Natalia Veselnitskaya é polémica nas frases que profere e tem como máxima “nunca implores nada a ninguém“. Tem 42 anos, foi casada com Alexander Mitusov, um antigo vice-ministro dos Transportes russo, de quem tem um filho, e venceu já mais de 300 batalhas em tribunal. Formada em 1998 pela Academia Jurídica Estatal de Moscovo, trabalhou três anos no setor público até abrir o seu escritório, o Camerton Consulting.
Foi esta mulher divorciada, com conhecidas ligações ao Kremelin, que terá participado no encontro secreto com Donald Trump Jr, Jared Kusner (genro do presidente norte-americano) e Paul Manafort (ex-diretor de campanha), alegadamente para passar material incriminatório e comprometedor sobre a então candidata Hillary Clinton na corrida à Casa Branca. Especula-se assim a intervenção do governo russo para ajudar Donald Trump a vencer as eleições presidenciais em 2016.
Conta o El Mundo que, enquanto esteve casada com Alexander Mitusov, Natalia Veselnitskaya criou laços profissionais com Pyotr Katsyv, na altura ministro da mesma pasta que o marido, e atualmente um dos homens mais poderosos de Moscovo. Construiu centros comerciais em terrenos que a própria Natalia conquistou em tribunal. Ela tornou-se advogada da família Katsyv, que tem o patriarca como alvo de denúncias de corrupção. Veselnitskaya também defendeu Denis Katsyv, filho do ex ministro dos Transportes, em casos de lavagem de dinheiro em Nova Iorque.
Ativista, orgulhosa da sua pátria, ao que parece com acesso a informações privilegiadas, Natalia Veselnitskaya conquistou uma posição de topo. É temida por muitos dado o seu sucesso entre os “grandes”. O elo de ligação entre a advogada e a família Trump começa com Pyotr Katsyv, amigo de Aras Agalarov. E quem é Agalarov? É a versão russa de Donald Trump. Este magnata criou um império através do ramo imobiliário e também foi estrela em programas de televisão.
Em tribunal ela mete respeito. Interpreta o papel, com a linguagem e comportamentos adequados, consoante o caso em questão. Sobretudo em Moscovo tem fama. “É um tanque. Talvez tenha passado alguns limites quando esteve em Nova Iorque, mas sentiu que podia fazer algo pela Rússia”, descreve o amigo e realizador Andrei Nekrasov, em declarações à The Atlantic Magazine.
Barack Obama também é tido e achado nesta história. Em 2012, na altura presidente dos EUA, assinou a lei Magnitsky, nome relacionado com Sergei Magnitsky, grande ativista anti-corrupção, que denunciou um desvio de 130 milhões de euros por parte do fisco russo. Resultado? Ele próprio foi acusado e preso por fraude fiscal. Morreu na cadeia em 2009, vítima de violentas agressões. Ora, cerca de três anos depois, Obama avança com a lei que impõe sanções contra os russos suspeitos de violações dos direitos humanos na Rússia. E é aqui que Natália entra, mais uma vez. A advogada é chamada pelo governo russo para lutar contra essa lei, desprezada por Putin. Em resposta: foram canceladas as adoções de crianças russas por cidadãos norte-americanos. “É provavelmente a pessoa mais agressiva que encontrei nos conflitos com a Rússia. É vingativa e cruel”, contou Bill Browder, antigo investidor na Rússia, ao The New York Times, que se cruzou em tribunal com a advogada do momento.
E de volta ao ponto de partida: não se sabe o que Veselnitskaya disse no encontro de 30 minutos com Trump Jr. Ao programa Today, da NBC, a advogada russa admitiu ter sido chamada à Trump Tower, em Nova Iorque, durante a campanha presidencial. Confirmou ter sido questionada pelo filho do atual presidente norte-americano sobre os passos de Hillary Clinton, mas negou ter passado “informações valiosas”. Veselnitskaya garantiu que “nunca trabalhou para o governo russo”. Dmitri Peskov, porta-voz de Vladimir Putin, disse aos jornalistas que o Kremlin nunca ouviu falar desta senhora.
Certo é que o partido republicano, o mesmo que apoiou Donald Trump nas eleições, vai contra a família do presidente e exige agora explicações sobre o alegado encontro entre o filho de Donald Trump e a mulher de quem tanto se fala.