Mulheres ao volante? Na Arábia Saudita é sinal de progresso

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Mulher saudita ao volante, no protesto de 2013.

Pode não mudar muita coisa, mas é simbólico: a partir do ano que vem as mulheres vão passar a poder conduzir na Arábia Saudita. O rei Salman bin Abdulaziz Al Saud emitiu um decreto real que permite a emissão de cartas de condução às mulheres. A inibição de conduzir era uma das mais básicas limitações à liberdade das mulheres sauditas, e uma das mais disputadas pelas ativistas, mesmo no reino fundamentalista regido sob a lei islâmica, a sharia.

Nunca houve uma lei que impedisse as mulheres de conduzir, mas essa era a tradição. Já em 2011, cerca de 40 mulheres encetaram um protesto inédito, conduzindo carros por várias cidades sauditas, depois de Manal Sharif, a fundadora do movimento pela condução feminina e estrela das redes sociais, ter sido presa por publicar um vídeo atrás do volante.

 

Veja o vídeo de Manal Sharif no TED aqui.

 

Uma outra mulher foi condenada a várias verdascadas e o protesto acabou quando as outras foram obrigadas a assinar um documento no qual se comprometiam a nunca mais conduzir. Este ano outra ativista, Loujain Hatloul, foi também detida à entrada no país.

 

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Até hoje. A decisão de mudar esta regra parece vir na sequência de uma certa tendência de abertura numa das regiões mais rígidas do mundo a respeito da lei islâmica. Já na semana passada tinha sido permitido às mulheres entrarem num estádio desportivo pela primeira vez – esta semana foram publicadas fotografias mostrando mulheres veladas a apoiarem os seus clubes de eleição.

Há cerca de um mês, um clérigo fundamentalista disse que as mulheres não deviam conduzir porque o seu cérebro diminui de tamanho, para cerca de um quarto, quando elas vão às compras. O clérigo foi banido.

“Metade da sociedade está paralizada, a condução é só a ponta do iceberg”, disse a ativista Manal Sharif.

 

Já há cerca de um ano o jovem príncipe saudita Alwaleed bin Talal que é cada vez mais o arauto da abertura do país tinha escrito numa carta de quatro páginas no twitter: “Párem o debate, é tempo das mulheres começarem a conduzir”. Embora cautelosos, os analistas dizem que é possível que algo esteja a mudar no país que mais restrições impõe às mulheres.

Até porque a Arábia Saudita está a passar por uma crise económica que restringiu muito os subsídios e os empregos estatais, e começa a ser difícil manter as mulheres em casa sem trabalharem. O incentivo a que o façam não é muito, sobretudo se não tiverem a liberdade de pegar no seu próprio carro.