Cancro da mama: “Aos 27 anos achamos que somos imortais”

Cancro: esconder ou mostrar
Cancro: esconder ou mostrar

30 de janeiro de 2013. A data que Marta Leão, de 30 anos, sabe de cor tão bem como a do próprio aniversário. Foi-lhe diagnosticado cancro da mama naquele dia. Estava a trabalhar quando, ao retirar um pelo do peito, surgiu a suspeita que a levou ao ginecologista. “Não deve ser nada”, descansou-a o médico. Mas os exames que se seguiram contrariaram-no: era um tumor maligno pouco agressivo.

“Fiquei incrédula durante uns minutos, passa-nos tudo pela cabeça. Aos 27 anos achamos que somos imortais. Não fumava, não bebia, não queria acreditar que aquilo era possível. Uns dias depois comecei a aceitar que o cancro existia e que podia terminar em morte”, recorda Marta ao Delas.pt.


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Assim que caiu em si, a gestora de Marketing Musical começou a lutar contra a doença. Apesar de maligno, o cancro era operável e Marta teve ainda de fazer um teste genético para ter a certeza que o cancro só lhe afetaria o peito. “Foi o mesmo que a Angelina Jolie fez. O teste deu negativo, se desse positivo tinha de tirar os ovários [consequência desse marcador genético]. Depois só precisei de fazer uma mastectomia para tirar a mama esquerda”, explica Marta.

Encarou sempre a doença com naturalidade, sem fazer dramas. Em casa já tinha o exemplo da mãe, que não só sobreviveu a um cancro da mama como “fez mastectomia com reconstrução e correu lindamente”. Tinha plena consciência de que pode acontecer a todos, por mais saudável que se seja. E sabia que tinha tido sorte ao descobrir a doença cedo.

“Não era o fim do mundo. Fui muito pacífica, sem dramatizar e sem ir à Internet. É a pior coisa que se pode fazer. A situação deve ter sido mais difícil para os meus pais, por saberem que a filha tinha cancro, do que para mim. Não passei por quimioterapia”, conta Marta Leão.

No trabalho também pouco mudou. Pôs os colegas logo a par de tudo. “As coisas iam saber-se, por isso queria que as pessoas soubessem exatamente o que eu tinha, o que ia fazer e que estava bem”, afirma.

A caminhada para a cura foi rápida e feita com tranquilidade. Na opinião da paciente, o facto de estar a ser tratada num hospital privado, o Centro Clínico Champalimaud, ajudou. Não teve de esperar por consulta nem pela operação. Fez a mastectomia para retirar a mama esquerda, ficou em casa uma semana e regressou logo ao trabalho. Agora só tem de ir fazendo consultas de rotina. “Tenho a sorte e o privilégio de ter conseguido pagar para ser acompanhada na Fundação Champalimaud, mas sei que a maior parte das pessoas não tem essa sorte e não gosto de me gabar dessa parte”, sublinha Marta Leão.

“É como ficar sem chão”
Ana (nome fictício), de 52 anos, não teve tanta sorte. Descobriu que tinha um cancro da mama em abril deste ano e ainda está a lutar contra ele. Mas já não falta tudo. Foi operada com sucesso e vai começar a fazer radioterapia.


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Já tinha o hábito de fazer mamografias de dois em dois anos. Foi após uma delas que conheceu o temido diagnóstico. “É como ficar sem chão. Fiquei atordoada com notícia. Depois pensei: ‘Tenho de resolver isto o mais depressa possível, ir em frente'”. O passo seguinte era a biópsia. No Hospital da Luz, onde fez a mamografia, tinha de aguardar 15 dias. Já no IPO, era mais de um mês. Optou, tal como Marta Leão, pelo Centro Clínico Champalimaud e conseguiu marcação para o dia seguinte.

Apesar de ser muito otimista, confessa que os “tratamentos são todos muito difíceis” e que “há dias em que se vai abaixo”. Também não lidou bem com a queda de cabelo e com o facto de ter de andar de lenço na cabeça, principalmente pela forma como os outros a olham na rua. “Algumas pessoas nem desviam o olhar e isso irrita-me. Nós não temos lepra”, desabafa Ana.

E o que mais a assusta não é o que ainda tem pela frente. São os dados estatísticos que mostram que o cancro da mama é a doença que mata mais mulheres em Portugal, o facto de aparecer em mulheres cada vez mais novas e de estudos mais recentes preverem que, no futuro, a doença venha a afetar uma em cada duas mulheres. “É assustador. As mamografias devem ser feitas com mais frequência. Tenho vários amigos à minha volta a sofrer desta doença”, lamenta.


Oiça na TSF a Conversa Delas sobre Cancro da Mama com Fátima Cardoso