O que é que podia fazer com mais três horas livres por semana?

TEMPOS LIVRES

As mulheres têm menos três horas de tempo livre semanal que os homens. Ou seja, o equivalente a mais ou menos três aulas de ginásio.

A conclusão parte de um estudo levado a cabo pela empresa de electrodomésticos e eletrónica de consumo, Beko, em parceria com a Mortar Research.

De acordo com aquela investigação – que inquiriu 10 mil pessoas em 22 países, entre 3 e 10 de fevereiro deste ano -, o sexo feminino dispõe em média de 19 horas por semana para si próprio, enquanto os homens conseguem chegar às 22.

As mais jovens, com 22 anos, dizem-se as mais prejudicadas, com 48% a dizer que tem falta de tempo livre, afirmando ser muito comum terem de desmarcar eventos pessoais devido a compromissos profissionais. Do ponto de vista profissional, as maiores queixas chegam de quem exerce Direito, no caso as advogadas (47%).

Para os que têm filhos, os números são ainda mais dramáticos. Diz o inquérito – no qual não consta Portugal, mas inclui Espanha, França, Noruega Alemanha, Hungria, Turquia, Reino Unido, Uruguai, Argélia e, entre outros, Austrália -, que 69% dos entrevistados dispõe de dez horas semanais ou menos para brincar com os filhos.

O mesmo inquérito revela que o tempo com a família consome a maior fatia dos tempos livres, com 64% dos entrevistados a revelar essa preferência. Seguem-se-lhe os que preferem ficar a relaxar em casa (62%) e os que priorizam os amigos (46%).

“Este relatório vem mostrar como a vida moderna modela o nosso bem-estar e demonstra a falta do chamado ‘tempo de qualidade’ e a influência negativa que decorre de um estilo de vida muito ocupado”, justifica o responsável de comunicação, Zeynep Özbil, no site da marca.

Se colocarmos lado-a-lado estes dados – ainda que com as devidas distâncias uma vez que os universos não são nem iguais, nem comparáveis – com os resultados globais do tempo que as mulheres dedicam às tarefas domésticas, face aos homens, os números apontam para uma disparidade indisfarçável.

Segundo o relatório “Harnessing the Power of Data for Girls: Taking stock and looking ahead to 2030” (“Usar o poder dos números a favor das raparigas: Fazendo um balanço e olhando em frente para 2030”), da UNICEF, “a carga desproporcionada do trabalho doméstico começa cedo, havendo raparigas entre os cinco e os nove anos que despendem mais 30% de tempo, ou seja mais 40 milhões de horas diárias, em tarefas domésticas que os rapazes da mesma idade”.

E “os números aumentam com a idade”, sublinha-se no documento: “As raparigas entre os dez e os 14 anos passam mais 50% de tempo, ou mais 120 milhões de horas por dia, neste tipo de tarefas”. Leia o artigo na íntegra aqui.


De pequenino é que se torce o pepino?


No caso português, Inquérito Nacional aos Usos do Tempo de Homens e de Mulheres (INUT), apresentado em junho do ano passado, a desigualdade entre mulheres e homens no que respeita ao tempo dedicado a tarefas domésticas e cuidados a terceiros continua a passar de geração em geração.

A investigação, conduzida pelo Centro de Estudos para a Intervenção Social (CESIS ) com a Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE), revelou que em todos os grupos etários são as mulheres quem mais tempo despende com o trabalho não pago.

Em média, as raparigas com idades entre os 15 e os 24 anos trabalham mais 1h21m por dia que os rapazes. Conheça mais conclusões deste relatório aqui.

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