Vanessa Martins, Teresa Tavares e Mariana Monteiro afirmam que é importante debater as questões do assédio sexual.
A bomba #metoo rebentou em Portugal na semana passada. Catarina Furtado, embaixadora Boa Vontade do Fundo das Nações Unidas para a População e a personalidade portuguesa mais credível de acordo com o estudo de 2017 da Marktest, reabriu a discussão em Portugal. A apresentadora confessou num programa de rádio que o momento mais constrangedor da sua vida foi quando foi assediada. Seguiu-se um extenso post sobre o assunto na sua página de Facebook que foi o mote para uma discussão: existe assédio sexual no meio artístico português?
A resposta a esta pergunta não será fácil de encontrar e são poucas as personalidades portuguesas que se dispõem a falar sobre ele. O medo de represálias no trabalho, a dificuldade de identificar objetivamente situações abusivas e o sentimento de que a impunidade do agressor prevalecerá levam a que na maioria dos casos as mulheres não queiram falar. Vanessa Martins, Teresa Tavares e Mariana Monteiro demarcam-se e querem falar sobre o tema quente do momento.
“É muito importante falar. Se todos falassem não havia tantas represálias”.
Nenhuma destas atrizes diz ter sofrido episódios de assédio sexual mas todas elas reconhecem a importância de falar sobre o tema e de denunciar as situações. “Este é um assunto que tem a ver com o respeito e a dignidade da mulher, enquanto pessoa com direitos. Tudo o que ponha em causa esses direitos deve ser denunciado por todos os meios e criminalizado. A denúncia deve, por isso, sobrepor-se ao medo. Cabe às mulheres vítimas terem essa capacidade de não se calarem perante uma situação de assédio,” diz Mariana Monteiro.
Teresa Tavares alerta para a necessidade de esclarecimento para que não se misturem conceitos. “É preciso falar deste tema exatamente para deixarmos de uma vez por todas de misturar as coisas. O assédio sexual não tem nada a ver com a sedução, tem a ver com poder, com um abuso de poder. Não estamos a falar de um flirt que, obviamente, não pode ser legislado e ainda bem, nem estamos a falar de empatias entre as pessoas em ambiente laboral (que são saudáveis). Estamos a falar de abuso de poder que é nefasto, em qualquer circunstância. Veja-se, por exemplo, os números mais recentes que apontam para um crescimento assustador da violência entre adolescentes no namoro, em Portugal. Mostram-nos que alguma coisa está a falhar e que é preciso agir.”
Nos EUA depois da primeira denúncia contra Harvey Weistein, os relatos multiplicaram-se com dezenas de mulheres a contarem situações de abuso. E em Portugal será que vai acontecer o mesmo? Vanessa Martins diz que não. “Acho que muito poucas pessoas vão falar. Este meio é muito pequenino e falar pode por em causa futuros trabalhos. As pessoas precisam de estar no ativo e o meio televisivo é muito competitivo. Nos EUA as atrizes ganham muito mais, têm muito mais visibilidade e ganham um certo respeito na indústria. Aqui em Portugal não, somos mesmo pequeninos”.
A influencer acrescenta ainda que “Há muita coisa escondida sobre o que pessoas já fizeram ou tiveram de fazer e ninguém conta. Tanta gente conta entre as amigas, mas ninguém diz nada publicamente. É muito importante falar. Se todos falassem não havia tantas represálias”.
“Não acredito em puritanismos, não me agrada que se queira combater o problema com segregação.”
A solução para acabar com este tipo de abusos passa por “falar do tema, dar-lhe visibilidade pública, debatê-lo por forma a mudar as mentalidades desconstruindo estigmas criados há muito tempo pelas sociedades e que fizeram da mulher mais objeto do que pessoa,” afirma Mariana Monteiro. Já para a atriz Teresa Tavares a melhor solução é a “Educação. Educação, sempre. É a chave disto tudo. Para que os nossos filhos não sejam expostos a situações destas. Educação para a cidadania, respeito por nós próprios e pelo outro, confiança no nosso poder enquanto seres humanos para fazermos as nossas escolhas e respeitarmos as dos outros. Não acredito em puritanismos, não me agrada que se queira combater o problema com segregação. A única regra que me parece fazer sentido é simples: a minha liberdade acaba onde começa a do outro. E é preciso respeitar isso acima de tudo. Em qualquer ambiente. De resto, é importante que possamos todas vestir o que queremos, andar por onde queremos, dizer o que pensamos e agir de acordo com o que sentimos. E disso não se pode abrir mão, especialmente quando estamos a falar de mulheres. Isso seria claramente dar um passo atrás.”
Fotografias retiradas do Instagram