Mulheres tratadas por mulheres têm mais hipóteses de sobreviver a um ataque cardíaco

As mulheres têm mais hipóteses de sobreviver a um ataque cardíaco se forem tratadas por médicos do sexo feminino do que por médicos do sexo masculino. A conclusão é de um estudo coordenado pela Universidade Cornell, de Nova Iorque, e publicado esta semana pela PNAS – Proceedings of The National Academy of Sciences.

O estudo, desenvolvido por três investigadores – Brad N. Greenwood, Seth Carnahan e Laura Huang –, analisou as disparidades de tratamento por género nas taxas de sobrevivência a enfartes, cruzando-a com o género do médico. A investigação foi feita com os pacientes que deram entrada com esse quadro clínico nos hospitais da Florida, entre 1991 e 2010.

Os investigadores concluíram que existia “uma maior mortalidade entre os pacientes femininos tratados por médicos do sexo masculino” e que quando os pacientes femininos e masculinos eram tratados por médicas os resultados eram mais equilibrados, não se registando uma mortalidade superior nas mulheres.

O que quer dizer que “há desafios específicos que se colocam quando são médicos do sexo masculino a tratar pacientes do sexo feminino”, refere o artigo. E a razão pode ter a ver com o facto de os sintomas de ataque cardíaco nas mulheres serem diferentes dos dos homens, mas o padrão de diagnóstico continuar a ter como referência o masculino, para ambos os sexos, como já foi apontado em estudos anteriores.

Pode ver alguns dos sintomas que podem ocorrer nas mulheres em caso de ataque cardíaco.

Há desigualdades em muitos contextos diferentes, mas quando alguém sofre um ataque cardíaco espera-se que não existam diferenças de género, porque qualquer médico vai querer salvar a vida do seu paciente. Mas mesmo aqui vemos um teto de vidro”, lamenta Laura Huang, professora de psicologia organizacional da Harvard Business School e uma das investigadoras do estudo, citada pela revista Atlantic.

A equipa rejeita, porém, que esta desigualdade de género seja um sexismo propositado e assinala outros pontos que, a par dos sintomas ignorados em diagnósticos, podem influenciar: por um lado, as pacientes terão maior à vontade a explicar o que sentem a alguém do mesmo sexo, uma médica, que por sua vez são mais propensas a fazer a ligação entre esses sintomas reportados e um enfarte. Por outro, “os médicos mais eficientes – i.e., as médicas – aplicam ao máximo as suas competências no tratamento dos pacientes que apresentam mais desafios – i.e., os pacientes femininos”, nota o artigo que acompanha o estudo.

A diferença, apurada pela investigação, entre a taxa de sobrevivência dos homens tratados por médicas era de 88,1%, comparando com os 86,6% da taxa de sobrevivência de mulheres tratadas por médicos. A diferença manteve-se mesmo tendo a equipa considerado para a análise fatores como os anos de experiência e a idade do paciente, origem étnica, outras doenças, nível de formação ou historial hospitalar.

Uma diferença recuperável

Ainda que assinale uma desigualdade, a pequena diferença de percentagem verificada nas taxas de sobrevivência (1,5%) serve, sobretudo, para mostrar que há fatores que estão a ser considerados pelos médicos do sexo feminino que têm um impacto positivo na saúde dos pacientes do mesmo sexo e que podem ser aplicados pelos seus colegas masculinos.

Como sustenta a investigação, dos médicos (do sexo masculino) que participaram no estudo, os que se revelaram mais eficazes a tratar mulheres foram os que já tratavam pacientes femininas há mais tempo e que tinham trabalhado em hospitais com mais médicas.

O estudo mostra que quando a proporção de médicas nos serviços de emergência aumenta em 5%, a taxa de sobrevivência das pacientes sobe 0,4%, pelo que sugere que os colegas do sexo masculino podem beneficiar dos conhecimentos das primeiras e da sua maior sensibilização para as especificidades dessas pacientes.

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