Net: como evitar colocar os filhos entre o vício e a exclusão

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Cada vez mais crianças têm acesso a telemóveis, computadores e, por essa via, a conteúdos online, que nem sempre são recomendáveis para as idades mais precoces. Mas, também é verdade que há um número crescente de pais que quer afastar, ao máximo, os filhos desse material. Por isso, no dia em que se evoca a Criança, 1 de junho, fomos saber quais são as finas teias desta rede virtual que mexe, em tudo, com a vida real.

Como podem os mais pequenos – que lidam com acesso limitado à Net – sobreviver à sua comunidade real que já está online, serem aceites e não serem vítimas por não saberem, verem ou conhecerem o último youtuber? O último insta da it girl do momento? Na pior das hipóteses, o último desafio perigoso – e têm sido bastantes – que anda a circular na rede e que não deve ser feito?

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Pode a restrição à Web ser fator de exclusão? “Os extremos (permissão a mais, autogestão completa no uso das tecnologias ou proibições exageradas e radicais) nunca são amigos do nosso bem-estar”, começa por explicar Inês Afonso Marques. Para esta psicóloga clínica, o melhor é, “particularmente a partir da idade escolar”, gerir o acesso “de forma progressivamente gradual”.

Um perigo que existe para todos e que exige bom senso

“Vivemos num mundo tecnológico, pelo que retirar totalmente a possibilidade da criança explorar o mundo digital não fará qualquer sentido”, acrescenta a especialista da Oficina da Psicologia.

Afinal, o perigo existe para todos. “O risco para o bem-estar da criança tanto pode estar num uso exagerado do mundo virtual, com potencial prejuízo em áreas basilares como o sono, a alimentação, a estimulação cognitiva e a socialização, com impacto na sua capacidade de gestão emocional e no seu desenvolvimento social, entre outras dimensões; como em restrições radicais, em crianças mais velhas, que se poderão sentir descontextualizadas e com menor sentido de pertença, caso sejam as únicas a não ter qualquer tipo de acesso ao mundo virtual”, lembra a técnica ao Delas.pt.

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Por isso, o melhor mesmo é aplicar algumas medidas. Não sendo estritas, elas gerem-se pelo bom senso. “Os pais têm que garantir a segurança dos filhos – ora com restrições de controlo parental, ora com crianças mais velhas -, explicando-lhes como usar de forma segura, para si e para os outros, o mundo online, nomeadamente: sites seguros, que informação partilhar, que dados e informações nunca partilhar, como fazer pesquisas que guiem aos conteúdos pretendidos. E, adicionalmente, garantir um uso consciente destes recursos. Devem ainda garantir que as crianças têm outras opções para ocupar o seu tempo e para explorar o mundo”, enumera Inês Afonso Marques.

“Flexibilidade e bom senso”

Recusando-se a estabelecer idades e medidas respetivas, esta psicóloga clínica considera que o “tema deve ser encarado com alguma flexibilidade e bom senso”. A especialista sublinha que “o fator idade não é o determinante principal na definição de limites. Em nenhum momento, o recurso à tecnologia, nomeadamente a internet e o youtube, deve colidir com a necessidade e direito da criança para dormir, partilhar momentos de qualidade com os pais, brincar, socializar e aprender/estudar”.

Vinca, porém, que, ”desde a infância ao início da adolescência, os pais devem funcionar como modelos (não podem pedir que os mais pequenos não estejam sempre agarrados ao telemóvel se eles próprios estiverem) por um lado, e como mentores, por outro, definindo balizas razoáveis e dando condições para que as crianças as possam seguir. Estas balizas devem contemplar essencialmente o tempo de uso destas ferramentas, assim como os conteúdos ajustados à idade e nível de desenvolvimento”.

Nesse sentido, a psicóloga clínica relembra os parâmetros definidos pela Sociedade Americana de Pediatria (SAP). Esta entidade “defende que a exposição a ecrãs em crianças com menos de dois anos é totalmente desaconselhável”. Inês Afonso Marques sublinha ainda que a SAP refere que, “entre os 3 e os 5 anos, uma hora no máximo. E a partir dessa idade, um máximo de duas horas”.

Mas, analisa: “De qualquer modo, se pensarmos de um modo genérico nos horários da maioria das famílias, se uma criança em idade escolar passar duas horas por dia nas tecnologias, muito tempo será roubado à socialização, ao brincar de outras formas, ao estabelecer vínculos afetivos com a família. Por isso, na gestão do tempo, a palavra de ordem tem de ser o bom senso! E, os pais devem compreender que as crianças e os adolescentes têm menor noção temporal e menor capacidade que os adultos para gerir o tempo.” E conclui, recomendando: “Adicionalmente, têm pouco discernimento para filtrar os conteúdos que observam. Por isso, esse papel deve ser assegurado pelos pais.”

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