Serão 118 mulheres em pobreza extrema por cada 100 homens em 2021

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[Fotografia: Elisa Ventur/Unsplash]

Cerca de 47 milhões de mulheres em todo o mundo caminham para a pobreza extrema, alertou a vice-diretora executiva da ONU Mulheres, Anita Bhatia, durante sua primeira missão internacional desde o início da pandemia de covid-19.

Recorde-se que os estudos recentes das Nações Unidas vincavam que a emergência de saúde pública mundial estava a introduzir ainda mais clivagens nos direitos entre géneros e a apontar para o facto de, em 2021, por cada 100 homens entre 25 e 34 anos a viver em extrema pobreza iriam existir 118 mulheres. Até 2030, a diferença deverá aumentar para 121 mulheres por 100 homens.

Projeções no vermelho que indicavam que, antes da pandemia, esperava-se que a taxa de pobreza das mulheres diminuísse 2,7% entre 2019 e 2021, mas as perspetivas apontam para um aumento de 9,1%.

A também subsecretária-geral das Nações Unidas admitiu grande preocupação com o facto de ter “havido um forte impacto na vida das mulheres, nos seus rendimentos, na sua saúde e na sua segurança”, disse e entrevista à agência EFE.

Na sua primeira visita oficial depois de quase 18 meses, a líder da ONU Mulheres escolheu o Equador para tomar o pulso ao novo Governo de Guillermo Lasso, que tomou posse em 24 de maio, no qual reconhece um “claro compromisso com questões importantes: género, igualdade e empoderamento das mulheres”.

Anita Bhatia considerou “devastadora” a perda de rendimentos das mulheres, devido à pandemia ter tido um forte impacto nos setores onde estas mais trabalham, advertindo que “há quase 47 milhões a mais de mulheres no mundo que vão entrar em estado de extrema pobreza”.

A violência é outra das questões desencadeadas pela pandemia de covid-19 e que levou o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, a alertar que está a ocorrer uma “pandemia das sombras”, que deve ser combatida, “como qualquer outra batalha, porque os números realmente não são aceitáveis”.

Entre as diferentes frentes da luta pelos direitos das mulheres, Bhatia alerta para a ameaça da exclusão escolar em tempo de crise na saúde, afirmando que, no ano passado perderam-se “11 milhões de meninas do sistema de educação formal no mundo”, indicador que significa que “uma geração inteira não vai terminar os estudos”.

“O mais importante é saber que num ano perdemos 10 anos de progresso em alguns casos, noutros 25 anos, e precisamos que a questão seja reconhecida e que tomemos medidas extraordinárias, porque se continuarmos como até aqui não teremos como mudar esses números “, disse.

Durante a sua permanência no país andino, que hoje termina, Anita Bhatia reuniu-se com o presidente equatoriano e manteve encontros bilaterais com o chanceler Mauricio Montalvo e vários membros do Governo.

O Equador está entre os países da região latino-americana com mais casos de gravidez infantil ou de normalização da violência sexista, segundo a ONU Mulheres, que pretende apoiar o Governo na capacitação e assistência técnica para combater tais flagelos.

No país, 65 em cada 100 mulheres entre os 15 e 49 anos já sofreram algum tipo de violência, números que, segundo a EFE, Anita Bhatia acredita que podem ser mudados, devendo para isso o Governo assumir um discurso de que tal não é aceitável, assumindo também responsabilidade nas mudanças.

Na sexta-feira a mesma responsável visitou a “Casa da Mulher”, um abrigo para vítimas de violência de género e para os seus filhos, onde defendeu como “muito importante que os governos da região tenham o género, a igualdade, os direitos humanos e o empoderamento da mulher como algo fundamental” nas suas agendas políticas.

Durante a visita abordou, com a nova administração do Equador, propostas de inovação financeira sem precedentes e propôs-se compartilhar experiências e boas práticas de outros países, como a Índia, que para combater a chamada pobreza menstrual disponibiliza produtos de higiene para mulheres a preços módicos.

CB com Lusa