Namorados já “usam apps para monitorizarem onde cada um está”, alerta CIG

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[Fotografia: Freepik]

A violência no namoro está a trazer uma equiparação entre comportamentos femininos e masculinos no controlo e agressão entre companheiros. E, para lá desta prevalência cada vez mais equitativa entre o género das vítimas e dos agressores, há também uma maior “normalização” de comportamentos desadequados e alcance nas ferramentas usadas para a perpetrar agressão.

“Há dados que indicam que os jovens usam apps (aplicações de telemóveis) para monitorizarem onde cada um está, em tempo real”, revela a presidente para a Comissão para a Cidadania e Igualdade. Sandra Ribeiro crê que a decisão de pedido e de cedência do controlo é “aparentemente voluntária [entre os namorados] – ainda que possa ser sempre condicionada – e é extremamente preocupante, ou seja, se namoras comigo, se tens ciúmes, tens de fazer isto porque gostas de mim”.

Denúncias e preocupações que começam a chegar a cerca de duas semanas do Dia dos Namorados, que se assinala a 14 de fevereiro, ocasião em que são apresentados os dados anuais do Estudo Nacional da Violência no Namoro feito diretamente nas escolas e auscultando jovens dos 12 aos 20 anos.

Sem adiantar para já dados concretos relativos a 2024, a presidente da CIG não antevê alterações profundas ao que tem sido revelado nos últimos anos, sublinhando, porém, uma tendência para a “equiparação entre comportamentos agressivos femininos e masculinos”, para a permissão crescente da “invasão da esfera privada” e para a “normalização” de atitudes que “consideramos violentas, como a perseguição nas redes sociais, a cedência de palavras-passe e também a geolocalização”.

E Sandra Ribeiro acrescenta: “já estive projetos interessantes de dramatizações com atores e nos quais pomos os alunos a fazerem papéis, sendo eles livres para atuarem como quiserem, e a tendência é a de ‘se tu não queres que eu saia assim, não saio’, ‘não gosto dessa pessoa, portanto é melhor não ires’. Há uma anulação do espaço individual”

“Está a deixar-nos muito preocupados” afirma Sandra Ribeiro, que crê que “é preciso fazer mais em formação e capacitação do pessoal docente”. Depois de anos de campanhas a alertar para estes perigos, a presidente da CIG sublinha que é preciso “fazer mais e de forma consistente na educação pela igualdade e contra a violência, que tem de ser atacado desde muito cedo”. A responsável vinca que “as mentalidades são muito difíceis de mudar e temos de ter mais consistência na narrativa antiviolência e que ainda não temos”. Arrisca, aliás, estar mais volátil tendo em conta, como lembra Sandra Ribeiro, que “o que temos nas redes sociais não é nada inspirador, com bloggers e influencers que aprecem do nada e que defendem posições extremamente conservadoras e machistas e que defendem que as mulheres devem ficar em casa, a cuidar dos filhos”.

No que diz respeito à violência no namoro e a par da apresentação dos resultados anuais do Estudo Nacional sobre Violência no Namoro Artémis, feito desde 2017 e com a União de Mulheres Alternativa e Resposta, a CIG prepara uma conferência de imprensa para o dia 14 de fevereiro e abordarão a matéria em múltiplas plataformas, entre elas as redes sociais, que é a, ao mesmo tempo, “ a forma mais direta de chegar aos jovens”.