No princípio era a Cor, em 2017 também é

Quem desenha as cores manda na indústria. Ponto. Se quer saber de onde vêm as tendências da roupa que usa ou do sofá que vai comprar, eu digo-lhe, mas saiba que é uma espécie de teoria da conspiração e que, por isso, vale o que vale.

Se numa dada primavera surge uma tendência safari ou militar isso significa que um a dois anos antes os grandes produtores de tintos e químicos, tipo Bayer ou Johnson, conseguiram antes negociar de forma lucrativa a compra dos componentes desses tintos para tecidos caqui ou verde-tropa. O mesmo se aplica se a tendência for navy ou fada romântica, e os químicos mais lucrativos forem azul-escuro ou rosa, respetivamente. O que conta aqui é o baixo custo de produção.

Os grandes gabinetes de tendências cruzam esta informação com aquilo que anteveem do gosto futuro dos consumidores, do que gostarão eles em função do que veem nas notícias ou nos filmes mais recentes. E embrulham-na num celofane apelativo, por vezes operado de forma tão conseguida que nós, pobres ovelhas consumistas, achamos que aquilo é o que está a dar e seremos tão mais à frente dos outros se o comprarmos primeiro, porque está ‘na moda’.

A Pantone é o grande nome dos gabinetes de tendências de cor. Porque está mais perto da fonte, da emissão da cor que o mercado vai querer consumir, é um dos mais respeitados e seguidos nomes. Mas nem por isso arrisca em apostas definitivas; há sempre nas suas propostas um núcleo mais ou menos seguro do que aí virá, há sempre um amarelo, um vermelho, um verde e um azul, mais ou menos puros e quase que certos. Depois há outras apostas menos seguras, todas somando um total de 10 cores anuais, 4 quase certas e 6 que se calhar pegam.

A cor do ano Pantone, a definitiva, é sempre anunciada com poucos meses de antecedência do ano a que diz respeito, quando já se consegue recolher a informação necessária para que esta novidade possa ser avançada de forma segura. Como? Já em função das encomendas, tanto de roupa como de interiores e decoração, que os retalhistas foram fazendo nas grandes feiras, ou desfiles, de cada sector ou fileira.

Estas são as escolhas da Pantone para a estação que agora entra, e por isso, por serem em cima do acontecimento, são mais que apostas seguras. Tanto estilistas como designers de interiores têm já em loja ou em catálogo uma abundante seleção de produtos nestas 10 cores.

São cores-reflexo de uma certa paragem nos sentimentos e nas atitudes. Mesmo as cores vivas, como rosas, laranjas ou vermelhos são atenuadas, como se vistas através de fumo ou estivessem cobertas de uma fina camada de pó. O mundo está como está, não há muito espaço para festas felizes. O mínimo que cada um de nós, que não está a fugir de uma guerra ou de uma cheia pode fazer, é sentir alguma empatia e moderar as gargalhadas.

Veja as legendas seguintes ao mesmo tempo que vê a galeria, falar sobre uma cor sem a ver é como ler apenas as legendas de um filme pornográfico sem ver as imagens. Pronto, ok, para as senhoras que já se estão a persignar é como ler a descrição académica do ‘Nascimento de Vénus’ de Botticelli sem ver o boneco do artista.

As cores são:

  1. Riverside

Um azul outonal, com a força de um ultramarino ou de um cobalto, mas atenuado, como se visto através de fumo. Como todos os escuros, traz estabilidade e segurança, qualidades tão desejadas, interiormente, por todos nós.

  1. Airy Blue

Ao contrário do anterior, este é um azul dinâmico, herdeiro do azul Serenety, uma das cores Pantone para 2016. É uma cor de esperança, de que para o próximo ano as coisas corram melhor.

  1. Sharkskin

É uma espécie de cor neutra, mas catalisadora, e nesta paleta de 10 cores, é aquela em que as outras 9 pode confiar, ou seja, fica bem com todas, seja como quieto pano de fundo, seja como apontamento sobre as restantes.

  1. Aurora Red

É o vermelho possível desta estação em particular, que mesmo assim ainda se destaca numa paleta completamente pacífica. Delicado e suave, sem a força dos costumeiros bordeaux ou carmim.

  1. Warm Taupe

Transmite segurança e fiabilidade, porque é terrosa, estável e intemporal. E por isso, intimamente, é-nos apelativa: as peças da casa nesta cor não passarão de moda tão cedo.

  1. Dusty Cedar

É a vedeta inesperada da estação: quando apenas se pensa nela, acha-se horrível, como qualquer malva que ela é afinal., mas vê-la aplicada fascina. Não é um rosa parolo para outono, é uma cor complexa e sofisticada.

  1. Lush Meadow

É um verde molhado e fresco, mas que facilmente se destaca dos verdes naturais. Rico e elegante, vibrante e sofisticado, é perfeito para acabamentos acetinados e para pelos longos, feltros e lãs penteadas.

  1. Spicy Mustard

É um amarelo declaradamente retro, setentão e denso, que casa às mil maravilhas com os dourados que voltam ao ataque. No vintage que soma e segue, é um amarelo que facilmente se confunde com o ouro metalizado.

  1. Potter’s Clay

É a grande justificação para o regresso das peles de animais curtidas. Podem ser tintas para a parede ou tecidos tingidos, mas a este castanho específico só se chega com matéria animal. Desculpa PAN.

  1. Bodacious

É o sucessor natural da metade feminina da cor Pantone 2015, o Rose Quartz. É uma cor de risco, mas ocupando o lugar do rosa da estação, e sustentado pela atenção que a moda lhe dedicou, só pode ser uma cor de sucesso.