O Algarve ‘deu-lhes’ laranjas, elas fizeram o “limoncello” português  

isabelbensaude_anacerqueira

“Se a vida te dá limões, faz limonada”, diz o ditado. Ana Cerqueira via muitas laranjas caídas no chão do Algarve e decidiu dar-lhes uso. Ocorreu-lhe o exemplo do limoncello, licor de limão italiano, que “surgiu da necessidade de criar emprego no sul de Itália, uma vez que o turismo se tinha deslocado para o norte, e de escoar limão. Hoje é uma das bebidas mais consumidas em todo o mundo. Tornou-se num case study”.

Falou com uma amiga botânica, Isabel Bensaúde, e criaram o Orangea, licor de laranja cem por cento artesanal, com um teor alcoólico de 30%. Chegou ao mercado há cerca de um ano, com distribuição na região e em lojas gourmet, nomeadamente de Lisboa. Depois começou a ser vendido nos aeroportos, “que todas as semanas repetem as encomendas – foi o grande salto”, explica Ana, agora a preparar a internacionalização.

Consumido bem frio em shots ou cocktails e também usado para confecionar sobremesas (as receitas estão disponíveis em www.orangea.pt), é feito apenas com as cascas, sendo que apenas se aproveita um quilo em cada dez de laranja. Um desperdício de polpa enorme, portanto, que a empresária tentou oferecer a creches mas a ASAE, cumprindo a legislação, não permite. E assim nasceu outra ideia, a de criar um chutney, mais um produto algarvio que deverá estar à venda em breve.22-2

Arquitetura premiada e outras artes

O Orangea foi desenvolvido enquanto Ana ajudava o marido, Luís Cerqueira, a reabilitar um hotel dos anos 70 que herdara do pai (proprietário de cinco unidades hoteleiras, incluindo a primeira de um empresário independente português em Londres). Trata-se do Ozadi Tavira Hotel, comprovadamente uma agradável opção para férias no sotavento.


Leia o artigo Férias em família no Algarve, animadas e sem confusão?


Para a remodelação optaram por abrir um concurso a jovens arquitetos, ganho pelo gabinete Campos Costa, que com este projeto conquistou um dos mais importantes prémios da Península Ibérica. Na nova área sobre as piscinas fica o restaurante Orangea Bistro e respetiva esplanada, espaço ideal para provar um cocktail feito com o licor Orangea quando o sol se põe. Decoração, paisagismo e todas as restantes equipas envolvidas foram coordenadas pela empresária, então sem experiência na hotelaria mas habituada a gerir pessoas e produtos pois tinha dirigido fábricas têxteis da sua família.

Recuperando a ideia das residências artísticas promovidas por ocasião de Os Dias de Tavira, um projeto de desenvolvimento cultural que teve lugar em 2000 e 2001 – para o qual Ana, formada em Gestão pelo ISCTE, contribuiu enquanto gestora e angariadora dos fundos necessários, e que contou com a participação de reconhecidos nomes do meio das artes como Manuel Castro Caldas e Nuno Faria – o hotel recebeu este ano a fotógrafa Marta Alvim. “Fez imagens poéticas, sobre o sonho e a misticidade da região”, explica.

A partir de outubro essas fotos serão exibidas numa exposição no hotel, que permanecerá durante um ano, e deverão dar origem a um livro bilingue com apoio de empresas locais. O objetivo é dar visibilidade a este Algarve “que tem mais para oferecer além de praia e amêijoas. Culturalmente está um deserto”.

Para o futuro, Ana, com 58 anos, tem já outras “aventuras” em mente: “É na criatividade que me sinto bem. Gosto de criar e consolidar projetos, sempre de curta duração, um par de anos. Depois parto para outro”.