Num mundo de adultos, as inspirações da infância

Se na Semana da Moda de Nova Iorque as passerelles serviram também para passar mensagens políticas ou para chamar a atenção para questões como a mastectomia preventiva, na de Londres a tendência manteve-se.

Ainda antes do fim de semana, os organizadores desta Semana da Moda aproveitaram para deixar uma mensagem de preocupação em relação ao Brexit e ao futuro da indústria da moda no Reino Unido, com a saída da União Europeia.

“Gostaria de aproveitar esta oportunidade…para lembrar o governo que reter a nossa posição competitiva não é fácil de compreender e esperamos que oiça e entenda as nossas preocupações e necessidades quando falamos de vistos, talento, taxas e propriedade intelectual”, disse na quinta-feira (16 de fevereiro), Caroline Rush, CEO do British Fashion Council.

A Semana da Moda de Londres tem sido, de resto, palco da diversidade geográfica e cultural desse talento e não falta a representação portuguesa, com Marques’Almeida e Alexandra Moura.

Este sábado (18 de fevereiro), o desfile da estilista irlandesa Simone Rocha destacou-se pela mensagem política, que procurou trazer para a passerelle o descontentamento e os conflitos que se vivem a nível global, mas escolhendo armas bem femininas. Ao corte masculino e quase militar dos casacos juntou as flores vermelhas do estampado dos tecidos dos vestidos. “Partiu da cor da raiva – mas tentei fazê-lo de uma forma pacífica, através das flores”, explicou à ‘Vogue’ britânica. O seu desfile também se destacou pela participação de mulheres mais velhas entre as modelos.

Por contraponto à abordagem de Simone Rocha, Molly Goddard evocou os tempos da meninice das raparigas e dos seus vestidinhos domingueiros. Um festim de cor (azuis, amarelos, rosas e alguns estampados) e materiais diversos (organzas, tules vaporosos e tecidos metalizados), enfeitado com folhos ou mangas de balão, que teve direito a mesa de jantar posta em cima da passerelle.

Também a House of Holland enveredou por influências infantis, colhendo inspiração no imaginário dos Looney Tunes. Padrões quadrados e folhos, estrelas e estampas de desenhos animados, misturados com mensagens arrojadas (e mais adultas) distribuíram-se pelos coordenados.

Por sua vez, na excêntrica e extravagante coleção apresentada por Ryan Lo, as modelos, com as extensões de totós nos cabelos, assemelharam-se muitas vezes a personagens femininas de manga japonesa.

Antes disso, e num universo mais adulto, Jasper Conran mostrou uma coleção elegante e feminina, assente nos tons quentes clássicos das estações mais frias, como o vermelho, o magenta, o verde, o azul-escuro ou os alaranjados, e nos vestidos compridos pretos ou brancos estampados.

O encerramento dos desfiles de sábado coube à Versus, de Donatella Versace, que apresentou uma coleção sóbria e urbana, com os azuis, os cinzentos e o grená a dominarem as cores. A modelo Gigi Hadid encabeçou o desfile que juntou, em cima da passerelle, as propostas feminina e masculina para o próximo outono-inverno.

Com um toque rock e punk, alguns coordenados trouxeram à memória a iconografia de David Bowie (fase Ziggy Stardust).

Veja, na nossa fotogaleria, algumas imagens dos desfiles.

Imagem de destaque: REUTERS/Neil Hall