O fenómeno das mulheres que se casam com elas próprias

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Prometo ser-me fiel, amar-me e respeitar-me (…) todos os dias da minha vida, até que a morte me separe”. E se os votos de casamento passassem a ser proferidos de outra maneira: na primeira pessoa e para a primeira pessoa?

Casar consigo própria é, há muito, uma realidade de muitas mulheres e continua a multiplicar-se um pouco por todo o mundo. Chama-se sologmia (sologomy, em inglês) e há quem olhe para ela como a festa da autoestima, mas também da chamada de atenção. Dos Estados Unidos da América, à Austrália, de Itália ao Canadá, passando pelo Japão, não faltam histórias e relatos de mulheres que decidem casar-se consigo próprias e prometem serem felizes para sempre.

Por cá, fomos ouvir wedding planners – especialistas portuguesas que trabalham sobretudo com clientes estrangeiros – para saber se a moda já chegou ao território que está na crista da onda: Portugal. A resposta é ‘não’! No entanto, nenhuma delas nega à partida uma ciência que ainda desconhece e revelam, todas, que adorariam organizar uma cerimónia ou evento – recusam a palavra casamento – destas. Afinal, a prática não tem enquadramento legal.

Margarida Burnay, contudo, tem dúvidas sobre a eternidade desta aliança. “Casar consigo própria não é um casamento para a vida”, refere a wedding planner da Burnay Events. Isto porque, acredita, “se se casa com ela própria, não quer dizer que daqui a uns anos não volte a casar…” E acrescenta: “Só festejamos o que existe na realidade. Um casamento pressupõe duas pessoas, é uma união, isto é uma cerimónia. Penso que se trata de chamadas de atenção, inovações, da necessidade de se querer ser diferente, querer marcar terreno”. “Mas, como tudo na vida, só vai ficar para a história o que tem substância”, considera a profissional que integra a plataforma portuguesa de serviços locais, Fixando.

“Casar consigo própria não é um casamento para a vida”, diz Margarida Burnay

Célia Pratas não duvida de que se está perante “uma tendência”. Afinal, prossegue, “o casamento está na moda e algo que tenha a ver com isso pode impor-se. Desde que pegue a tendência, há sempre pessoas que o fazem”, considera esta Couture Wedding Planner.

Formada em Inglaterra e nos EUA, a empresária da Pratas Wedding Design e elemento da Fixando, acha “fantástica” a possibilidade de poder vir a realizar um evento desta natureza e o espírito do tempo, como ela própria refere, poderá fazer-lhe o gosto ao dedo. “Em Portugal, segundo as estatísticas, os solteiros tem vindo a aumentar vertiginosamente. Muitas pessoas que, se calhar, são bem resolvidas profissional e pessoalmente querem celebrar isso mesmo com os amigos”.

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“Falamos de mulheres que nunca foram pedidas em casamento e que, como tantas outras, têm o sonho de se vestirem de noiva”, analisa Paula Grade. Mas a cofundadora da White Impact e Algarve Wedding Planners – que nunca recebeu uma proposta de trabalho desta natureza – há muito que ouve falar desta realidade e nota que a cerimónia é levada a cabo por “mulheres, na fase dos 40 anos, que perdem a esperança de casar e que o fazem nesta altura da vida porque não querem parecer mais velhas nas fotografias”.

Por isso, Burnay considera que esta tendência é “como as selfies”, mas “mais sofisticadas e dispendiosas. Isto é um luxo”. Uma opção que acaba por criar fãs junto de “pessoas que não são velhas, que têm a garra da juventude”.

“Sem querer ser psicóloga”, ressalva Margarida, “creio que estas opções passam muito pela vontade de festejar a autoestima, de valorizar muito o ego. É o casamento entre a alma a e o ego, e não precisa do outro para se realizar”, pondera. Uma necessidade que parte de quem se quer “sentir integrada, sendo inovadora”. Uma “partilha interna” que conta com aliança, bouquet, amigos, familiares próximos, menu e bolo. Todo o simbolismo a que tem direito.

Recuar às origens deste fenómeno não é tarefa fácil. A BBC vai ao virar do milénio, no verão de 2000, para contar o momento em que a artista nova-iorquina Gabrielle Penabaz decidiu curar o fim de uma relação com pompa e circunstância, celebrando o melhor de si. A iniciativa correu mundo, colheu olhares de consentimento e, desde aí, tem resultado em cerimónias ‘sologâmicas’ de mulheres e de homens.

Não foi preciso muito para que a ideia chegasse à ficção. Em 2003, Carrie Bradshaw (Sarah Jessica Parker) depunha as armas pela busca do amor romântico, dando eco a esta possibilidade em O Sexo e a Cidade, mas o furto dos seus Manolo Blahnik em casa da possível madrinha arrumou, desde logo, a questão. Anos mais tarde, a questão voltou a ser abordada em Glee.

Em 2014, uma agência de viagens japonesa, a Cerca Travel, promovia mesmo um pacote de viagem intitulado “casamento a sós” e que incluía vestido de noiva, cabeleireiro, flores, serviço de limusine, hotel e álbum de fotografias.

Segundo a BBC noticiava à data, em sete meses, 30 mulheres tinham já dado “o sim” a si próprias. A oferta turística, segundo a publicação Tokyo Weekender, da empresa de Kioto estava disponível até 2017 e tinha um preço de base a rondar os 2.200 euros.

Imagem de destaque: Shutterstock

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