Nasty Women: O movimento de arte global feminista está de regresso a Portugal

guerrila girls

Inês Mourão tem apenas 21 anos, mas é a ela que se deve, pelo segundo ano consecutivo, a organização da edição portuguesa da exposição Nasty Women Exibihition, que arranca esta quinta-feira, 19 de abril, no espaço Anjos 70, em Lisboa.

A mostra insere-se num movimento de arte global feminista, que começou nos Estados Unidos da América, depois da eleição de Donald Trump, para apoiar a organização Planned Parenthood. Nas exposições Nasty Women, os artistas participantes doam as suas obras para leilão e as receitas revertem a favor de organizações que apoiam as mulheres, nos diversos países que acolhem as iniciativas.

Para a edição portuguesa, explica em entrevista ao Delas.pt a designer lisboeta, houve mais de 60 inscrições, que resultaram no contributo de 40 artistas, entre os quais de Al Diaz (veterano do graffiti nova-iorquino) e do grupo de artistas feministas Guerrilla Girls. A exposição está patente até 4 de maio, com o leilão das peças de Al Diaz a decorrer no dia 5 – as restantes obras estão disponíveis para venda imediata. E a Nasty Women Portugal já escolheu a organização portuguesa que vai beneficiar das receitas angariadas.

Em que consiste esta exposição, com este conceito Nasty Women associado?
Este conceito de “Nasty Women” surgiu nos Estados Unidos da América, em 2016, através do movimento de duas artistas relativamente aos comentários de Donald Trump contra a adversária Hillary Clinton [a expressão “nasty woman” foi usada pelo atual presidente norte-americano em relação à antiga Secretária de Estado de Barack Obama, durante a campanha para as eleições presidenciais]. Em 2017 aconteceu a primeira edição cá em Portugal. Já estava a acontecer já noutros países da Europa e entretanto reparei que não existia nenhuma em Portugal e decidi fazer. Avancei com a iniciativa “Nasty Women” cá e o objetivo da nossa, uma vez que o panorama português é muito diferente do panorama dos Estados Unidos, decidi adaptar o conceito um pouco à nossa realidade. O objetivo principal da Nasty Women Portugal é a educação. É conseguir criar uma partilha de perspetivas, experiências, de mundos e realidades que possa ser entendida por todos. A educação para a cidadania, para o pensamento crítico e para a consciência social e para a tolerância. Eu diria que esse é o objetivo desta exposição.

Mas em que é que se traduz exatamente a adaptação do conceito americano a Portugal?
Nos Estados Unidos, as receitas das exposições que têm sido feitas revertem a favor da organização Planned Parenthood, que visa ajudar o público feminino, maioritariamente, e da comunidade LGBT. Porque o presidente norte-americano estava a querer acabar com os apoios do Estado às clínicas dessa organização, e elas prestam serviços muito importantes, como o planeamento familiar, aconselhamento ao aborto, ajuda pessoas que sofrem de cancro da mama. É um apoio fundamental para as mulheres e com o sistema de saúde dos EUA deixar de existir uma Planned Parenthood, acho que o impacto seria bastante negativo. E a diferença em relação a Portugal é que o nosso foco não é somente as mulheres, é nas mulheres e nas questões das minorias. Este ano, o total das vendas angariadas será doado aos projetos ‘É Uma Vida’ e ‘No Border’, da associação Crescer, que acaba também por ajudar mulheres, porque temos mulheres em situações vulneráveis em todos os campos da sociedade. Por acharmos que a nossa dinâmica aqui é um bocadinho diferente, não desvalorizando os problemas relativos às mulheres, porque existem, mas queríamos ampliar um pouco o espetro e ajudar o maior número de pessoas possível em situação complicada.

Em 2017 as doações reverteram para a UMAR.
Sim.

Quantos artistas participam nesta exposição?
Tivemos mais de 60 inscrições de obras para o nosso open call. Na exposição deste ano participam 40 artistas de todo o mundo – Finlândia, Noruega, Estados Unidos, Inglaterra, Holanda, África do Sul. Conseguimos chegar a muitos sítios. Depois temos duas participações especiais. Um artista norte-americano, o Al Diaz, que foi o parceiro do início de carreira de Jean Michel Basquiat [um dos pioneiros do graffiti nova-iorquino]. O outro coletivo são as Guerrilla Girls [na imagem]. Elas doaram uma obra para a nossa exposição, apoiando-nos nesse sentido, e essa obra também está patente, até dia 4 de maio.

Que obras vão estar em exposição?
Temos um pouco de tudo: pintura, escultura, instalação, ilustração e fotografia.

Por que quis trazer para Portugal este projeto?
Já senti na pele muita desigualdade e muita discriminação, por ser mulher, por ser mulher e estar nas artes, por ser mulher e estar na música. Eu cheguei a fazer hip-hop, há uns anos, e principalmente nesse meio eu sentia muita discriminação e sentia que, modéstia à parte, o meu trabalho era bom o suficiente para ser valorizado. Então por que é que isso não acontecia? Sinto que muitas vezes nós mulheres temos esse medo de admitir que somos capazes e que realmente temos valor e que somos uma mais-valia. E um dos meus objetivos é falar para todas as mulheres deste país, até onde me for possível, e mostrar que, de facto, nós merecemos isso. E temos de trabalhar por nós e temos também que ser tolerantes, tentando ajudar todos os que podemos.