Nancy Pelosi. 12 detalhes que tem mesmo de conhecer

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[Fotografia: EPA/FRANCK ROBICHON]

Nancy Pelosi tem sido nos últimos dias tema de debate e controvérsia por todo o mundo. Em causa está a visita da presidente da Câmara do Representantes norte-americana a Taiwan, que a colocou debaixo de fogo por parte do governo de Pequim – de quem já foi alvo de sanções -, mas muitos são os opositores que tem vindo a recolher ao longo de uma das maiores carreiras políticas que os Estados Unidos da América (EUA) já viram.

Nancy Pelosi herdou dos laços familiares o gosto pela política, mas seria apenas mais tarde, aos 47 anos e por via de uma amiga, que assumiria a representação de um dos maiores estados norte-americanos: a Califórnia. Congressista com 35 anos de carreira, a terceira figura mais alta do país apresenta um currículo invejável e impõe-se como um símbolo para as mulheres. Tem sido voz ativa pelos direitos do aborto após reversão da lei federal Roe v. Wade

A speaker da Câmara dos Representantes dos EUA, de 82 anos, é uma veterana, não apenas pelo tempo em que percorreu os corredores do Capitólio, mas também pelo peso político que o seu nome carrega junto da população norte-americana. Agora, depois de visitar Taiwan, provou ser mais do que uma figura fulcral da política interna, mas também uma representante da diplomacia ocidental.

Para lá desta dimensão, a democrata é, em detalhes não tão públicos, mãe, filha, amiga, mulher e um símbolo. Conheça 12 detalhes sobre a terceira figura mais poderosa dos Estados Unidos.

Pelosi nasceu em 1940, no seio de uma família italo-americana, em Baltimore. O pai, Thomas D´Alesandro Jr. foi um congressista democrata e presidente de Câmara da cidade natal. Thomas D´Alesandro III, um dos seus cinco irmãos, viria a seguir as pisadas do pai e tornar-se-ia também autarca da mesma cidade.

A democrata cresceu nos meandros políticos. Através do seu pai, a jovem Nancy, conta o The Washington Post, começou a entender o jogo político ao apoiar o pai no exercício das suas funções enquanto presidente da Câmara de Baltimore. Pelosi estava encarregue de cuidar do livro de favores políticos do seu pai, algo que rapidamente lhe mostrou a responsabilidade e astúcia do poder.

Mãe de cinco filhos, esperou até aos 47 anos de idade, quando a filha mais nova estava no último ano do secundário, para se candidatar a um cargo público, em 1987. Já à data, era uma voz sonante nos bastidores democratas.

Pelosi foi a primeira mulher a liderar um partido na Câmara dos Representantes dos EUA, quando assumiu a posição de líder da minoria, em 2004. Três anos mais tarde, tornou-se a terceira figura política mais poderosa dos Estados Unidos e a primeira mulher a ser eleita para o cargo de speaker. De acordo com o sistema político norte-americano, acima do cargo encontram-se apenas o de Presidente e o vice-presidente do país. Até à eleição de Kamala Harris, a atual vice-presidente dos EUA, Nancy Pelosi era a mais poderosa que alguma vez o sistema político norte-americano havia conhecido.

Foi a primeira a ser reeleita para o cargo, não consecutivamente, em mais de 60 anos, ao recuperar o mandato em janeiro de 2019. O primeiro decorreu de 2007 a 2011 e durante o mandato presidencial de Barack Obama.

A congressista conseguiu unir as fações mais liberais e mais conservadoras do partido, detém o recorde de fundos angariados para os democratas, com o recorde de cerca de 100 milhões de dólares (98 milhões de euros) para fins partidários.

Nancy Pelosi representa o estado da Califórnia desde 1987, depois de ter sido persuadida pela sua amiga Sala Burton, então representante daquele estado na Câmara dos Representantes. Sala Burton, que viria a morrer no mesmo ano, encontrava-se em fase terminal de um cancro no cólon e fez Pelosi prometer que seria ela a ocupar o cargo que iria eventualmente abandonar.

O Affordable Care Act, assinado pelo presidente Barack Obama, em 2010, teve como principal força motora Nancy Pelosi, no decurso do primeiro mandato. O projeto que garante o acesso de todos os americanos a cuidados de saúde com preços mais baixos e de qualidade enfrentou sérias dificuldades em obter sinal verde. Até os próprios democratas davam a lei como morta. Contudo, Pelosi estava determinada a fazê-la passar, nem que fosse só uma parte dela, fazendo mais tarde as emendas necessárias. Conseguiu, de facto, chegar a um compromisso na Câmara dos Representantes, o que lhe valeu o louvor de Obama que chegou mesmo a apelidá-la de “melhor speaker da Câmara dos Representantes de sempre”.

Em 2013, a congressista recebeu um prémio Lifetime Achievement da comunidade LGBT. A distinção reconheceu o trabalho da democrata a favor da comunidade LGBT no Congresso. A democrata votou contra o Defense Marriage Act, uma proposta que pretendia a definição federal de casamento enquanto um ato celebrado entre um homem e uma mulher. Apoiou ainda a abolição do Don´t Ask, Don´t Tell Act que impedia que membros assumidos da comunidade LGBT servissem nas forças militares norte-americanas e é regularmente vista em eventos públicos da comunidade. Chegou mesmo a comparecer enquanto convidada no espetáculo Drag Race de Ru Paul.

Pelosi abriu dois procedimentos de impeachment contra Donald Trump. O primeiro devido a pressões feitas pelo então presidente dos Estados Unidos a Zelensky, o presidente ucraniano, para abrir investigações a Joe Biden e ao seu filho, alegadamente, em troca de ajuda humanitária. O segundo procedimento surgiu após invasão do Capitólio no dia 6 de janeiro de 2021, depois de uma publicação no Twitter do antigo presidente norte-americano ter, conforme muitos entenderam, “incitado à revolta e à insurreição”.

A filha de Nancy Pelosi Alexandra Pelosi é realizadora de filmes documentais premiados, conta com 12 no currículo, e alguns com entrevistas a apoiantes de Donald Trump, um dos grandes opositores políticos da mãe. O nome do seu mais recente trabalho é American Selfie: One Nation Shuts Itself, que retrata a polarização política dos cidadãos em clima de protestos ambientais, de racismo e covid-19.

Pelosi tem um gosto peculiar por doces, particularmente por chocolate. Chegou mesmo a admitir num podcast que come frequentemente gelado de chocolate ao pequeno-almoço. Numa entrevista ao Huffington Post, a presidente da Câmara dos Representantes admitiu que o marido lhe comprou uma bicicleta estática e, durante o breve período em que a utilizou, comia pedaços de chocolate enquanto se exercitava. Nas suas palavras: “se não posso comer chocolate enquanto o faço, então porquê fazê-lo?”. Até o presidente Barack Obama, conhecedor do seu gosto por doces, lhe ofereceu, em mais que um aniversário, chocolate negro, o favorito.