oculto”.

“Este sexismo é expresso muitas vezes através de humor, ou de uma ‘cultura de gozo’. Este humor é visto como uma prática isolada e inofensiva de alguns indivíduos, mas ele é, de facto, uma prática mais generalizada e extremamente nociva, com efeitos muito graves, como este estudo científico vem agora demonstrar”, defende Maria do Mar Pereira.


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