“O número absoluto de homicídios de mulheres não variou em relação ao ano passado, foram 25, o contexto é que muda: este ano e até 15 de novembro foram registados 20 femicídios, mais cinco do que no ano passado”. O alerta é feito por Cátia Pontedeira à Delas.pt no dia em que o Observatório das Mulheres Assassinadas (OMA) da União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) apresentou os dados preliminares relativamente à violência contra as mulheres, tendo por base as notícias publicadas na imprensa nacional.
Para esta responsável do relatório, está em causa a “questão de género, em situações que, em alguns casos, já havia violência doméstica prévia reportada”, por isso, “mais uma vez, a UMAR alerta para a necessidade de prevenção das vítimas porque o perigo já não está apenas dentro da intimidade”, afirma a também investigadora.
O documento da OMA traz ainda luz sobre o aumento de tentativas de homicídios de mulheres em 2024 e face ao ano passado, quase em dobro. “Em 2023, foram 38 e este ano já temos 53 tentativas de assassinato”, das quais 30 por femicídio. Ou seja, intenções de “matar as mulheres porque elas são mulheres, em contexto de situações de violência de género ou por questões de género”, explicou a investigadora Frederica Armada, durante a a apresentação dos dados, que teve lugar esta quarta-feira, 20 de novembro, na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto.
“Estas 30 tentativas de assassínio em conjunto com as 20 mulheres que foram assassinadas por femicídio, estamos a falar, em 2024, de um total de 50 mulheres só nos primeiros 11 meses do ano, que sofreram atentados à sua vida, atentados ao seu bem-estar, motivadas por questões relacionadas com o género”, salientou Frederica Armada.
Os dados revelam também que a maioria das vítimas tinha mais de 36 anos, 12 delas estavam empregadas, quatro eram reformadas e das 20 vítimas de femicídio, 14 delas tinham filhos ou filhas, e pelo menos em seis casos, os filhos eram menores de idade.
Quanto ao crime, 12 casos ocorreram na residência conjunta do agressor e da vítima e cinco casos ocorreram na via pública. Os meios mais utilizados este ano foram as armas de fogo ou armas brancas, mas há também outros casos em que foram usados objetos contundentes ou outros métodos.
Formação mais especializada, olhar crítico
e trabalho dos profissionais de saúde
Cátia Ponteira lembra que “é importante reiterar que não podemos continuar enquanto as estratégias de prevenção estiverem pelos limiares mínimos do que é admissível. Os agentes da estação local ou da GNR ou da PSP têm formação em violência doméstica e isso está assegurado, mas temos de dar o passo para ir além dos mínimos”. Para a investigadora, urge “formação mais especializada para as pessoas envolvidas nos processos como juízes, ter um olhar mais crítico e especializado, precisamos de dar esse passo em frente de forma holística e compreensiva para se ser eficaz”. Um trabalho que deve incluir “profissionais de saúde”. “Precisamos que os que estão a trabalhar em urgências consigam, pelo menos, sinalizar, encaminhar a vítima, fazer recolha de provas”, convocando “médicos e enfermeiros”, indica a investigadora à Delas.pt.