Não um, mas três tipos de cancro de mama. Eis as diferenças e os riscos

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[Fotografia: Pexels/Klaus Nielsen]

Não existe apenas um cancro da mama. Existem vários, subdividem-se entre si e têm incidências e consequências distintas. “Os tumores luminares, triplos negativos e HER2 são três classes muito diferentes que, sobretudo em tumores já com alguma dimensão, têm implicações no prognóstico e no primeiro tratamento a realizar”, explica, ao Delas.pt, o médico oncologista Pedro Madeira do Instituto Português de Oncologia (IPO) de Coimbra.

Neste mês Internacional de Prevenção do Cancro da Mama, que se assinala em outubro, especialistas e associações sensibilizam a população para o facto de mulheres com diferentes estilos de vida e historiais familiares desenvolverem diferentes subtipos da doença. Sendo submetidas também a tratamentos distintos.

Dependendo das características do tumor, do tipo de célula mamária que o originou e o seu estadio (dimensão do tumor na mama), às doentes oncológicas são traçados tratamentos adaptados às suas especificidades, desde a cirurgia à hormonoterapia, quimioterapia e radioterapia.

Pedro Madeira encara de forma positiva como o cancro da mama tem sido reconhecido enquanto uma doença crónica em Portugal, relembrando os avanços que a área da saúde tem feito em termos de terapias alvo e de cirurgias menos invasivas. “Atualmente, através da panóplia de tratamentos que temos, podemos fazê-los de modo sequencial e, portanto, estas mulheres podem ter vidas longas e com qualidade de vida”, refere.

Os tumores mais prevalentes na população portuguesa são os cancros da mama luminares A que, “à partida, respondem bem à hormonoterapia e à terapia utilizada no seu tratamento, quer em fases iniciais quer em fases avançadas, o que torna a vida [das doentes] durante os cinco anos claramente superiores”, aponta o oncologista. Acrescentando que o subtipo B já tem algumas características “mais agressivas” que tornam necessária a quimioterapia “quer seja antes quer depois da cirurgia”.

Encaminhada com risco, Elisa Monteiro de 50 anos, com cancro da mama luminar B, começou por ser operada. Numa só cirurgia foi-lhe retirado o tumor e reconstruído o peito. “Na altura pensei que o tratamento começasse pela quimioterapia, como é habitual, mas fui logo operada. Fiquei preocupada”, conta. Um percurso que a alarmou, tendo depois percebido que representava o contrário.

Elisa Monteiro [Fotografia: DR]
Elisa Monteiro [Fotografia: DR]
“Tive o instinto de ir à procura de informação na Internet, mas disse-me o médico que havia 99% de cura e que dependia do tipo de cancro”, acrescenta ao Delas.pt.

Tumores mais agressivos em mulheres mais novos

Pedro Madeira alerta que a própria idade é um fator de risco para desenvolver cancro da mama, mas que “felizmente, nas idades mais avançadas, são diagnosticados tumores luminares que conseguimos controlar apenas com cirurgia ou com esta concilidada com hormonoterapia e diminuir o risco de a doença voltar a aparecer naquela mama ou na outra, ou mesmo metástases noutros locais do corpo”.

Os triplos negativos integram os tumores mais agressivos que afetam sobretudo mulheres mais novas, ainda na casa dos 20 anos, em grande parte devido a antecedentes na família. Neste tipo de cancro da mama, o oncologista refere que as células cancerosas reproduzem-se rapidamente, por isso, “a imunoterapia surge como uma porta para os tratar”.

Cerca de ¼ das doentes (25%) são diagnosticadas com cancro da mama HER2-positivo. “Uma em cada quatro mulheres tem esta característica [n.r: proteína que acelera a reprodução das células anómalas] que, ainda antes de ser descoberta, fazia-nos perceber que algumas doentes com lesões similares tinham um prognóstico muito mais agressivo”, sublinha Pedro Madeira, referindo que nos dias de hoje “existem tratamentos que só estas mulheres com este subtipo o podem fazer”.

Quanto às taxas de sobrevivência nos primeiros cinco anos desde o diagnóstico, Pedro Madeira refere que os tumores luminares rondam os 85% a 90%, baixando para os 65% a 70% nos restantes tipos da doença.

Entre os fatores de risco para desenvolver cancro da mama destaque para o tabagismo, o excesso de peso e a obesidade, a idade das mulheres, a menopausa precoce ou tardia. A estes juntam-se outras causas como a não amamentação, o histórico familiar e fatores genéticos como a mutação hereditária dos genes BRCA 1 ou 2, que torna mais suscetível o surgimento da doença de geração em geração, e em idades mais jovens.

Em Portugal, todos os anos são detetados cerca de 7 mil novos casos de cancro de mama, e 1800 mulheres morrem durante a luta contra esta doença. Apenas cerca de 1% de todos os cancros da mama são homens, de acordo com a Liga Portuguesa contra o Cancro.

Fertilidade após o diagnóstico

Uma das sequelas do cancro da mama que preocupa as mulheres mais novas é a menopausa precoce, que lhes retira a possibilidade de virem a ser mães. Porém, o médico oncologista sublinha que esse desejo pode ser mantido e concretizado através de tratamentos para a fertilidade. “É uma opção com que estas mulheres devem ser confrontadas no diagnóstico”, recomenda.

Carolina Silveira [Fotografia: DR]
Carolina Silveira [Fotografia: DR]

É o caso de Carolina Silveira, 32 anos, que planeava ter sido mãe aos 30, mas o diagnóstico de cancro ao 29 adiou o projeto. Agora, depois de ter terminado a radioterapia, o que aconteceu recentemente, a doente de cancro da mama triplo negativo tem de esperar dois a três anos para poder começar os processos de fertilização.

Depois de avaliadas para a preservação de óvulos, “as mulheres, sobretudo com um tumor triplo negativo em idades mais precoces, podem, passados alguns anos desde o final do tratamento, ser mães. E mesmo nos tumores luminares isso pode ser realizado”, esclarece Pedro Madeira, acrescentando ser necessária a intervenção conjunta de oncologistas e ginecologistas.