O legado de Odette Ferreira, pioneira na investigação da SIDA em Portugal

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Fotografia: Filipa Bernardo/Global Imagens

As cerimónias fúnebres de Odette Santos-Ferreira, pioneira na investigação da SIDA em Portugal, que morreu este domingo, 7 de outubro, decorrem hoje e na terça-feira, em Lisboa, disse à Lusa fonte oficial da Ordem dos Farmacêuticos.

Segundo a mesma fonte, as cerimónias fúnebres decorrem a partir das 19h desta segunda-feira, na Igreja do Campo Grande”, em Lisboa. E na terça-feira, pelas 15h, será celebrada missa, com o funeral a seguir para o Cemitério do Alto de São João.

Ex-presidente da Comissão Nacional de Luta Contra a Sida, Odette Ferreira foi pioneira na investigação da doença em Portugal e morreu ontem, aos 93 anos.

Nascida em 1925, Maria Odette Santos-Ferreira fez parte da equipa que identificou pela primeira vez o VIH do tipo 2 em doentes oriundos da Guiné-Bissau.

No princípio dos anos 80 caracterizou os primeiros casos de infeção por VIH em doentes originários da Guiné-Bissau com um quadro clínico de imunodeficiência, tendo identificado um grupo de amostras com um comportamento anormal face ao método de diagnóstico usado e que constituiu o ponto de partida para a descoberta do VIH do tipo 2.

Prossegue as investigações durante essa década, nomeadamente no Instituto Pasteur de Paris, autoridade de renome mundial na matéria, que acabaram por conduzir à descoberta do VIH do tipo 2.

A descoberta deste segundo tipo de Vírus da SIDA teve um impacto enorme na história natural, na epidemiologia e no diagnóstico da infeção VIH, tendo estes resultados sido publicados em revistas científicas de elevado prestígio internacional, refere a DGS.

Odette Santos-Ferreira foi coordenadora da Comissão Nacional de Luta Contra a SIDA, cargo que exerceu de 1992 a 2000, por nomeação do ministro da Saúde, tendo desenvolvido inúmeros projetos com impacto significativo na prevenção e disseminação da doença.

O projeto da sua autoria de maior impacto nacional e internacional foi a troca de seringas nas farmácias, denominado “Diz não a uma seringa em segunda mão”, que teve como finalidade diminuir o risco de transmissão do VIH e de outras doenças transmissíveis (hepatitie B e C) à população toxicodependente por via endovenosa.

Este projeto foi considerado pela Comissão Europeia o melhor projeto apresentado por um país europeu, não só pela inovação, mas por ter sido possível desenvolvê-lo em todo o território nacional.

A investigadora promoveu ainda vários serviços de apoio domiciliário, a criação das comissões distritais de luta contra a SIDA e a reabertura da linha SIDA.

Em 2013 recebeu o Prémio Nacional de Saúde do Ministério da Saúde, o qual visa distinguir anualmente uma personalidade que tenha contribuído para a obtenção de ganhos em saúde no âmbito do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Em fevereiro deste ano, Odette Santos-Ferreira foi condecorada pelo Presidente da República numa cerimónia reservada, tendo recebido a grã-cruz da Ordem da Instrução Pública.