Denis Mukwege, um dos vencedores do Prémio Nobel da Paz de 2018, alertou que a atenção gerada pelo galardão atribuído ao seu trabalho de combate à violência contra as mulheres em zonas de conflito deve ser seguida por ações concretas contra os abusos.
Em conferência de imprensa em Oslo, juntamente com a iraquiana Nadia Murad, co-laureada com o Prémio Nobel, o médico congolês de 63 anos , que já tinha sido distinguido com o Prémio Shakarov, afirmou que aquilo que se passa nos conflitos armados é a transformação dos corpos das mulheres em “campos de batalhas” e “isto não é aceitável nestes tempos”.
“Não basta denunciar, é preciso agir”, vincou.
O Prémio Nobel da Paz de 2018, avaliado em quase 900 mil euros, foi atribuído a Denis Mukwege pelo trabalho que desenvolve num hospital na República Democrática do Congo de apoio a mulheres vítimas de abusos sexuais.
Quanto a Nadia Murad, 25 anos, foi galardoada pelo seu ativismo contra abusos sexuais após ter sido raptada por elementos do Estado Islâmico em 2014 e sido uma das cerca de três mil mulheres e raparigas pertencentes à minoria yazidi vendidas como escravas sexuais, tendo conseguido escapar alguns meses mais tarde.
Depois de ter recebido tratamentos na Alemanha, escolheu ser ativista em nome das mulheres yazidi.
“Não quero viver no medo. Nos últimos quatro anos, estive na Alemanha, num lugar seguro, mas continuo a viver com medo”, declarou na conferência de imprensa de hoje, acrescentando: “Receio que aquelas pessoas não me ataquem apenas a mim, ou tenham impacto em mim, mas com qualquer outra pessoa”.
Denis Mukwege manifestou por sua vez receio do regresso à violência durante eleições gerais na República Democrática do Congo, previstas para este mês.
“O conflito pode rebentar neste período eleitoral e as mulheres e crianças são sempre as primeiras vítimas deste tipo de conflitos”, declarou.
Além de medidas de prevenção, o médico congolês defendeu que é preciso mais apoio para as vítimas.
Sublinhando que as mulheres são vítimas de violência sexual dentro do seu próprio país, Mukwege afirmou que é preciso dar-lhes acesso a tratamento médico, mas também psicológico e jurídico.
Murad e Mukwege recebem o Prémio Nobel da Paz na segunda-feira, 10 de dezembro, numa cerimónia em Oslo.