O que não deve mesmo dizer a quem perdeu um filho

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[Fotografia: Pexels]

Não saber o que dizer é, possivelmente, uma situação pela qual todos já passamos. Quando alguém que nos é próximo perde uma pessoa mesmo muito especial, a primeira reação é dar uma palavra de apoio. No entanto, se for mal escolhida pode fazer pior do que melhor a quem está a atravessar uma dor imensa como a perda de um filho.

O Delas.pt foi saber o que pode ser dito e o que deve mesmo ser evitado em circunstâncias limite como aquelas e procurar perceber quais as palavras mais indicadas. Os silêncios, sempre tão temidos, podem ser uma ajuda, por vezes são tão ou mais valiosos do que algumas palavras. Basta perguntar.

Perder um filho é perder um amor maior e é perder-se de si mesmo, é passar a existir com um buraco no coração e com muitas dúvidas sobre quem se é, que projeto de vida se vai abraçar, que legendas podem ser colocadas aos nossos dias”, descreve a psicóloga clínica Filipa Jardim da Silva. A especialista sublinha que “a partida de um filho, seja em condições mais abruptas e inesperadas, seja em condições de doença que se prolonga no tempo, é sempre um evento de difícil compreensão que ativa revolta, questionamento, culpa e tristeza, muita tristeza”.

Ora, é nessa dor associada a culpa e revolta imanentes que ficam, como condição humana, a recair grande parte dos sentimentos. E é exatamente nessa matéria que quem rodeia quem sofre pode ser um verdadeiro apoio no luto. “Quando um filho adoece ou quando um filho parte, há uma culpabilização violenta por parte dos próprios pais, que potencia uma autorresponsabilização pouco saudável. Esta culpa a par da zanga, que pode ser dirigida ao universo ou a alguém em particular, podem dificultar o processo de luto”, antecipa Filipa Jardim da Silva.

Uma “dor tão grande e pessoal”, como refere a psicóloga clínica, “que pode fazer com que todo e qualquer apoio seja sentido como pouco eficaz, porque mais ninguém compreende aquilo que se está a sentir”. Tal não significa, porém, desistência, mas requer seguramente compreensão: “É importante que a rede de suporte se mobilize, contudo que o faça com respeito”.

Para Filipa Jardim da Silva, estas são as três frases a abolir por completo:

– “Vai passar, o tempo cura tudo.”

– “Tu és forte, vais dar a volta a isto.”

– “A tua filha/ o teu filho quereria que continuasses com a tua vida.”

A psicóloga clínica sugere antes:

– “Lamento verdadeiramente a tua perda.”

– “Estou aqui para ti. Para ficar em silêncio ou para te dar um abraço, para ir ao supermercado comprar comida ou para te ouvir.”

– “A morte nunca vai apagar o teu filho. Continuará, de outra forma, entre nós.”

Na verdade, a perda de um filho, como prossegue a especialista em conversa por escrito ao Delas.pt, “é uma perda contranatura, pelo que será das mais (se não a mais) dolorosa que um ser humano pode experienciar. Quando nasce um filho nasce um pai e uma mãe pelo que a partir daí a parentalidade assume-se como um pilar da identidade daquele adulto”.

“Viver a perda de um filho implica um processo duro, muito duro, em que se reaprende a respirar com um buraco no coração. Uma inspiração e expiração de cada vez, um dia de cada vez. É possível voltar a sorrir mas sempre com uma nuvem no fundo do olhar”, conclui Filipa Jardim da Silva.