Leilão: O olho de Ziggy Stardust

É colecionador? Quer começar agora? Espere por novembro, porque a Sotheby´s de Londres vai leiloar a coleção privada de arte de David Bowie. E mesmo para quem não tem dinheiro para comprar nenhum dos itens, só o facto de a poder conhecer e (há um leitor de cor rosa em todas nós) saber o que David Bowie tinha nas paredes é uma bênção.

A coleção é composta por cerca de 400 peças, do melhor que os Modernos e os Contemporâneos fizeram e, em parte devido a este enorme acervo, a Sotheby’s dividiu o leilão em 3 partes. Antes do evento, parte da coleção corre já mundo, para aguçar os apetites em 4 cidades escolhidas pelo seu potencial comercial; desde julho e até outubro Londres, Los Angeles, Nova York e Hong-Kong podem ter um preview do que a Sotheby´s de Londres na New Bond Street disponibilizará ao mundo.

Não há muitas celebridades das quais se tenha curiosidade em conhecer o íntimo, como só o revela a escolha das coisas pelas quais nos rodeamos, como a arte. E Bowie não era apenas uma celebridade: não houve em tempo algum uma onda de pesar nas redes sociais, tão grande e tão contínua, como aquando da sua morte. Com a morte de Bowie, toda a gente morreu um bocadinho.

Saber o que o encantou é saber mais sobre o artista. Disse ele, em 1998, ao New York Times:

“Arte é, falando a sério, a única coisa que sempre quis ter. Para mim foi sempre um alimento, e usei-a dessa forma. Consegue mudar a forma como me sinto de manhã. E a mesma obra pode afetar-me de formas diferentes, dependendo daquilo por que estou a passar.”

A sua faceta de colecionador era das coisas de que menos se sabia sobre ele e este leilão é capaz de ser a bomba do mercado da arte neste inverno: para além do seu valor intrínseco, estas coisas foram de Bowie, que bebia café de roupão, de manhã, olhando para elas. Só isto acrescenta pelo menos um dígito ao preço.


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O volume desta coleção levada a leilão, sendo de um particular, não é normal, nem a qualidade do que se mostra; não deixe de ler atentamente as legendas da breve (porque não nos deixam fazê-la maior) galeria que é um pequeno espelho do que a Sotheby’s leiloará em novembro. Só os nomes são o melhor aperitivo para o que aí vem, e de todos, esta tríade pela qual se batem museus ao redor do mundo, Basquiat, Hirst e Auerbach. Não será surpresa, aliás, se representantes do MoMA de Nova Iorque ou da Tate de Londres estiverem lá de plaquinha na mão.

A especial paixão de Bowie pelos Modernos e Contemporâneos, concluímos nós agora depois de conhecer a coleção, é bem refletida na sua obra e não apenas ao nível empático; Bowie fá-lo consciente e deliberadamente. Por exemplo, sobre a sua relação com a tela Head of Gerda Boehm, de Frank Auerbach, David disse “Ó meu Deus! Quero que me ouçam assim!” numa entrevista ao New York Times.

A qualidade e a extensão do acervo obrigou, pelos melhores motivos, a Sotheby’s a estender o leilão por 3 jornadas, uma a 10 de novembro e duas no dia seguinte.
E em Londres, porque afinal, na sua busca pela melhor arte moderna e contemporânea mundial, Bowie acabou por se render também aos ingleses seus conterrâneos, como nos diz Simon Hucker, Especialista Sénior em Arte Moderna e Pós-Guerra da Sotheby’s: “Enquanto colecionador, Bowie procurou artistas com os quais sentisse algum tipo de união e obras que o inspirassem. Tal acabou por conduzi-lo, naturalmente, aos ingleses do início e meados do século XX, e, de alguma maneira, também a casa”.