O que vale mais na saúde: dinheiro, genes ou amigos?

shutterstock_732754177_amigosedinheiro

Que uma conta recheada anima qualquer um não é de estranhar. Mas e quando um estudo indica que a amizade pode ser mais benéfica para a saúde do que o dinheiro? Mais até do que a inteligência, os genes ou a prática de exercício? É o que defende Robert Waldinger, diretor do estudo Adult Development (Desenvolvimento Adulto) realizado pela Universidade de Harvard, durante 75 anos (1939-2014) e que conclui que são os amigos os responsáveis por uma vida longa e saudável.

Depois de acompanhar a vida de 268 pessoas, o estudo encontro uma referência comum: “Os nossos relacionamentos e o quanto estamos felizes neles têm uma poderosa influência na nossa saúde. Cuidar do corpo é importante, mas prestar atenção às relações é também uma forma de nos auto cuidarmos”, afirma Robert Waldinger, também psiquiatra do Hospital General Massachusetts e professor de psiquiatria na Harvard Medical School.

Os resultados publicados em 2017 vieram provar que relações saudáveis são a chave para uma vida saudável: “Esses laços protegem as pessoas dos descontentamentos da vida, ajudam a atrasar o declínio mental e físico, promovendo mais vidas longas e felizes do que a classe social, o nível de QI ou mesmo os genes”, pode ler-se na revista The Harvard Gazette.

“Às vezes temos amigos mais próximos do que familiares. Aliás os amigos protegem-nos da família, porque quando a família é disfuncional e nos cria problemas – e todas as famílias, em algum momento da nossa vida nos cria problemas – são os amigos e às vezes os vizinhos ou os colegas de trabalho que nos ajudam”, declarou o psicólogo José Garrucho em conversa com o Delas.

“As pessoas mais satisfeitas com as suas relações aos 50 anos eram as mais saudáveis aos 80 anos. A solidão mata. É tão poderoso quanto o álcool ou o tabaco. Os bons relacionamentos não protegem só os nossos corpos, eles protegem também os nossos cérebros”, disse Waldigner.

A Amizade em Portugal

Focado nos efeitos das amizades online e offline o estudo português “Ter amigos faz bem à saúde. Mas será que os amigos do Facebook contam?”, do Centro de Investigação e Intervenção Social do ISCTE, publicado em 2015, permitiu concluir que: “Quem tem mais amigos, quem convive com os amigos com mais frequência e quem tem mais amigos (online ou offline) com quem falar de problemas íntimos apresenta mais saúde e bem-estar mais elevado”.

Depois de se entrevistarem 803 portugueses, de todo o país e de várias idades, as autoras do trabalho de investigação – Maria Luísa Lima, do Departamento de Psicologia Social e das Organizações, e Sibila Marques e Cristina Camilo, ambas do Departamento de Psicologia Social e das Organizações – concluíram que:

  • cerca de 50% considera ter mais de dez amigos;
  • mais de 60% diz nunca ou raramente se sentir só;
  • cerca de 70% acredita ter amigos para o/a ajudar em situações mais complicadas, como casos de doença por exemplo;
  • cerca de 50% se sente bem integrado socialmente.

“Nós não conseguimos existir individualmente de forma isolada, isso não é possível porque a nossa estrutura mental, psicológica, exige relação, exige estar com os outros. Não é possível existir sozinho, como humanos nós só existimos em grupo”, referiu José Garrucho. O convívio com os amigos, a entreajuda, o sentir que se pertence a um grupo e, consequentemente, o combate à solidão promovem a saúde física, a saúde mental, o bem-estar, o apoio social e a integração social.

No geral, o estudo apresenta reflete um panorama positivo, ainda que menos acentuado no sexo feminino: “As mulheres mostram ser mais seletivas relativamente à amizade. Uma vez que dizem ter menos amigos, mas mais amigos íntimos do que os homens, também se sentem mais sós e menos integradas socialmente, apesar de acharem que terão mais apoio numa situação de dificuldade”, lê-se no estudo.

Mas mais importante que o número de amizades é a qualidade delas. Os verdadeiros amigos são aqueles que estão presentes nos bons e nos maus momentos. E mesmo que o dinheiro possa resolver alguns problemas de saúde, a amizade continuará a ser a a melhor forma de os prevenir.

[Imagem de destaque: Shutterstock]

Millennials: só querem amigos coloridos