Novos hábitos no regresso à escola: os filhos

Foram vários dias e semanas, que se traduziram em bem mais do que dois meses, em que as rotinas estiveram viradas de pernas para o ar. Os hábitos de férias souberam tão bem que se instalaram por baixo da pele, quase que tatuados, atendendo à facilidade com que foram abraçados. As mudanças de horas preguiçosas para acordar e dos serões; as tardes com amigos; as saídas de fim de dia, a forma descomplicada como os dias decorreram, fora um ou outro entoar de voz mais alto, característico devido à bagunça organizada que se instala e dos esquecimentos das poucas tarefas que mesmo assim, alguns pais insistem em pedir.

Aquilo que foi falado no final do ano letivo passado já parece longínquo por isso, antes de tudo começar em ritmo frenético, porque não, fazer uma pequena revisão das “matérias não escolares”.

Envolver crianças e jovens neste processo, tema dupla vantagem, não só de elas fazerem parte do processo e assim estarem mais disponíveis para levar adiante os seus hábitos, bem como pô-las a pensar e promover o desenvolvimento de raciocínios autónomos, sem ser necessária, mais tarde, a presença de um adulto que as oriente. E não é a autonomia uma das metas principais de cuidar de um filho? Dar-lhe ferramentas, ou as ditas competências, para que, mesmo sem se estar por perto, ele encontre as melhores respostas e faça as escolhas mais acertadas no momento.

Torna-se importante fazer uma ressalva sobre a implementação do hábito. Na área da psicologia e mesmo em outras áreas como o marketing e a gestão, este tem sido um assunto amplamente estudado e debatido. O ser humano, embora goste de fugir às rotinas e seja nessa fuga que encontra o novo e se estimula cognitivamente a procura de soluções criativas, é também no contrabalanço do hábito que se refugia como se de um cenário securizante se tratasse. Por mais aventuras novas de que se goste, é reconfortante saber, de vez em quando, com o que se contar e o que esperar. Dá confiança e predispõe a que a seguir, se parte para novas descobertas. Estipular novos hábitos permite esse encontro entre o novo e avançar em modo seguro, definindo uma meta que se pretende alcançar, com a repetição de alguns passos.

As metas podem ser tão ambiciosas quanto os seus protagonistas se sintam com vontade de as alcançar. Contudo, mais do que três hábitos semanais podem ser desencorajadores. Sugerimos que fique também definido o período a partir do qual o hábito está adquirido, por exemplo, 3 semanas, e a recompensa a ter no final, ou no fim de cada semana. As recompensas não têm que ser necessariamente materiais. Dar asas à imaginação para valorizar o esforço conjunto de alcançar as vitórias!

E como fazer com a falta de tempo? Logo que a escola dos filhos e o trabalho dos pais entrem a todo o vapor, o relógio parece que come os minutos e o tempo nunca chega. A maior parte dos novos hábitos leva pouco tempo e traz muitos benefícios no imediato, por isso, vale a pena experimentar. Quer sejam hábitos para o dia-a-dia ou apenas para o fim-de-semana, é dar uma oportunidade. Experimente-se o que apetece fazer, e não o que se tem que fazer. Para obrigações já chegam os restantes momentos do dia.

Na nossa galeria encontra sugestões de rotinas que sabem mesmo bem implementar.


“Ana Bela Lopes, trabalha como psicóloga educacional e formadora nas áreas da psicologia, há quase duas décadas. Formadora do Alto Comissariado para as Migrações, no âmbito da Bolsa de Formadores. Gestora do Projeto Pais que Respiram porque acredita na aventura de se ser Pai com as pequenas imperfeições… perfeitas. É autora do blog Penso Rápido.