Na Serra da Estrela há um hotel que não precisa de neve

A relação da Covilhã com a lã é antiga e agora há um hotel que celebra a lã, onde no spa nos massajam com ela e com azeite, os produtos mais genuínos da terra.

Terroir designa o que é de uma terra e não de outra. E quando a terra dá lã, boa e muita, só faz sentido montar toda uma história à sua volta e vendê-la da melhor forma. Foi isso que fez o Puralã – Wool Valley Hotel & Spa, na Covilhã.

Chegando ao Puralã – Wool Valley Hotel & Spa, e ao perceber as sinergias que este cultiva e tece dentro da cidade da Covilhã e com os seus conterrâneos, esquecemos a desgraça e o horror dos fogos deste verão. Com este hotel (e com os restantes empreendimentos do género espalhados pela Serra) o grupo Natura IMB Hotels é uma força congregadora de pessoas, gerando emprego e atraindo turistas. Cada unidade hoteleira pretende ser temática, e depois do sucesso que tem sido o H2Otel, do mesmo grupo e de fundo inspiracional termal – outra riqueza natural da Serra – o Puralã é o novo mais que tudo do grupo.

O Puralã – Wool Valley Hotel é a porta de entrada para este turismo que rodeia toda a história da indústria lanífera, a responsável da prosperidade passada da Covilhã. Mas se a indústria desapareceu, a memória é motivo suficiente para montar todo um enredo com que cativar turistas e devolver parte da prosperidade à cidade.

Tanto as águas para o H2Otel, em Unhais, como a lã para o Puralã da Covilhã são chamarizes turísticos com que o grupo Natura IMB tenta complementar o único atrativo com que nos tem levado à Serra da Estrela: a neve. Com as alterações climáticas, não sabemos quando e durante quanto tempo haverá neve na Estrela, mas a Serra é tão mais que neve.

Os responsáveis pelo Puralã – Wool Valley Hotel não esqueceram que grande parte do encanto da vida de um hotel, especialmente nos dias de hoje, passa pelo spa. E não o incluíram apenas no nome: um dos imperdíveis na estada é uma massagem desenhada de propósito, em função da filosofia que é base do hotel. Chama-se Ritual da Lã e dura 90 minutos, mas é um momento em que parece que hora e meia nunca passou tão depressa. Começa com um enrolamento em lama de chá verde, fragrante e fresca, em que nos envolvem numa película transparente e nos abafam em mantas de lã, connosco de olhos vendados. E de olhos vendados será feita toda a massagem de 90 minutos, para que os olhos não digam à cabeça que depois do duche que limpa o chá virão massagens com mechas de lã virgem, e logo depois azeite quente sobre a pele, com que a massagista magistralmente nos besunta e esfrega, dos dedos dos pés até às orelhas.

Não sei se o melhor desta estada é esta massagem. No mesmo fim de semana, o Puralã apresentou o novo menu, como desculpa, tenho a certeza, para dar a conhecer a nova carta de vinhos criteriosamente escolhidos aqui, neste terroir magnífico que é já excelente opção para os turistas que acham que Lisboa já deu o que tinha a dar. A nenhum destes Beyras se torce o nariz, bem pelo contrário. Mas há um que daqui para a frente vou consumir: o Beyra Reserva Branco Quartz, maturado em inox (inox sim, esqueça lá tudo o que lhe disseram sobre cascos de carvalho francês): o Beyra Quartz nem parece vinho, é um refresco, onde o álcool só se revela depois da boca estar toda inundada de citrinos, com a lima e a toranja sobre todos eles. A acompanhá-lo o chef Hélder Bernardino gizou uma Truta de Manteigas com Camarão num Crocante de Massa Folhada, com um Duo de Legumes e Gengibre Rosa.

O tinto que muito eventualmente fará frente a este branco raro, brilhante e excelente acompanhava a carne, o cabrito claro, acompanhado de arroz de carqueja, perfumado com o fumeiro dos enchidos, não fora esta a Serra da Estrela. Este Beyras Superior Tinto é também ele realmente da Serra: é um vinho de montanha, de vinhas cultivadas a mais de 700 metros de altitude, tornando-o único.

A experiência à volta da lã e da sua indústria na Covilhã tem no Puralã apenas a porta de entrada. O hóspede é convidado a conhecer todo o turismo industrial sobre as memórias da terra e da comunidade, mas este artigo já vai longo, tudo aquilo que a cidade tem para lhe oferecer ficará para um segundo tomo.

Mas posso já adiantar que há um mocho com 7 metros de altura numa fachada de casa centenária, construído com desperdícios mecânicos, um casal que se soube reinventar para que todos possamos ver ainda como era um lanifício original e um museu onde nos explicam porque todas as trabalhadoras tinham que usar coque e virar as pontas dos lenços de lavradeira para as costas.

O Puralã – Wool Valley Hotel & Spa fica no centro urbano da Covilhã. Preços a partir de €50.

 

#delasfaz: Todo-o-terreno todo o fim-de-semana

Benidorm não é só praias e copos à noite