Desde o início do ano, 1 de janeiro, que os municípios passaram a ser obrigados, por diretiva europeia, à recolha seletiva de resíduos têxteis. Contudo, as empresas dedicadas ao setor da reciclagem antecipada não só desafios, como dificuldades devido, sobretudo, à fast fashion, ou seja, ao consumo de moda rápido agilizado pelos constantes lançamentos de produtos e a preços mais baixos.
“A percentagem que vai para incineração é de cerca de 10%”, afirmou, em entrevista à agência Lusa, o diretor da empresa de reciclagem têxtil Wippytex. Luís Fernandes alerta para o facto de o setor “estar a atravessar uma crise” provocada pela “saturação do mercado”, que “já não tem espaço para reciclar”. De acordo com o representante, “muitas associações que se movem no espaço da União Europeia dizem que há um pré-colapso neste setor”. “E nós não sabemos se vamos conseguir reciclar toda esta quantidade de têxtil”, salienta.
Luís Fernandes recorre aos números para clarificar os seus receios: em 2023, segundo um relatório de uma associação do setor, foram buscar à natureza 32 milhões de toneladas de algodão e só foram incorporadas 317 mil toneladas de fibras recicladas naturais de algodão.
Convicto de que a fast fashion vai continuar “porque as empresas querem fabricar para elas e desde que tenham mercado não vão parar”, o administrador da Sasia – Reciclagem de Fibras Têxteis admite que o futuro possa “por fabricar materiais mais sustentáveis, amigos do ambiente, e incorporar as fibras recicladas nesses produtos, que é o que o cliente final pede e exige e que as marcas podem incorporar”.
Miguel Silva revela, também em declarações à Lusa, que a empresa está envolvida em “muitos projetos da economia circular”. “Estamos a participar em projetos internacionais para estudar novas aplicações para esses resíduos pós-consumo que vão surgir no mercado em quantidade. A fase seguinte será escalar a quantidade que vai aparecer no mercado e a sua função”, afirma o responsável. Dos projetos em desenvolvimento, Miguel Silva revela estarem a ser estudadas “aplicações para a construção, de isolamento para a parte acústica, e para a indústria automóvel”. Trata-se, indicou, de “duas aplicações que podem consumir grandes quantidades” de material têxtil reciclado.
Sediada em Gondomar, a Wippytex está desde 2008 no mercado da reciclagem de têxteis, trabalhando atualmente com 30 autarquias, entre câmaras municipais e juntas de freguesia, de Viana do Castelo a Lisboa. Para o efeito, a empresa coloca na rua contentores de recolha de têxteis – os denominados roupões -, seguindo-se a circularidade que determina que uma pequena parte seja para reutilização e a maior parte para reciclagem. Nesta matéria, afirma Luís Fernandes, “fazemos a transformação em novos produtos: panos para limpeza, absorventes e novo fio”, explicou o responsável, referindo que, no caso do algodão, “após ser recolhido das t-shirts, é desfibrado e enviado para fazer fio reciclado”.
Já a Sasia – Reciclagem de Fibras Têxteis, no mercado desde 1952, trabalha diretamente com empresas do setor na área do pré-consumo, reciclando mensalmente cerca de duas mil toneladas de material.
“Temos a maquinaria de última geração. Estamos relativamente preparados para aumentar a quantidade que resulte da aplicação da norma de 2025, pois vai aparecer no mercado um grande volume de material de pós-consumo, mas não será logo no início”, adverte Miguel Silva, responsável da empresa sediada em Ribeirão, concelho de Vila Nova de Famalicão, distrito de Braga.
LUSA