Nadar não aumenta o volume dos braços

shutterstock_251794285

Com recurso à robótica e a técnicas de filmes de animação, um investigador do Porto concluiu que aumentar a frequência ou a velocidade dos movimentos de um nadador não altera a percentagem de esforço exercido pelos músculos do ombro.

“Este resultado é surpreendente. A teoria previa que os músculos perto do tronco despendessem cada vez mais energia consoante o ritmo [do exercício da natação] fosse aumentando”, disse à Lusa o responsável pelo estudo Modeling aquatic constraints: its application from competitive swimming to rehabilitation (‘Modelando restrições aquáticas: a sua implementação da natação competitiva à reabilitação’), Jessy Lauer.

De acordo com o investigador da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP), a demanda de energia total e o esforço vão aumentando com o ritmo do exercício e a novidade prende-se com a distribuição dessa energia nos grupos musculares do braço.

Com o aumento do ritmo ou da velocidade dos movimentos, os músculos ao redor do ombro continuam a contribuir em 49% para o exercício, acontecendo o mesmo com o cotovelo, restando 02% para o pulso, “independentemente da intensidade”.

Por outras palavras, “os grupos musculares mantêm as mesmas funções mecânicas”, sendo os músculos do ombro e do cotovelo “sempre os motores do movimento” e os do pulso os “mais estabilizadores”, explicou o investigador segundo o qual “aumentar a carga não muda nada”.

Jessy Lauer indica que isso vai contra a teoria que indica que os músculos perto do tronco, como os em redor ombros, deveriam proporcionar muito mais energia (75% ao contrário dos verificados 49%) e tornarem-se nos mais importantes para o exercício.

Através deste projeto, pretende desenvolver, “pela primeira vez”, ferramentas para avaliar os esforços mecânicos da estrutura corporal interna em ambiente aquático, recorrendo a simulação computacional de escoamento de fluidos e de análise dinâmica inversa.

“Estudar o ser humano num ambiente inédito e exigente [em termos de esforços a produzir contra a resistência da água] permitiu descobrir uma estratégia de controlo motor idêntica ao da locomoção terrestre”, indicou Jessy Lauer.

Segundo o investigador, esse facto ajuda a explicar as respostas motoras observadas através da atividade muscular dentro da água, no nadador, tal como as registadas em contexto de marcha ou de corrida, em terrenos que requerem esforços contra a gravidade, como em locais inclinados.

Esta descoberta tem igualmente aplicações no domínio da saúde, fornecendo sugestões para prever qual a solicitação das articulações ao variar a intensidade do exercício aquático e possibilitando a otimização dos protocolos de reabilitação.

“Embora a dinâmica inversa seja, sem dúvida, a metodologia mais utilizada no domínio da biomecânica para calcular as forças internas (…) esta nunca foi aplicada na água”, referiu Jessy Lauer.

Essa lacuna deve-se ao facto de as forças hidrodinâmicas exercidas sobre o corpo em movimento serem “dificilmente calculadas”, não havendo possibilidade de medi-las com a precisão requerida através dos métodos atuais.

No projeto, que finaliza em meados de 2017, participam ainda os professores João Paulo Vilas-Boas, do Laboratório de Biomecânica do Porto (Labiomep) e da FADEUP, e Annie Rouard, do Laboratório de Ciências do Movimento Humano da Universidade de Savoie (França), como supervisores.