De Scully a deusa: o renascer da carreira de Gillian Anderson

Gillian Anderson
Gillian Anderson

2016 é o ano de Gillian Anderson. Depois de ter voltado a reencarnar a detetive do FBI Dana Scully, na décima temporada da série ‘Ficheiros Secretos’, a atriz prepara-se para continuar no pequeno ecrã ao longo dos próximos meses. Anderson acaba de ser confirmada como uma das protagonistas da série ‘American Gods’, do canal norte-americano Starz.

A trama, adaptada do best-seller homónimo de Neil Gaiman, parte da premissa de uma luta por fiéis entre os deuses da mitologia antiga e os ídolos da modernidade, os Novos Deuses. Gillian Anderson interpretará o papel de Media, que, na obra de Gaiman, é a deusa da televisão e que surge na forma de Lucy Ricardo, a protagonista da série de comédia da década de 1950 ‘I Love Lucy’.

E se ‘American Gods’ só chega ao pequeno ecrã em 2017, a agenda de Gillian Anderson para este ano avizinha-se preenchida. Depois de ter encarnado Anna Pavlovna Scherer na adaptação televisiva da BBC do clássico de Tolstoi ‘Guerra e Paz’ (exibida no Reino Unido em janeiro), Anderson terminou em março passado as gravações da terceira temporada de ‘The Fall’ (série que coprotagoniza com Jamie Dornan, o galã da saga ‘As Cinquenta Sombras de Grey’), que deverá ser exibida no outono. Simultaneamente, está em cena no St. Ann’s Warehouse, em Nova Iorque, a interpretar Blanche DuBois, a protagonista da peça de Tennesse Williams ‘Um Elétrico Chamado Desejo’ e terminou, também recentemente, as filmagens da longa-metragem ‘Viceroy’s House’.

Gillian Anderson
David Duchovny e Anderson, juntos na apresentação do regresso de ‘Ficheiros Secretos’, em janeiro passado (foto: David McNew / Reuters)

O regresso de ‘Ficheiros Secretos’ parece ter aberto as portas para uma nova era na carreira da atriz de 47 anos, nascida em Chicago, Illinois. Uma segurança renovada no percurso profissional de uma mulher que, na adolescência, foi punk, consumiu drogas e até foi detida na cerimónia de formatura do liceu por distúrbios.

Feminista assumida, Anderson admitiu recentemente que gostaria de ser a primeira agente 007. E fê-lo da maneira mais atual possível, partilhando no Twitter uma montagem fotográfica, onde surge com o icónico fundo da mira das aberturas dos filmes da saga James Bond, juntamente com a hashtag #nextBond (“o próximo Bond”).

A intenção coloca-a lado a lado com nomes como Idris Elba, Damian Lewis e Tom Hiddleston, todos candidatos ao lugar deixado vago na semana passada por Daniel Craig, que recusou uma proposta milionária para voltar a interpretar o agente secreto.

Apesar de ter nascido nos Estados Unidos, Gillian Anderson viveu vários anos em Inglaterra. Nas entrevistas que dá, entre media norte-americanos e britânicos, é frequente a referência ao seu bidialetalismo (característica daquele que fala fluentemente dois dialetos de uma língua): na prática, a atriz consegue falar fluentemente com sotaque norte-americano e britânico. Uma benesse para a sua carreira, dando-lhe uma versatilidade rara, mas que, na adolescência, lhe valia ser alvo de constante bullying.

E foi exatamente em Londres que em 2002, após o final da nona temporada de ‘Ficheiros Secretos’, Anderson encontrou o caminho para fazer o luto da série. Apostou no teatro, nas séries de época e, lentamente, ano após ano, conquistou o seu lugar nos palcos, o que já lhe valeu uma série de nomeações.

Um dos lados menos conhecidos de Gillian Anderson é o de escritora. A atriz é a autora da trilogia de ficção científica ‘The Earthend Saga’, em parceira com Jeff Rovin, e em 2017 vai lançar um livro de autoajuda para o público feminino. ‘WE: A Manifesto for Women Everywhere’ (em português, “Um Manifesto para Todas as Mulheres”) é, segundo Anderson, “uma chamada de atenção para as mulheres de todo o mundo”. “E, quando digo mulheres, incluo raparigas, transgénero, todos os que se identificam como sendo intrinsecamente femininos.”

Vencedora de um Emmy e de um Globo de Ouro, além de várias nomeações pelo seu trabalho em televisão e teatro, a Dana Scully de ‘Ficheiros Secretos’ promete não desaparecer tão cedo da mira dos telespectadores.