No adeus a Winnie Mandela, recorde as causas e as polémicas

Pugnou pelo fim do Apartheid ao lado do então marido, Nelson Mandela, lutou ao lado e pelas mulheres, mas também protagonizou polémicas ao longo da sua vida, chegando mesmo a ser condenada.

Na hora da despedida de Winnie Mandela, ex-mulher do antigo presidente sul-africano Nelson Mandela, que morreu esta segunda-feira, 2 de abril, com 81 anos num hospital de Joanesburgo, recordamos as lutas, mas também as condenações desta sul-africana. Na galeria acima reveja momentos da vida de Winnie.

“É com grande tristeza que informamos o público de que a senhora Winnie Madikizela Mandela morreu no hospital de Milkpark de Joanesburgo segunda-feira, 2 de abril”, anunciou o porta-voz Victor Dlamini num comunicado,

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Morreu após uma doença prolongada, pela qual foi hospitalizada várias vezes desde o princípio do ano. Morreu pacificamente às primeiras horas da tarde de segunda-feira, rodeada da família e dos entes queridos”, acrescentou o porta-voz.

Lutou corajosamente contra o ‘apartheid’ e sacrificou a sua vida pela liberdade do país. Manteve viva a memória do marido, Nelson Mandela, enquanto esteve preso em Robben Island e ajudou a dar à luta pela justiça na África do Sul uma das suas faces mais reconhecíveis“, afirmou.

Pascale Lamche, realizadora francesa que rodou o documentário em trono da vida de Winnie, que apresentou em 2017, no Doc Lisboa, revelou que a ex-mulher de Mandela não era bem-vista como líder militar por ser mulher. “O que quis fazer com este documentário foi dar espaço para discutir Winnie como líder militar. O que era aceitável para um homem líder militar não era no caso de uma mulher. Isso tem que ver com o facto de ela ser vista como a mãe da Nação e, por isso, não ser bem-vista como líder militar”, afirmou Pascale em entrevista ao DN.pt e que pode ler na íntegra aqui.

Esta realizadora considera mesmo que a história da democracia na África do Sul pode bem ser encarnada por Winnie e pelo seu percurso. “Ele [O meu companheiro] sempre me disse que o filme que era preciso fazer sobre a África do Sul era o filme sobre Winnie Mandela. E que isso iria revelar muito das raízes do que se passa hoje na África do Sul”, referiu Pascale, vincando que a sua obra “é uma crítica ao período de transição para a democracia“. “Muitos podem considerá-lo uma reabilitação de Winnie. Acho que não. É o trazer novas perguntas. Só percebi que era uma desforra também para Winnie até ela ter visto o filme pela primeira vez”, analisa Lamche.

Uma mulher condenada que caiu em desgraça

Nomzamo Winifred Zanyiwe Madizikela, conhecida como Winnie, foi uma das figuras destacadas do ativismo anti-‘apartheid’ após a prisão do então marido Nelson Madela, mas caiu em desgraça após o fim do regime, com acusações de tortura e um processo por fraude. No histórico, há ainda acusações de ter ordenado mortes.

O percurso de Winnie é indissociável do de Nelson Mandela, com quem esteve casada 38 anos, entre os quais os 27 que ele passou na prisão.

A imagem dos dois, caminhando de mãos dadas no dia da libertação do herói sul-africano em 1990, correu mundo, mas o casal não voltou a estar junto e acabou por se divorciar em 1996, no final de um longo processo de revelação de infidelidades de Winnie.

11 de fevereiro de 1990. Winnie e Nelson Mandela caminham de mãos dadas no dia da libertação do líder africano. Uma imagem que correu mundo [Fotografia: Ulli Michel/Reuters]

Nascida a 26 de setembro de 1936 na província do Cabo Oriental (sul), obteve aos 19 anos um diploma como assistente social, uma exceção para uma mulher negra na altura. Casou-se com Nelson Mandela em junho de 1958, ela com 21 anos, ele um divorciado e pai de família com quase 40.

Com a prisão do marido, assume a liderança da luta ao ‘apartheid’ e do Congresso Nacional Africano (ANC), mas divide pelo estilo autoritário, com membros do partido a acusarem-na de tortura e incitamento ao ódio. Em 1991 é julgada e condenada a seis anos de prisão, posteriormente comutados numa multa, pelo rapto de um jovem militante, Stompie Seipei.

Em 1998, a Comissão de Verdade e Reconciliação, encarregada de julgar os crimes políticos no ‘apartheid’, considerou Winnie “politicamente e moralmente culpada de enormes violações dos direitos humanos”.

[Em atualização]

CB com Lusa

Imagem de destaque: Pool New/Reuters