Oceanos. Alertas e palavras a ter na ponta da língua em tempo de Conferência em Lisboa

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[Fotografia: Lucien Wanda/Pexels]

Lisboa recebe entre 27 de junho e 1 de julho a segunda Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, que pretende procurar soluções para os problemas do ecossistema que cobre mais de 70% da superfície da Terra.

Ao longo dos cinco dias irá falar-se de temas como acidificação, anoxia, sobrepesca ou economia azul, entre muitos outros. Palavras que podem parecer estranhas, mas que pode ficar agora a conhecer o seu verdadeiro significado e ficar a saber ao detalhe o que está a ser discutido e o que tem de mudar no mundo urgentemente para salvar os oceanos da poluição, do aquecimento global.

Acidificação: Baixa do pH (indicador de acidez, neutralidade ou alcalinidade) da água do mar devido ao aumento da concentração de dióxido de carbono dissolvido, potenciado pelas atividades humanas.

O dióxido de carbono produzido pelos humanos e lançado para a atmosfera também se dissolve na água do mar e torna-a mais ácida, causando desequilíbrios a dificuldade de formação de conchas e carapaças calcárias por moluscos e crustáceos.

Desde a primeira revolução industrial, a acidez dos oceanos aumentou 30%.

Anoxia e Hipoxia, ou Desoxigenação oceânica: A hipoxia é a redução do nível de oxigénio no mar, atribuída às alterações climáticas, poluição e aumento dos níveis de dióxido de carbono nas águas. A anoxia é a ausência total de oxigénio, causando ‘zonas mortas’.

Estudos indicam que dentro de 60 anos cerca de 70% dos oceanos podem ter falta de oxigénio, o que irá afetar a vida marinha e levar à extinção de muitas espécies. A União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) alertou há dois anos para o problema, provocado pelas alterações climáticas e pela poluição por nutrientes, e disse que havia 700 locais no oceano com falta de oxigénio, muito mais do que os 45 locais registados na década de 1960.

Cientistas dizem que a anoxia pode ser um dos impactos mais graves das alterações climáticas nos oceanos. Se as grandes correntes oceânicas diminuírem de intensidade a água fica mais parada, favorecendo a reprodução em larga escala de organismos como o plâncton, e havendo um aumento da biomassa há um decréscimo do oxigénio, levando ao aumento de zonas mortas.

Branqueamento de Corais: Processo pelo qual algas microscópicas que vivem em simbiose com os corais são expelidas devido ao aumento da temperatura da água associado ao aquecimento global e que muitas vezes leva à morte dos corais, que perdem a cor. Os recifes de coral são ecossistemas muito ricos e fundamentais para muitas espécies.

Circulação termoalina: Circulação oceânica global constituída por grandes correntes oceânicas e gerada por diferenças de densidade da água, que ocorrem devido a variações de temperatura e de salinidade. A circulação termoalina transporta água mas também calor, oxigénio e nutrientes e é responsável, por exemplo, pelo clima temperado na maior parte da Europa.

Os cientistas têm alertado que o aquecimento global pode, a longo prazo, fazer cessar a circulação termoalina, essencial para a vida no planeta, através de fatores como o derretimento das calotes polares, que pode alterar a salinidade dos oceanos. Um estudo publicado na revista Nature indicou que o fluxo da circulação termoalina diminuiu 30% desde 1950. Os cientistas notam que uma interrupção da circulação termoalina levaria à extinção da vida no planeta.

Degelo das calotes polares: Derretimento das camadas de gelo das regiões polares acelerado pelo aquecimento global, um fenómeno que se acentua em cada ano. O gelo da Gronelândia e da Antártida está a derreter seis vezes mais depressa na atualidade do que há 30 anos. Provoca o aumento do nível médio do mar e destrói habitats.

Economia Azul: Atividades económicas que exploram os recursos ligados ao mar, mas de forma sustentável.

El Niño e La Niña: Fenómenos climáticos de variação de temperatura da superfície do oceano Pacífico que por norma acontecem com intervalos que variam entre dois e sete anos e que têm repercussões em todo o planeta, afetando os ciclos globais das chuvas. O El Niño dá-se quando há um aquecimento acentuado das águas superficiais do Pacífico Equatorial, devido ao enfraquecimento dos ventos alísios. O La Niña consiste no arrefecimento acentuado dessas mesmas águas.

Energia dos oceanos: Energia elétrica gerada pelo movimento dos oceanos, através das marés (maremotriz) ou das ondas (ondomotriz). É limpa porque não emite gases poluentes e é renovável e constante.

Eutrofização: Resultado do enriquecimento excessivo das águas com nutrientes ou matéria orgânica, proveniente especialmente de atividades como a agricultura, aquicultura, indústria e esgotos de cidades. Provoca a multiplicação excessiva de algas e bactérias, que fazem baixar o nível de oxigénio dissolvido, colocando em risco a sobrevivência de peixes e outros organismos marinhos.

Mineração submarina: Exploração mineira no mar, à semelhança do que se faz em terra. Requer diferentes tecnologias e é mais dispendiosa mas mesmo assim já está a ser feita, dada a grande quantidade de minerais e metais preciosos que se encontram em mar profundo. Apesar de ser uma indústria ainda no começo têm surgido diversos alertas de cientistas e preocupações sobre o impacto nos ecossistemas e habitats sujeitos à mineração em mar profundo.

Plásticos e microplásticos: A poluição por plástico é um dos maiores problemas para os oceanos. Em cada ano são despejados no mar mais de oito milhões de toneladas de lixo plástico, um material que não se degrada durante centenas de anos mas que se fragmenta em pequenas partículas igualmente prejudiciais, os microplásticos.

O plástico funciona como armadilha para os peixes, por exemplo restos de redes, é muitas vezes confundido com alimentos, e espalha-se por toda a parte devido às correntes marinhas. Estima-se que em 2050 os oceanos contenham mais toneladas de plástico do que de peixe.

Salinidade: É a proporção de sal dissolvido na água, variando em função de vários fatores, como a evaporação ou a quantidade de água doce que se mistura (rios a desaguar ou degelo, por exemplo). A salinidade média dos oceanos é de 35 gramas de sal por quilo de água. Face à escassez de água potável há também uma grande aposta na dessalinização, processo que consiste em retirar o sal da água do mar usando processo físicos e químicos.

Subida do nível do mar: Fenómeno decorrente das alterações climáticas. Acontece especialmente devido ao derretimento de glaciares e das calotes polares. O nível dos oceanos está a subir em média três a quatro milímetros por ano e há estudos que indicam que essa média está a aumentar. Até 2050 os oceanos e mares poderão subir 30 centímetros e entre 53 e 70 centímetros até 2100.

Tratado Global dos Oceanos: Projeto de acordo mundial para garantir que 30% dos mares sejam protegidos até 2030 que está a ser negociado, podendo ser concluído em Lisboa. Seria um instrumento para proteger as águas que não fazem parte das responsabilidades de países.

LUSA