O reparo que Janja sempre faz a Lula da Silva e as primeiras-damas que a inspiram

Brazilian President-Elect Luiz Inacio Lula da Silva visits Portugal
Rosângela Silva, futura primeira-dama do Brasil [Fotografia: EPA/MANUEL DE ALMEIDA]

Rosângela da Silva, conhecida como Janja da Silva, quebrou o silêncio e, após a vitória de Lula da Silva nas Presidenciais do Brasil, deu uma entrevista onde falou da vida ao lado do recém-eleito presidente e dos objetivos que a própria tem assim que a pasta for assumida.

Uma conversa longa e franca, dias antes de Janja e Lula estarem em Portugal – onde se encontram este sábado, 19 de novembro – e na qual trouxe luz a prioridades, mas não só.

Rosângela da Silva, Lula da Silva, António Costa e Fátima
[Fotografia: EPA/MANUEL DE ALMEIDA]

Revelou o reparo que faz muitas vezes a Lula: “Ele refere-se sempre à esposa do [Fernando] Haddad [eleito governador de São Paulo pelo PT] como ‘a esposa do Haddad’ e eu digo sempre ‘Ana Estela, o nome dela é Ana Estela’. Ela não é só esposa. Não que ele faça por mal. Não lhe puxo as orelhas, sento-me a conversar”. Feminista assumida, confessa que fala com o marido sobre várias questões fraturantes, mostrando-lhe “outros prismas”.

Rosângela explicou também na entrevista como vai dar um novo significado ao papel de primeira-dama no Brasil, e vai trazer para cima da mesa “alguns temas importantes para as mulheres, para as pessoas, para as famílias de modo geral.” Assumiu, assim, um compromisso com o país: lutar contra a violência doméstica, o racismo e a insegurança alimentar, três das seis causas já antecipadas em tempo de campanha eleitoral. “Sou uma sonhadora que pensa coisas importantes para o mundo e agora tenho a possibilidade de talvez contribuir para algumas dessas mudanças para o Brasil e para o mundo”, afirmou.

Sobre a violência doméstica, mostrou-se preocupada com o aumento do feminicídio durante a pandemia e disse querer “atuar bastante nisso e ter essa discussão com a sociedade”. A petista assumiu ainda como compromisso “não só a alimentação saudável, mas garantir a alimentação”. Janja chegou a dizer em abril que “a cara da fome no Brasil é a cara das mulheres”.

Mostra-se defensora da causa antirracista, acreditando que o racismo é algo “que não podemos admitir mais na sociedade”. Também sobre isso diz estar a aprender muito em conjunto com o futuro presidente “fazemos muitas reflexões juntos”.

Militante histórica do Partido Trabalhista (PT), Janja era integrante do partido muito antes de conhecer Lula: filiou-se em 1983, com 17 anos, e mais tarde trabalhou na liderança do partido na Assembleia Legislativa do Paraná.

Quando questionada sobre o que pensa da evolução do PT nos últimos anos, a futura primeira-dama salientou que o mesmo se tem transformado, tendo “mais representatividade feminina, negra e indígena nas instâncias do partido”. Apesar de ter sido acusada de ser “omnipresente” durante a campanha do marido, afirma que vai continuar ao lado de Lula, contribuindo no que puder. Afirma, principalmente, querer atuar “na consolidação de políticas públicas importantes para a sociedade brasileira”.

Janja citou Michelle Obama, dos Estados Unidos da América, e Eva Perón (Evita), da Argentina, como primeiras-damas que vê como exemplos para o seu novo papel. Acredita que o maior desafio do novo governo brasileiro será “reacender a chama da solidariedade numa parcela da sociedade brasileira em que esta parece estar apagada”.