Marinha incentiva mulheres a concorrer aos submarinos

MB MULHERES MARINHA 24
18-06-2001 Reportagem sobre a incorporacao de mulheres na Marinha. FOTO MARCOS BORGA

Uma tarde a bordo do submarino Arpão ajudou a auxiliar de navegação Noémie Freire a decidir concorrer ao próximo curso da especialidade, em outubro, que pela primeira vez receberá candidatas, pondo fim a mais de 100 anos de exclusão.

“Quando abrir o concurso em outubro vou concorrer. Já tinha pensado nisso há algum tempo. Vou encarar isto como um desafio e vou provar que as mulheres vão ser capazes de exercer funções num submarino tal como são capazes de exercer num navio de superfície”, disse Noémie Freire, auxiliar de navegação no NRP [Navio da República Portuguesa] Bartolomeu Dias.

Com um filho de três anos, a militar disse saber que o mais difícil será a certeza de que estará bastante tempo sem poder comunicar com a família mas afirmou contar com o apoio do marido para poder dar este passo na sua carreira.

Há seis anos que a Marinha portuguesa já dispõe de submarinos com condições logísticas e de habitabilidade que permitem responder aos requisitos de privacidade seja para homens ou mulheres mas apenas agora o ramo decidiu incentivar as militares a concorrer à especialidade.

“Tivemos uma fase de adaptação, essa fase já foi ultrapassada e o atual almirante CEMA [chefe do Estado-Maior da Armada, Silva Ribeiro], aceitou passar à fase seguinte”, justificou o almirante Gouveia e Melo.

O Comandante Naval falava à Lusa a bordo do submarino Arpão, que hoje recebeu um grupo de três alunas da Escola Naval, e uma tenente e uma praça para poderem constatar no local como é a vida e o trabalho num submarino.

“Nos submarinos antigos os homens viviam num regime de cama quente, não tinham instalações próprias. Neste momento há possibilidade de todos os militares terem a sua própria cama também tinha a ver com as casas de banho, antigamente eram mínimas, não se podia tomar banho, não havia água”, descreveu o almirante, com 22 anos de carreira como submarinista.

Com os novos submarinos, já é possível “tomar banho dia sim, dia não” e as “casas de banho já têm porta”, o que permite melhores condições de habitabilidade e de privacidade, sublinhou.

O próximo concurso, que abrirá vagas para oficiais, sargentos e praças em outubro, será dirigido expressamente aos dois sexos e a Marinha conta receber várias candidatas, que serão “todas muito bem recebidas”, disse Gouveia e Melo.

Segundo o almirante, nunca existiu uma proibição expressa mas até hoje apenas uma mulher, engenheira, tinha manifestado vontade de concorrer aos submarinos, há cerca de três anos, uma intenção que não terá chegado a concretizar.

“O facto de estarmos a restringir só a um género também era mau para a própria esquadrilha de submarinos porque temos um leque de opções menor”, sublinhou Gouveia e Melo.

Diana Azevedo, segunda tenente a exercer funções como imediato no NRP Andrómeda, ainda está a equacionar a possibilidade de concorrer mas disse ter gostado do que viu: “Do que pude reparar, a convivência seria como em qualquer outro navio da Marinha em que o espaço é reduzido”, disse.

A bordo do submarino, o secretário de Estado da Defesa Nacional, Marcos Perestrello afirmou que merece “nota positiva” a iniciativa da Marinha de incentivar a participação das mulheres na especialidade.

“O nível de participação das mulheres nas Forças Armadas portuguesas anda na ordem dos 11%, está abaixo dos EUA e Canadá mas está acima da Inglaterra, Bélgica e Holanda e tudo o que possamos fazer para incrementar o nível de participação é benéfico”, disse.

Para o comandante do submarino Arpão, Henriques Frade, uma guarnição [composta por 33 militares] que inclua mulheres será “normal e natural”.