Tabaco e vagina? Bem sabemos que esta zona do corpo seria, possivelmente, a última em que pensaria ao falar do consumo de tabaco. Mas a verdade é que este vício prejudica o corpo todo, incluindo as zonas genitais. Em conversa com Sílvia Roque, especialista em ginecologia e obstetrícia, foi possível perceber como o cigarro pode afetar a saúde vaginal e, consequentemente, a vida sexual das mulheres.
E as razões para deixar de fumar, ou nem sequer começar a consumir a substância, são bem válidas – como mostra a galeria -, começando pelo facto de o tabagismo promover o aparecimento de infeções vaginais.
“O tabaco diminui o número de lactobacilos, que são bactérias de defesa presentes no organismo. São fundamentais para a flora vaginal, para produzir o ácido e manter o pH normal da vagina. Se não tivermos lactobacilos, a vagina não vai tem um pH ácido, levando ao aumento a predisposição para as infeções. A mulher pode começar a ter um corrimento, às vezes até com cheiro, um odor característico. Pode sentir que não cheira bem, mas não é por falta de lavagem, é mesmo porque há um desvio da flora e isso é considerado uma infeção, uma vaginose”, começa por explicar a especialista.
Há ainda um outro problema ao nível da lubrificação. Além do muco normal de uma vagina saudável, também a lubrificação que facilita as relações sexuais pode ficar comprometida. Porquê? “A própria nicotina faz vasoconstrição, ou seja, a diminuição do fluxo sanguíneo presente em qualquer órgão. Ora, essa mesma vasoconstrição vai diminuir a produção de secreção por parte das glândulas aí existentes, originando secura vaginal e diminuição de lubrificação”. Deste modo, a saúde vaginal torna-se mais vulnerável e as relações sexuais podem ser dolorosas.
E durante a gestação? Mesmo que a mulher pare de fumar durante a gravidez, Sílvia Roque alerta que os vasos sanguíneos já não estarão nas mesmas condições, dada a vasoconstrição. E continuar a fumar durante a gravidez é bem pior: “Haverá diminuição de sangue a atravessar na placenta, o que poderá fazer com que o bebé não cresça tanto, promovendo uma desaceleração do crescimento do feto. Muitas vezes, pode levar a uma alimentação deficiente do bebé e há, ainda, a existência de períodos de não irrigação de porte de oxigénio”.
Também na hora do parto, podem surgir complicações. Uma vagina mais seca torna-se menos elástica, o que dificulta o parto normal. Além disso, “bebés mais pequenos são pouco resistentes ao trabalho de parto e podem entrar em sofrimento. Há muitas contrações e eles podem não suportar e obrigar a fazer-se uma cesariana de urgência. Pode acontecer, porque normalmente são bebés mais pequenos, mal alimentados, menos resistentes e que, muitas vezes, não aguentam um trabalho de parto prolongado”, justifica Sílvia Roque.
Mulheres portuguesas fumam cada vez mais
Uma em cada dez mulheres portuguesas é fumadora, um número que é crescente, aponta o Relatório do Programa Nacional para Prevenção e Controlo do Tabagismo 2017, da Direção-Geral de Saúde.
Enquanto em 2012 o consumo de tabaco no sexo feminino estava nos 18%, em 2016/2017 subiu para 24,8%. Além disso, o relatório indica que 9,7% das mulheres afirmou ter fumado na última gravidez.
Quanto ao abandono do tabaco, “o consumo diário diminuiu nos homens e aumentou ligeiramente nas mulheres”. O mesmo documento refere que,”em 2014, cerca de uma em cada cinco residentes em Portugal, com 15 ou mais anos, tinha deixado de fumar (21,7%). Destes, 31,8% eram homens e 12,9% eram mulheres”.
Percorra a galeria de imagens acima para conhecer os malefícios que o tabaco pode trazer à vagina.
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Mulheres estão a consumir mais álcool, tabaco e cannabis. E não só!