O que faz aparecer o lúpus? Investigadores do Porto desvendam alterações

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[Fotografia: Pexels/Karolina Grabowska]

Investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da Universidade do Porto descobriram que alterações na composição dos açúcares à superfície das células “confundem” o sistema imunitário e desencadeiam doenças autoimunes como o Lúpus.

A investigação, publicada na revista científica Science Translation Medicine, permitiu desvendar “o mecanismo” que leva ao aparecimento de doenças autoimunes, adianta na quinta-feira, 23 de março, em comunicado, o instituto da Universidade do Porto.

As doenças autoimunes caracterizam-se pela incapacidade do sistema imunitário em distinguir “o próprio do não-próprio”, “o que o leva a atacar” as próprias células e desencadear um “processo inflamatório crónico”.

Estas doenças, debilitantes, incapacitantes e sem cura, têm particular impacto na qualidade de vida dos doentes.

No estudo, a equipa do i3S centrou-se no Lúpus e tentou perceber “até que ponto a presença anómala de açúcares alterados à superfície do rim” determina o seu aparecimento.

O Lúpus é uma doença autoimune “complexa”, uma vez que o sistema imunitário pode atacar qualquer parte do corpo (rins, cérebro, coração, pulmões, sangue, pele e articulações). Mais de 90% dos doentes com Lúpus são mulheres e a doença surge, frequentemente, entre os 15 e 45 anos.

Citada no comunicado, a investigadora que liderou o estudo, Salomé Pinho, explica que o sistema imune “ativa um certo tipo de células imunológicas que levam à produção de moléculas pró-inflamatória, contribuindo assim para o estabelecimento do processo inflamatório”.

Tal permitiu aos investigadores identificar “um novo mecanismo subjacente” ao desenvolvimento da doença autoimune.

Também a primeira autora do estudo, Inês Alves, acrescenta que a investigação permitiu descobrir “que é possível reparar esta modificação anómala de glicanos e controlar, desta forma, a resposta imunológica auto-reativa, evitando que o rim seja atacado pelas células imunes e prevenindo, assim, o desenvolvimento do Lúpus”.

A descoberta abre portas para “o desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas para o tratamento de doenças autoimunes”.

A investigação foi também distinguida com um prémio de inovação de 280 mil euros pela associação americana Lupus Research Alliance (LRA).

“A descoberta de um novo mecanismo subjacente à resposta imune descontrolada que caracteriza o Lúpus abre portas para investigarmos novas abordagens terapêuticas que podem ter impacto num leque alargado de doenças autoimunes. O prémio irá permitir transformar este mecanismo num alvo terapêutico e, assim esperamos, controlar a doença e melhorar a qualidade de vida destes pacientes”, acrescenta Inês Alves.