Nutricionistas querem dinheiro de impostos para melhorar a alimentação escolar

Mulher comer

Estima-se que as taxas implementadas em torno dos produtos com elevado teor de sal rendam 30 milhões de euros. Para a bastonária da ordem dos Nutricionistas, esse mesmo dinheiro deveria ser canalizado para mais políticas de saúde, em vez de irem diretamente para os cofres do Estado.

Alexandra Bento admite até que as escolas – e as refeições escolares – poderiam ser as beneficiárias desse encaixe financeiro. Em declarações ao Delas.pt, esta responsável refere que, “com esta medida, prevê-se arrecadar cerca de 30 milhões de euros. Ora, esse dinheiro daria para colocar, no terreno, uma campanha de educação alimentar que promovesse a mudança dos hábitos alimentares das nossas crianças“.

Alexandra Bento, Bastonária da Ordem dos Nutricionistas [Fotografia: Filipe Araújo / Global Imagens]

Afinal, acrescenta a bastonária, “30 milhões de euros são mais do que suficiente para que os nutricionistas portugueses desenhassem e colocassem no terreno uma mudança alimentar. É impossível conseguir-se uma alteração dos hábitos alimentares sem envolver nutricionistas, quer no desenho das medidas, das estratégias, quer no terreno. E de facto, essa escassez de nutricionistas nos espaços corretos é absolutamente lamentável, quer no serviço nacional de saúde, onde são escassos, quer nas escolas, onde são inexistentes”.

Os profissionais da área da nutrição têm estado reunidos no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. Durante esta terça e quarta-feira, 21 e 22 de novembro, no âmbito do 1º Congresso da Ordem dos Nutricionistas, deverão ser discutidas as medidas que já foram tomadas, estando também na agenda o debate e a reflexão sobre o que ainda é preciso fazer para melhorar os hábitos alimentares da população portuguesa.

“Sabemos que as doenças relacionadas com os hábitos alimentares são aquelas que, hoje em dia, mais matam e mais pesam no Orçamento do Estado em termos de saúde. Daí abrirmos o congresso com aquilo que são as políticas públicas da saúde, traçando na área do país o que é que tem sido feito e o que é que falta fazer”, explicou Alexandra Bento ao Delas.pt.

Para a profissional de saúde, os passos que Portugal tem dado no combate à má alimentação dos portugueses, como o facto de taxar alimentos com alto teor de sal ou produtos com elevados níveis de açúcar, “são pequenos grandes passos e absolutamente necessários”.

“A Organização Mundial de Saúde tem vindo a alertar que os países devem apostar verdadeiramente numa política alimentar e nutricional. Política essa que não deve pôr de parte as medidas de taxação de alimentos prejudiciais à saúde, mas essas são medidas que não podem ser consideradas medidas económicas”, explicou a bastonária. Ou seja, todo o dinheiro arrecadado das taxas implementadas não devem ir para os cofres do Estado, mas ser aplicado numa causa relacionada, neste caso: saúde.

Não há solução se não houver “força política”

Para mudar este cenário é preciso que haja uma força política imensa. É preciso que o Governo, na sua totalidade, queira, é preciso que a Assembleia da República o permita e que o legitime, porque, caso contrário, vamos continuar a ter medidas avulsas. Sem isso não vamos conseguir mudar o panorama alimentar do nosso país. Gostaria muito de ver este assunto passar da agenda pública do Secretário de Estado para uma agenda política séria, uma agenda que passasse do papel, de estratégia nacional, para a ação”.

Otimista, a bastonária afirma: “Acredito que os maus hábitos alimentares que temos hoje seriam revertidos em cinco ou 10 anos.” Com essa alteração, Alexandra Bento acredita que tal “se traduziria em melhores indicadores em termos de saúde”. “Conseguiríamos, entre outros problemas, reduzir o excesso de peso da população portuguesa, conseguiríamos melhorar aquilo que são os últimos dados, assustadores, do aumento da prevalência da diabetes. Portugal tem excelentes condições para liderar um processo de mudança destes maus hábitos alimentares e mostrar aos outros países europeus que somos capazes de, num curto período de tempo, mudar este cenário alimentar”, conclui.

Ordens querem mais iniciativas para a educação alimentar

Os Nutricionistas, os Enfermeiros, os Farmacêuticos e os Médicos Dentistas já deram o seu “parecer favorável” à aplicação de medidas sobre o excesso de sal nos alimentos, como a prevista na proposta do Orçamento do Estado para 2018. No entanto, aquelas Ordens profissionais pedem mais medidas adicionais de promoção da alimentação saudável.

De acordo com o documento a que a agência Lusa teve acesso – e que foi enviado ao presidente da Assembleia da República e aos grupos parlamentares – aquelas entidades querem ver garantidas iniciativas para a promoção da educação alimentar e medidas junto da indústria para a reformulação de produtos.

A diminuição do consumo de sal “deverá ser uma das prioridades nacionais”, escrevem as ordens profissionais, lembrando o consumo excessivo em Portugal e as doenças associadas ao excesso de sal.

A taxa sobre alguns produtos com elevado teor de sal está prevista na proposta de Orçamento do Estado para 2018, mas partidos como o PCP e o CDS já vieram por em causa a aprovação desta medida.

 

Imagem de destaque: Shutterstock

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