Emily Blunt fala do filme de terror que protagoniza: ‘A Quiet Place’

O filme que abriu o festival de cinema do South by Southwest é um tipo de terror diferente e mostra interpretações poderosas de Emily Blunt e a atriz surda Millicent Simmonds

As cenas mais aterradoras do filme A Quiet Place são vividas em completo silêncio. A premissa do filme, que foi escolhido para abrir o festival de cinema do South by Southwest em Austin, Texas, é a de uma família que tem de viver em silêncio absoluto para sobreviver. Emily Blunt protagoniza um filme que apresenta um terror diferente, pouco sangrento e sem loucos mascarados de motosserra na mão. Mas isso não significa que a audiência não se veja constantemente sobressaltada, a morder os lábios e a levar as mãos à cabeça. Para Emily Blunt, que foi uma bêbeda sombria em A Rapariga no Comboio, esta foi também a primeira vez que trabalhou com o marido, John Krasinski, que realizou o filme.

Emily Blunt, na estreia do filme, em Austin, Texas, EUA

Estávamos um pouco aterrorizados na noite anterior à minha primeira cena”, confessou a atriz, na sessão de perguntas e respostas que se seguiu à estreia mundial do filme no festival SXSW, nos EUA. O casal, que está junto há quase uma década, tinha tido a segunda filha há pouco tempo quando o projeto começou a ser desenhado. É por isso que a personagem de Emily Blunt vai aparecer grávida e todo esse processo é um pilar da viagem infernal deste filme, que consegue aterrorizar sem as ferramentas comuns – como a banda sonora enervante e as mortes grotescas.

“Tínhamos ouvido sobre as experiências um do outro sempre em segunda mão”, disse Blunt. “Não sabíamos como é que os nossos processos se iriam alinhar.” Os nervos também se deviam ao facto de John Krasinski, que o público conhece da série cómica The Office, nunca ter realizado um filme e não ser conhecido pela experiência no género de terror. Emily Blunt explicou que ambos estavam nervosos com a ideia de trabalharem juntos e não sabiam se iam conseguir oferecer a mesma diplomacia que teriam com outros atores ou realizadores.

Blunt e Krasinski conseguiram passar para o grande ecrã a química que têm como casal, interpretando a mãe e o pai de três crianças, que tentam proteger neste mundo em que o silêncio é a única salvação. Blunt emerge como uma heroína torturada numa interpretação poderosa e praticamente sem diálogo. Esse é, aliás, um elemento desconcertante de A Quiet Place. As cenas apoiam-se na capacidade destes atores de se expressarem fisicamente, conversando uns com os outros por linguagem gestual (até porque a jovem atriz Millicent Simmonds é surda) e com formas de comunicação não verbais. O som, quando chega, quase fere a sensibilidade do espetador, que só lá para meio do filme ouve as vozes das personagens pela primeira vez.

O elenco de A Quiet Place na estreia mundial, no festival SXSW

Por isso mesmo, nunca se chega a saber como se chamam qualquer um dos membros da família, apesar de terem nomes no guião. “Foi uma pequena decisão que se tornou poderosa, porque queríamos que se sentissem parte desta família em vez de identificar cada um”, explicou Krasinski na estreia. A mensagem subjacente é de que a família é o mais importante da vida, mesmo que não seja de sangue, e que se as pessoas se apoiarem umas nas outras poderão sobreviver a tudo. “O medo advém de quanto gostamos desta família e não de táticas para assustar”, explicou Krasinski, que disse ter ficado fascinado com o talento da mulher em estúdio.

A experiência acabou por superar as expectativas, disse Blunt. “Foi incrível trabalhar com ele e perceber quão alinhados estamos em termos criativos e quanto nos valorizamos um ao outro num sentido diferente, fora do nosso casamento.”

A Quiet Place tem estreia mundial a 6 de abril e é protagonizado por Emily Blunt, John Krasinski, Millicent Simmonds e Noah Jupe.

Ana Rita Guerra, em Austin