O novo monacal

Para descansar a vista e a cabeça não há nada como uma casa em branco. É uma cor niilista, quando já se está farto da estação pateta, dos cocktails às cores em copos do tamanho de aquários, de tanta gente tão loura tão contente, de laranja, de verde e de amarelo, e de bronzeados que variam entre cerejeira donatella e mogno valentino.

O branco, por ser uma não-cor, e por isso não interventiva, é a ideal para quando se quer um espaço que induza à tranquilidade. Na história dos interiores este é um desenho já (muito!) usado antes, especialmente quando se buscava um espaço pacífico e calmo. Chegou a ser uma assinatura, quando nas décadas de 20 e 30 Syrie Maugham, uma das primeiras decoradoras-celebridade, o usava tantas vezes ao ponto de ter ficado conhecida por dizer amiúde “simplifica e pinta-o de branco”.

Este é o cenário ideal para quem procura paz, tanto fora como dentro. Celas e claustros de mosteiros são brancos, bem como sanatórios e outros sítios de saúde, na serra ou na costa. Pode-se argumentar que é por facilitar limpezas, e será com certeza: nem a paz, nem a saúde convivem bem com manchas de sujidade, nem com cotão. Mas há mais qualquer coisa para além disso: por ser não interventivo, o branco não distrai, nem de Deus, nem da marulha.

Não use branco ótico, asséptico e laboratorial. Tal implicaria uma certa ‘histeria’ visual, quase tão irritante como os tais verdes, amarelos e laranjas. Para buscar a paz, use brancos trabalhados, um pouco sujos ou tonalizados. Será impossível encontrar peças todas no mesmo tom e tal não traz problema algum, muito pelo contrário, o seu espaço não será um cenário pintado mas sim uma casa vivida, com historial.

Este tipo de discurso casa às mil maravilhas com madeiras claras e polidas. Não use madeiras acabadas a verniz brilhante, dará cabo da narrativa. De qualquer forma a maior parte dos produtores de mobiliário já acaba as peças de madeira com verniz mate e incolor, para que a matéria-prima surja como é, sem maquilhagem.